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SESSÃO N.º 12 DE 21 DE JANEIRO DE 1897 131

Mas quer a camara saber em que condições fez essa reducção?

Reduziu-o, auctorisando com a sua propria auctoridade de ministro da fazenda, n'um despacho que tem a sua assignatura, as nossas agencias lá fóra a passarem certificados de que ficavam dois terços por pagar, e de que, por consequencia, ficavam, para todos os effeitos, resalvados os direitos dos portadores com relação ao que se lhes não pagava.

E não queria o illustre deputado, quando tinhamos pendente a ameaça resultante da accumulação d'esses certificados, que nos apressassemos a chegar a uma solução, que puzesse teimo a esse perigoso estado de cousas, ás reclamações que ainda mais podiam sobrevir, aos embaraços de toda a ordem que, evidentemente, dentro em pouco affectariam vitalmente os recursos do paiz!.

Mas o illustre deputado entendeu que era pouco o termos já tão grave questão e sobre ella levantou uma outra, tambem grave, a da rescisão do contrato para as obras do porto de Lisboa! Foi mais uma reclamação que nos deixou! E como ainda entendesse que era pouco, levantou, á ultima hora, mais uma questão embaraçosa, a do pagamento da garantia de juro do caminho de ferro da Beira Baixa!

Deixou-nos assim: a questão da divida externa sem solução, a questão dos caminhos de ferro de norte e leste sem solução, a questão das obras do porto de Lisboa, aberta pouco antes e, sobre tudo isto, ainda uma reclamação por parte da Allemanha, com respeito á garantia de juro do caminho de ferro da Beira Baixa. (Apoiados.)

Julga o illustre deputado que esta situação, que encontrámos, era desafogada e auspiciosa?

Pôde s. exa. dizer com relação ao seu governo, o que no outro dia eu disse com respeito ao governo actual: se temos tido difficuldades internacionaes, nós mesmos as resolvemos, não as legamos aos nossos successores?

E o illustre deputado quiz ver n'estas palavras uma despedida d'este governo ante o parlamento!

Não veja s. exa. n'isso mais que uma cousa - a opinião que tenho, a convicção em que estou de que cumpre a todo o governo, seja qual for, quando encontra uma difficuldade internacional, grave que seja, resolvel-a elle mesmo, porque não é ante difficuldades internacionaes que um governo deve depor as suas pastas. Aqui tem s. exa. a explicação da minha phrase.

Não quero protelar o debate, não quero ir mais longe. Respondi sem intenção de aggravar s. exa., de, em caso algum, o magoar com as minhas palavras; respondi, por que s. exa. me chamou a este debate, porque não podia deixar de tomar a responsabilidade dos meus actos, a responsabilidade dos que têem tido, é certo, momentos bem difficeis, mas que, de vontade empregaram todos os esforços para os vencer com proveito para o paiz. (Apoiados.)

Vozes: - Muito bem.

(S. exa. não revê as notas tachygraphicas dos seus discursos.)

O sr. Aarão de Lacerda: - As considerações que desejava apresentar, eram de ordem economica e geral, que tanto podem ter logar na discussão do projecto de resposta ao discurso da corôa, como antes da ordem do dia.

E visto que o sr. conselheiro Dias Ferreira pediu a palavra para explicações, e não desejo protelar o debate, desisto por agora da palavra, pedindo a s. exa. que ma conceda antes da ordem do dia da proxima sessão.

O sr. Costa Pinto: - Requeiro a s. exa. que consulte a camara sobre se quer que se prorogue a sessão até se votar o projecto que se discute.

Assim se resolveu.

O sr. Dias Ferreira: - Requeira a s. exa. que consulte a camara se, dispensando o regimento, me permitto usar da palavra pela terceira vez.

Vozes: Falle, falle.

O sr. Presidente: - Em vista da manifestação da camara tem a palavra o sr. Dias Ferreira.

O sr. Dias Ferreira: - Não pedi a palavra para responder ás apreciações politicas feitas pelo sr. presidente do conselho.

Não é n'uma sessão prorogada que eu heide discutir assumptos importantissimos; nem eu posso nem devo abusar da palavra, que devo á benevolencia da camara, pelo que lhe tributo os meus agradecimentos.

Uso da palavra apenas para rectificar algumas das muitas inexactidões de facto, de que o sr. presidente do conselho recheou o seu discurso.

Peço licença para dizer que não é verdade a asseveração do sr. presidente do conselho de que eu inscrevi no orçamento um deficit de 6:000 contos de réis.

O deficit foi calculado no orçamento em 5:062 contos de réis; e depois de organisado o orçamento baixou a menos de 3:000 contos de réis, em virtude da accordos que fiz com o banco de Portugal, o que tudo expliquei largamente no meu relatorio de fazenda.

O deficit, que leguei aos meus successores, hade ser calculado não em vista do orçamento, mas em vista do relatorio de fazenda, onde vem transcriptos os contratos com o banco de Portugal, o outras operações realisadas posteriormente ao orçamento.

Fica assim por terra a asseveração do sr. presidente do conselho de que eu havia calculado o deficit em 6:000 contos de réis, pois que o deficit orçava entre 2:000 e 3:000 contos de réis.

Affirmou tambem o sr. presidente do conselho que eu subi ao poder, apoiado n'uma popularidade que me habilitava a fazer muita cousa que eu não fiz.

Distingo. No povo que trabalha, que não é politico, e que o que deseja é bom governo, dizia-me a consciencia que a minha administração era popular.

Mas d'esse povo, nas actuaes circumstancia da politica portuguesa, não se faz caso!

Esse povo é apenas procurado para abrir os cordões da bolsa, e largar o que é seu para o que se chama as urgencias do estado!

Esse povo não influe um apice na governação publica!

Até os estadistas de linha se riem de quem ainda considera o povo contribuinte, e deseja merecer-lhe a opinião.

Mas no mundo politico e official, no povo dos partidos, no povo das camaras, e no povo da que influem nas mutações ministeriaes, a minha popularidade era quasi absolutamente negativa!

Para prova do meu asserto vou contar á camara um facto, manifestação, conto tantas outros do mesmo principio, que descreve melhor do que qualquer argumento ou raciocinio por mais bem deduzido, qual era a minha popularidade nas regiões officiaes e politicas, que influem na organisação e na queda dos ministerios.

Mezes depois de ter saldo do ministerio, achando-me em casa do digno membro da camara dos pares, o sr. marquez da Graciosa, meu amigo desde as escolas, e onde estava tambem um antigo deputado progressista o sr. José Paulo Cancella, veiu o marquez com a lenda do sr. presidente do conselho, de que eu tivera uma enorme popularidade no meu advento ao poder; e disse: «Aqui a Bairaida era toda por si».

Eu, já muito habituado á tal lenda da minha popularidade, e acceitando a affirmativa de que a opinião publica me favorecia com tanto enthusiasmo, perguntei logo: «a opinião era para mim, mas os votos paxá quem eram?» A isto replicou promptamente o marquez. Ah! os votos eram aqui para o Paulo Cancella! (Biso geral.)

Este facto, e muitos outros que eu poderia apresentar, explica a natureza da minha popularidade!