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82 DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

Refiro-me á lucta que leva os povos a conquista do seu destino historico. Um povo compenetrado do seu destino tem muita mais velocidade e força; é um vehiculo em rails.

Temos historicamente que desempenhar uma funcção colonial, façamol-o.

Se somos aventureiros, como dizem, tambem somos energicos.

Parece que ás vezes ha no povo portuguez desfallecimentos taes, que somos inferiores ao nosso destino historico.

Temos tido desfallecimentos, é certo, mas breve vem a reacção, e, tão poderosa, que ainda agora não ha portuguez que se não sinta corajoso e apto para a lucta que fere os povos cultos nos novos continentes.

Elaborem o parlamento e o poder executivo leis e regulamentos reflectidos; criem-se instituições de credito colonial agricola; liguem-se por viação accelerada os pontos de commercio; povoem-se os areaes desertos; dêem-se instrumentos de trabalho aos colonos; salubrisem-se as estancias agricolas; estabeleça-se um regimen pautai que facilite o commercio entre a metropole e as colonias; façam-se tratados de commercio rigorosamente estudados pelos dados estatisticos aduaneiros e industriaes; liguemos a nossa actividade ao commercio do mundo com habilidade, com persistencia, com finura. Eu creio muito na serenidade firme dos povos que demandam um ideal reflectido!

Faça assim o governo e o parlamento por um rasgo da sua iniciativa, e não lhes faltará o apoio do paiz.

O operariado conhecerá que se aqui está mal, ha novos meios de vida; ha nas colonias vasto campo de acção; e assim, depois de termos previdentemente preparado o engrandecimento da riqueza publica, tambem teremos provado como as tendencias socialistas aberram.

Eu tambem quero a socialisação da riqueza; tambem quero a felicidade e bem-estar para os que trabalham.

Eu, que trabalho dia a dia, que tenho no trabalho a minha unica gloria, nunca a vida me pareceu difficil; não desfalleço por contrariedades, antes é n'ellas que tenho o meu melhor estimulo!

De aqui vem a minha sympathia pelos que trabalham; mas estou longe de reconhecer as pretendidas noções collectivistas que têem levado alguns operarios portuguezes a revolta surda contra a organisação capitalistica. No nosso paiz não existe a crise do operariado como noutros povos; não ha a fome que apavorá os grandes centros industriaes da Europa.

Nada d'isso. Ha talvez um mal entendido, porventura uma suggestão de principios que desnortea as correntes do pensamento nacional no campo do socialismo, cujas affirmativas são tantas vezes fataes ás classes laboriosas.

É por isso, repito, que eu julgo um correctivo neste momento historico, em que o nosso futuro colonial nos apparece firme, que esses trabalhadores que se queixam vão nos nossos vastos e ricos dominios trabalhar, e reconhecer como o mundo e demasiado grande para o trabalho humano.

A camara sabe que o partido socialista em Lisboa diz, não por convicção verificada, mas pelo que lê em livros estrangeiros perfidamente subversivos, que a patria é uma palavra vã! O partido socialista portuguez absteve-se nas ultimas manifestações nacionaes tão patrioticas porque, dizem elles, nada devem ao estado!

Pois que? Quando todas as nações trabalham no sentido do proteccionismo feroz, ha de ser o operario portuguez, honesto e trabalhador, que defende a morte da nossa industria, a morte do seu trabalho, do seu labor, que ficara aniquilado sem a protecção do estado?

Cruel aberração! O operariado deve convencer-se de que os seus interesses no estado industrial moderno estão mais que todos os outros ligados a prosperidade do estado, e, por consequencia, das colonias para os povos, que só n'ellas têem garantias economicas.

Vá o operario portuguez a Africa; é lá que aprenderá melhor que nos pamphletos como a propriedade é legitima.

Verá como a propriedade se arranca do labor, como a patria é grande e querida, soccorrendo administrativamente todos os que d'ella bem merecem.

É preciso saber-se que as colonias são a continuação do solo portuguez e já existem ainda territorios immensos sem cultura. Este problema, o da colonisação, não está, infelizmente, resolvido para nos e creio não o estar por fatalidades da nossa historia politica.

Bem sei que entre nós ha um grande sentimento de patriotismo, desejo de trabalhar e de fazer bem; mas infelizmente nas nossas colonias onde tantos brios militares têem enobrecido a patria, ainda ha muito a fazer.

Haja iniciativa, quer ella seja particular ou do governo, sobretudo que ella seja honeste, boa e proficua; mas o que não quero é que fiquemos de braços cruzados, esmorecidos, quando todos os povos numa lucta gigantesca luctam pela vida.

Sobretudo o que eu não desejo é que as camaras legislativas do meu paiz continuem a olhar com certa indifferença para estas questões, que eu reputo util e necessario resolver desde já. (Apoiados.)

Deriva das considerações que venho de fazer a prova da necessidade de uma politica firme, não ao jour le jour, mas util, meditada, estudada de maneira que se saiba para onde se caminha e o que se quer.

A maior difficuldade do homem de estado não esta em inventar elixires, combinações cabalisticas, esta no reconhecimento das forças, elementos e tendencias do povo que dirige para firmar um ponto de destino, para caminhar para elle com acerto, não contrariando as correntes da vitalidade nacional.

Saiba-se como havemos de fazer tratados de commercio; saiba-se como a nação portugueza ha de ter garantida a sua, funcção na Europa; saiba-se quaes são aquellas industrias que se devem preferir e depois facilitado esta o caminho; é seguil-o sem desfallecimento.

Rogo novamente á camara e ao governo que attente no problema da nossa economia, porque se trata da continuidade do estado portuguez.

Felizmente ha quem tem trabalhado muito, quem já fez muito; agora trabalhemos nós, mostremo-nos dignos da grave responsabilidade que temos assumido perante o paiz. Inauguremos uma politica nacional, estudada nos nossos costumes e nas nossas necessidades.

Sabe-o bem a camara que temos adoptado muitos principios que são de importação, mas a nossa politica tem de ser portugueza, tem de ser filha da observação da vida nacional, particularizada.

Quero que se estude no nosso meio a arte politica do nosso paiz, quero uma politica patriotica, eminentemente economica, porque cada povo tem a sua especialisação administrativa e nos não podemos estar a governar nos com moldes que nem nos servem nem nos utilisam.

Eu não quero fatigar a camara, mas relevem-se-me estas considerações que serão o inicio da minha carreira parlamentar. Reservo-me para fallar mais largamente quando forem debatidas questões ad hoc e então reivindicarei a politica economica, que julgo a unica que corresponde ao estado actual dos espiritos. Assim fico bem com a minha convicção e com a minha consciencia, patriotica.

Talvez se diga que o ser patriota representa uma ingenuidade, menos seria, menos grave e pueril. Que me importa a mim?

Fico com a minha convicção e estou muito bem. Se não estou com a camara inteira, então estou enganado.

(O orador foi comprimentado por alguns srs. deputados.)