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70 DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

sido posto de parte por todos os governos, que se teem sentado n'aquellas cadeiras.
A um e um, e successivamente, teem elles demonstrado que consideram o parlamentarismo em Portugal como verdadeira ficção.
Querem um exemplo frisante, actual, manifesto?
São passados apenas alguns dias sobre esta questão, talvez a mais grave na nossa historia parlamentar; discutiu-se apenas o assumpto na camara dos dignos pares; ventilou-se ligeiramente na camara dos deputados. Tres dias são decorridos, o paiz está em sobresalto, agita se com violencia a opinião... pois estão vasios os bancos dos ministros!
O ministro mais novo, não o menos talentoso, assiste, apenas, a esta sessão; os outros ministros, os mais experientes, o dos negocios estrangeiros, o mais importante n'este momento angustioso, quando pesa grave crise sobre o paiz, estão ausentes, occupados (quem sabe?) a esta hora em resolver a difficil questão de nomear governadores civis para os differentes districtos do paiz.
Eis o que havemos feito do parlamentarismo! Eis como educâmos e dirigimos a opinião publica!
Ah! sr. Julio de Vilhena! Quando a voz eloquente de v. exa. se levantou ha dias, n'esta casa, e, com amargura, essencialmente pratiotica, v. exa. lembrou de que outrora havia appellado para o paiz, para estabelecermos na nossa Africa as estações civilisadoras e a sua voz, quasi prophetica, não tinha encontrado echo, v. exa. foi o verdadeiro patriota, porque o patriotismo não se manifesta por simples phrases.
Não é patriota quem não falia, em qualquer circumstancia, a verdade ao paiz; não é estadista quem sobre os negocios não possuo um plano grave e meditado, quem não segue pertinazmente esse plano, na idéa do prever futuras difficuldades nacionaes ou internacionaes, e que, dia a dia, momento a momento, não emprega esforços para evitar complicações que, uma vez realisadas, são difficilimas de superar. (Apoiados.)
Não sei se estou de accordo com o illustre deputado na sua politica colonial, mas é certo que as suas estações civilisadoras, como s. exa. as pensou, se se realisassem, nós tinhamos n'ellas argumento mais valioso, embora valiosos sejam ainda os que temos, para affirmar a nossa soberania na parte da Africa, aonde a Inglaterra nol-a contesta!
O paiz não respondeu ao seu appello! Porque? Porque foi imprevidente. O previdente era o illustre deputado; o patriota foi s. exa., dizendo-lhe hoje a sua falta, para que outras e outras se evitem.
Não condemno por fórma alguma as manifestações de um sentimento sincero e digno. Qualquer que seja a manifestação de uma idéa, de um sentimento, quando é justa a idéa, quando é verdadeiro o sentimento, para mim é sempre respeitavel.
Aos homens publicos, aos estadistas, áquelles que, como nós, têem a responsabilidade da governação do paiz, exijo, porém, mais do que a simples manifestação, mais ou menos patriotica, mais ou menos rhetorica, de um sentimento digno e de uma paixão nobre; a esses peço idéas e planos, pertinacia e tenacidade na realisação do que elles entendem que devemos descutir no parlamento e diffundir na opinião publica.
É, pois, no respeito pelas instituições parlamentares, na consulta da opinião publica, no estudo das questões e na energia da sustentação dos planos e opiniões, que vejo nos homens publicos o verdadeiro e util patriotismo. Eis o que infelizmente pouco se pratica.
O norte dos governos, em Portugal, é o Poder Moderador. O governo transacto, progressista, como todos os de outras procedencias politicas, sempre com os olhos n'esse norte, apenas pensou em o cobrir, na sua responsabilidade moral, com o voto do conselho d'estado. Pois cobria-o melhor, bem melhor, se viesse ao parlamento, e perante os representantes do paiz, perante o proprio paiz, em sessão publica, dissesse francamente o que havia e concluisse: - tomem os representantes legitimos da nação a responsabilidade da resolução, porque são os unicos que a podem tomar e nós, ministros, estamos promptos a realisar serena, energica e imperturbavelmente aquillo que o paiz, representado pelo parlamento, resolver.
Sr. presidente, se um dia se fizer a historia do parlamentarismo em Portugal, de cincoenta annos de vida parlamentar, ha de definir-se entre outras esta causa importante da imperfeição d'este regimen entre nós.
Em Portugal quasi ninguem põe os olhos em baixo, no povo, todos olham para cima, para o rei; parece entro nós ainda vivo o sabeismo; em regra adorâmos o sol que nasço e tudo que luz!
Venha um governo, que saiba bem retemperar-se na opinião do paiz; que saiba concital-a, se estiver adormecida ou indifferente; que se sinta sem vontade do lisonjear; que não sacrifique os seus principios a simples interesses momentaneos; que julgue, e não tenha pejo em o confessar, que a unica força do paiz, a unica soberania da nação é a soberania popular; venha esse governo, que ha de subir necessariamente o nivel parlamentar, e não havemos de ter o desgosto e a responsabilidade de uni acto d'aquella ordem, sem que nós, representantes do paiz, podessemos dizer uma só palavra, expressar uma simples opinião!
Sr. presidente, não basta estudar em si o facto, vamos a ver se investigâmos as origens d'onde derivou esta ultima attitude bellica da Inglaterra.
Assim apreciaremos a responsibilidade dos erros do governo transacto e dos que o precederam, se erros ha e se responsabilidades existem.
Sr. presidente, durante largos annos a politica colonial portugueza, se realmente a frouxa administração colonial, que nós temos sustentado n'um largo periodo assim se póde chamar, foi influenciada pela Inglaterra. Digo influenciada, para não dizer, que sobro nós pesou durante largo periodo o jugo inglez, quer na politica nacional, quer na propria politica nacional e internacional.
Não discutirei, n'este momento, se esta politica iniciada ha largos annos, ha seculos, se esta politica ingleza teve rasão de ser n'algum periodo historico; o que me proponho demonstrar á camara, é que previsões mui fundadas e factos clarissimos nos indicavam, que tal politica se havia tornado inutil, ou, para melhor dizer nociva, para o paiz.
O ultimo ministerio, reconhecendo esta verdade, tentou sacudir este jugo inglez e approximou-se, quanto lhe foi possivel, da Allemanha, quer na politica colonial quer na politica financeira.
Adversario, como o fui sempre, da politica ingleza, este afastamento da Inglaterra pareceu-me um primeiro passo sensato; devo, porém, dizer francamente a camara, que julguei por outro lado errada a approximação da nossa politica da politica allema.
Foi sempre minha opinião, e continuo a tel-a, que qualquer ligação com a Allemanha, seria ephemera e perigosa.
Suppuz sempre, e as minhas previsões não falharam, que, mais cedo ou mais tarde, a Allemanha, se entenderia com a Inglaterra e que essa tal ou qual protecção, amisade se quizerem, que nas questões africanas nos dispensava, seria letra morta.
Não foi necessario muito tempo, para que o facto mais claro, mais evidente, viesse affirmar a todos nós a verdade d'este receio. Lembra-se a camara e o paiz de que ha mezes, em Spithead, se juntava uma enorme esquadra ingleza, á qual passou solemne revista o neto da Rainha Victoria, o Imperador da Allemanha.
Quem tivesse vista para ver e prudencia para julgar d'aquelle facto, deveria immediatamente presumir, que um accordo secreto havia ligado as duas corôas para um effeito qualquer de politica europêa, talvez, mas a que podia