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DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

sempre, que ainda hoje manifesto, e que manifestei pela imprensa em artigos que ainda hoje me honro de ter escripto e que não renego, inhibiam-me completamente de proferir uma phrase que fosse testemunho de menos consideração para com s. ex.ª

Creio que esta explicação indica que s. ex.ª se póde convencer de que eu não podia proferir uma phrase que o magoasse, e se a proferi foi involuntariamente.

O sr. Presidente do Conselho de Ministros: — Apoiado.

O Orador: — As palavras extremamente benevolas, e tão benevolas que podem chegar a ser injustas, com que o sr. presidente do conselho tratou as minhas pobres faculdades, forçam-me a procurar para ellas uma explicação que encontro talvez em duas causas: a primeira na indulgencia caracteristica dos talentos superiores que é incontestavel em s. ex.ª; e a segunda na extrema delicadeza com que pretendeu dourar a pilula que tencionava depois ministrar-me.

Effectivamente, o sr. presidente do conselho com as formas cortezes, que tem sempre o habito de usar, dirigiu-me uma accusação pela posição pouco harmonica que, no seu entender, tenho agora, com relação á minha posição nas sessões passadas.

Quando entrei na politica entendi que escravisava a minha consciencia a principios e não a homens. (Muitos apoiados.)

Eu entrei na politica para sustentar um certo numero de principios, para defender um programma, para confessar um credo, e este credo e este programma tinham sido para mim os do partido regenerador.

Eu estou ainda na mesma posição, elle é que não está. (Apoiados.) Eu sigo ainda a mesma bandeira que seguia então, elle é que a desamparou, e ainda hontem nos deu um exemplo d'esta deserção. (Apoiados.) Não fui eu que desertei, não fui eu quem rasguei o programma, foi o governo que desertou e que renegou os principios que tinha apresentado, e que eram a conservação d'este credo e d'esta bandeira. (Apoiados.)

O sr. presidente do conselho censurou-me por eu não ter admittido á discussão os projectos de reforma da carta dos partidos opposicionistas, logo que se admittiu a discussão do projecto regenerador.

Em primeiro logar entendi que ninguem podia impedir os partidos opposicionistas, logo que fosse aberta a discussão, de apresentar as suas idéas sobre a reforma da carta; e em segundo logar eu cumpria então os deveres de disciplina partidaria, que sempre cumpri fielmente, emquanto entendi que a minha consciencia se não devia revoltar contra elles.

O sr. presidente do conselho censurou me por eu não ter insistido com elle nos annos anteriores para a renovação da iniciativa da sua proposta de reforma da carta constitucional, e só este anno me lembrar de o fazer. A rasão é simples; foi porque em 1876 chegou exactamente a epocha que o sr. Fontes apresentava como propicia para a reforma da carta; porque em 1873, no anno seguinte aquelle em que se apresentou aqui o projecto da reforma da carta, rebentava a revolução republicana em Hespanha, e o sr. Fontes disse, até certo ponto com rasão e justiça, que não era esse o momento proprio para agitar o paiz com reformas na constituição; porque em 1874 havia o golpe de estado de Pavia, no mesmo momento em que se abriam aqui as côrtes e por consequencia entrava a Hespanha em um novo periodo de agitação; porque em 1875 estabelecia-se a monarchia de Affonso XII e ninguem sabia que resultado poderia ter essa nova revolução, e todos nós sabemos quanto os movimentos revolucionarios em Hespanha se repercutem no nosso paiz.

Em 1876 não succede assim. A Hespanha vae tranquillamente eleger as suas côrtes, e a Europa entrou em um periodo de tranquillidade mais ou menos duradoura, mas Sessão de 18 de janeiro

que por agora é completa; logo chegou esse momento de tranquillidade, que o sr. Fontes julgou ser o opportuno para se poder revêr a constituição, e dar-se-ia um grande exemplo ao mundo se efectivamente se fizesse essa revisão. Mas o sr. presidente do conselho entrou em um campo de recriminações pessoaes em que me parece não ser justo nem prudente que entrasse.

Eu, por dever de jornalista e por dever de homem de letras, conheço um pouco a historia politica e litteraria dos ultimos vinte annos.

Conheço-a e sou profundo admirador do talento litterario do sr. Antonio de Serpa, e por isso digo que o sr. Fontes não devia lançar recriminações a ninguem d'esta casa quando está sentado ao lado do sr. Serpa que em 1857 censurava, com a amargura que eu nunca empregaria por muito afastado que estivesse do sr. presidente do conselho, todos os seus actos de ministro quando o accordo de Londres, que era applaudido pelo sr. visconde de Arriaga, merecia do sr. Serpa, actual ministro da fazenda, a accusação de charlatanismo.

Não é no momento em que s. ex.ª está sentado ao lado dos srs. Serpa e Sampaio, d'esses dois inimigos politicos e irreconciliáveis, ao lado do sr. Serpa, que n'um dos seus artigos humorísticos mais notaveis collocava o sr. Sampaio n'uma posição em que realmente era injusto collocar o grande jornalista; não é no momento em que está sentado ao lado d'esses dois ministros que o sr. presidente do conselho póde lançar recriminações a ninguem; não é no momento em que e3tá sentado ao lado do sr. Barjona, antigo deputado historico que estreiou a sua carreira parlamentar em 1865 com um discurso vigorosíssimo contra o sr. Fontes; não é n'esse momento que o sr. presidente do conselho póde lançar a accusação de contradicção a pessoa alguma. É necessario mais cautela quando se tem presentes todas estas accusações, quando se tem presente a historia d'estes ultimos periodos.

Afastei-me do partido regenerador, que se dizia progressista, no momento em que elle affirmou completamente as suas tendencias conservadoras; e8sas tendencias que vimos hontem applaudidas pelo sr. Manuel d'Assumpção, que fez a apologia do partido conservador, ao mesmo tempo que o sr. presidente do conselho declarava que o partido regenerador era cada vez mais progressista. Progressista porque? Porque tem desenvolvido immensamente a riqueza material do paiz, porque tem aberto caminhos de ferro?

Eu não contesto de maneira alguma á vantagem de se abrirem caminhos de ferro, antes folgo, applaudo, quero e desejo que elles se façam, desejo que se desenvolva o mais possivel a riqueza material do paiz, desejo que se abram caminhos de ferro que conduzam a todas as extremidades do paiz a civilisação e a riqueza; não quero de fórma alguma antepor á prosperidade e riqueza de Athenas o caldo negro de Sparta. Approvo o progresso material, mas é necessario que elle caminhe de braços enlaçados com o progresso moral, porque quando o progresso material vae desallumiado d'essa luz serena e branda, não é senão uma ficção, uma mentira e um perigo; porque quando o progresso material não caminha enlaçado com o progresso moral, o progressista chama-se Napoleão III, e o paiz aonde elle se desenvolve chama-se o segundo imperio, esse segundo imperio que escorregou na lama antes de desabar em Sedan. As nações em que o progresso material caminha de braços entrelaçados com o progresso moral cha-mam-S3 a Belgica, e são o modelo das monarchias, chamam-se a Suissa, e são o modelo das republicas.

Houve um momento na historia do mundo, em que o progresso material e o progresso moral caminharam ambos, mas divergentes, isolados, quasi desconhecendo-se: foi nos primeiros tempos do imperio romano.

Então, em cima, á luz do sol, nas margens do Tibre Augusto transformava a cidade de tijolos que recebêra da