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SESSÃO DE 20 DE JANEIRO DE 1885 197

Agora não quero dizer mais sobre este ponto; nem preciso, porque, senhores, desde que se declara a guerra, á la guerra como á la guerra. (Apoiados.)

Venha a guerra parlamentar; não comprehendo outra que não signifique o desejo de cada um dos lados politicos da camara fazer triumphar as suas opiniões.

Mas n'esses meios de guerra ha processos mais benevolos, mais brandos, e ha processos mais severos; e como o illustre deputado, chefe do partido progressista, já denunciou os oradores severos, eu estou á espera d'elles.

Eu sou um velho parlamentar, não preciso de o dizer, porque toda a gente o sabe; e eu, como velho parlamentar, tenho assistido a tantas campanhas, a tantas d'estas guerras incruentas, que já não me affecta os nervos essa declaração.

Tenho visto aqui os gigantes da tribuna, gigantes que desgraçadamente já não existem, mas existem outros que não podem ter a pretensão de serem maiores do que aquelles, por maiores que sejam, e viveu-se sempre; viveram os meus adversarios quando a opposição parlamentar, a que tinha a honra de pertencer, continha, não a minha pessoa, que nada valia, mas caracteres mais respeitaveis, oradores mais distinctos.

Viveu o governo, e viveu largos annos.

E o partido progressista quando estava no poder tambem fazia actos de dictadura, fazia-os ás vezes tres e quatro dias depois de fechar o parlamento, e por signal que os não trazia á camara para revalidar e obter o biil de indemnidade.

Eu não estou accusando ninguem, estou defendendo-me; mas este partido fazia adiamentos, dava parte de ter pedido a sua demissão, e resuscitava no dia seguinte.

E como estas outras, e outras.

Visto que estamos em tempo de guerra, vamos procurando nos arsenaes da nossa memoria os acontecimentos para os rememorar. (Apoiados.)

Tudo isto é velho. O homem que tem consumido a maior parte da vida no serviço da sua patria e dentro do parlamento; e gasto a saude nos debates e nas luctas politicas, não se sobresalta com esta ameaça.

Opposição energica e sem treguas! Muito bem. Defeza que corresponda á accusação, sempre com a luva calçada, com o respeito de si propria, e da casa em que temos a hora de fallar. (Vozes: - Muito bem.)

O illustre chefe do partido progressista voltou aos seus antigos tempos. Ainda bem que voltou; porque me interesso sinceramente pela sua felicidade, pelo seu bem estar, e sobre tudo pela sua saude, e digo sobretudo pela sua saude, porque aprecio a saude mais do que tudo.

Vejo que ainda é o mesmo homem n'estas luctas homericas, em que se debatiam aqui principios e se sustentavam idéas de uma e outra parte, pelas vozes mais auctorisadas.

Debaixo do ponto de vista parlamentar, diviso em s. exa. uns certos laivos do ancien regime, do ancien regime parlamentar, entenda-se bem.

Esse ancien regime consistiu em dizer-se de um lado, que o paiz estava á beira do abysmo, que a situação era gravissima, que a fazenda publica estava perdida, que o paiz estava pobre, que os lavradores não tinham com que pagar a semente que lançaram á terra, que o commercio estava paralysado, que os fundos desciam, em fim, que estava tudo perdido.

Do outro lado dizia-se que o paiz estava rico, prosperava, os fundos subiam, os melhoramentos publicos progrediam, a riqueza nacional augmentava, e tudo em fim marchava para o El clorado.

Este era o ancien regime. Mas eu que não quero fazer a parte do ancien regime do outro lado, não sigo esse caminho.

Reconheço que ha muita cousa a emendar, a corrigir e a melhorar. Estou muito llonge de apresentar a situação actual, ou qualquer outra, como prototypo de maravilhas e excellencias; mas o que mo admira, é que o illustre deputado, voltando aos antigos tempos, viesse desenrolar o sudario das nossas desgraças, fazendo-me até responsavel pelo mal das vinhas, que está assolando algumas das nossas provincias. (Riso.)

Eu não sei se havia a phylloxera quando o partido progressista esteve no poder. Creio que sim; mas se não havia é preciso ter muito pouca benevolencia para attribuir ao governo a responsabilidade d'esse flagello. (Apoiados.)

O illustre deputado caminhava no sentido d'essas mesmas idéas quando outrora fôra combatido por mim, e por s. exa., n'esta e na outra casa do parlamento, um ministerio, á frente do qual, senão á frente officialmente, porque, se não era o presidente do conselho, era pelo menos a alma da situação, estava um homem illustre que eu respeitei, de quem fui amigo, o sr. Alves Martins, bispo do Vizeu.

O illustre deputado combatia então comungo as idéas d'esse illustre homem d'estado, que suppunha que era necessario parar para poder salvar o paiz.

Eu escrevi um dia n'um relatorio, sem ter a esperança de que aquella phrase podesse passar, durante tantos annos, pela boca de homens illustres, parar é morrer. Creio ainda hoje que isso é verdade.

Parar é morrer; mas o illustre deputado entende agora que parar é viver, que parar é necessario para viver. É o que pensava o sr. bispo de Vizeu, que o illustre deputado combatia então comungo, porque n'esse tempo estávamos juntos para combater aquelle governo.

Não tinha então essa opinião o illustre deputado, nem a tinha o partido progressista, quando um ministerio, presidido por um homem illustre que já não existe e que fez muita falta, e cem isto eu não faço absolutamente nenhuma allusão a ninguem, porque sou incapaz d'isso; mas ninguem negará, principalmente por parte do partido progressista, que o sr. duque de Loulé fez uma grande falta.

Pois bem, quando este illustre estadista se sentou n'estas cadeiras, succedendo aos seus adversarios, e lhe perguntaram qual era a politica do governo - a minha politica, respondeu, a politica do ministerio, é a politica illustrada dos meus antecessores.

E isto era n'uma occasião em que as palavras - parar é morrer - estavam ainda frescas na memoria dos que tinham lido o meu relatorio; era n'uma epocha em que o governo d'esse tempo vivia quasi que exclusivamente da popularidade que lhe davam os melhoramentos publicos.

Pois n'essa epocha, o chefe do partido progressista dizia que a sua politica era a politica illustrada dos seus antecessores.

Então não se pensava como hoje; então pensava-se que trabalhar, que semear é uma necessidade tanto para as nações como para os individuos.

Então pensava-se que a riqueza nacional não vinha da immobilidade; então pensava se que a riqueza nacional não vinha senão do trabalho nacional, e que o trabalho nacional não podia desenvolver-se sem se desenvolverem os meios de communicação do paiz.

Se eram absurdos, se eram erros, d'esses absurdos e desses erros commungaram os homens mais illustres d'esta terra.

Os Passos Manuel, os José Estevão, os Rodrigo da Fonseca, todos esses homens commungaram n'este erro; e agora vem dizer-se que parar é preciso para viver.
Como se os mortos vivessem! Como se parando se podesse viver! Como se a vida não fosse a actividade humana, representada debaixo de qualquer fórma e de qualquer especie. (Vozes: - Muito bem.)

Se alguem pensa que, dizendo eu estas palavras entendo que sem criterio, sem estudo, sem exame se podem fazer todas as despezas que passarem pela nossa mente, embora