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132 DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

O palavriado era para mim. Mas os votos eram para os meus adversarios, para os representantes dos partidos que tinham levado o paiz ao descalabro!

Na Bairrada eram todos por mim; o que era contra mim eram os votos, porque esses eram para o sr. Paulo Cancella!

No rosto do paiz a orientação popular e politica era, com pequenas variantes, a mesma

É perfeitamente extraordinaria esta situação! O sr. presidente do conselho, meu adversario politico, a encarecer a minha popularidade e eu a negar essa popularidade, quando a popularidade é um dos titulos de gloria, e uma das supremas aspirações de todo o homem publico!

Eu porém prefiro a tudo a verdade. Da verdade nada póde afastar-me.

Nem a minha popularidade por maior que fosse á entrada no governo, podia durar muito tempo no mundo politico.

Como podia eu conservar popularidade no mundo politico só n'um anno de governo não dei uma gratificação nem um emprego?!

Qual é o tio rico, que gosa de popularidade, se adoptar o systema inalteravel de fechar as porta da casa de jantar aos sobrinhos pobres? (Riso.)

Tive, e felizmente tenho ainda no povo que trabalha, mas que não é ouvido nem achado nos negocios da governação publica, a popularidade a que me dão direito os meus desinteressados serviços ao paiz. Mas no mundo official e politico não tive, não tenho, nem espero ter popularidade digna de menção; porque para isso teria de faltar aos meus deveres para com o paiz!

Não assignei o convenio porque me convenci de que o paiz não podia cumpril-o.

Procedi assim com a convicção profunda do que bem servia o meu paiz, cujas circumstancias se iam aggravando todos os dias e a todos os momentos.

Não eram só os impostos do estado, eram tambem os impostos dos municipios que iam decrescendo de modo assustador.

N'estas circumstancias, faltaria a um dever sagrado só assignasse um contrato, que eu de antemão sabia que Portugal não podia cumprir! O meu dever era esperar melhor tempo para chegar a accordo com os credores externos.

A Grecia, que fez uma reducção de juro na divida externa, ainda mais violenta, porque eu reduzi a um terço, e a Grecia reduzia a 30 por cento poucos mezes depois do decreto de 13 de junho de 1892, vae em tres annos que está tratando com os credores, sem ter assignado nenhuma estipulação, por entender que não póde com as exigencias que lhes estão fazendo os comités.

Nem eu rasguei o convenio porque o convenio não estava definitivamente assignado. O convenio estava dependente da assignatura do governo, o ainda depois de assignado pelo governo estava subordinado á assignatura dos credores, que era a ultima e a definitiva! Por uma excepção, desconhecida em diplomas d'este genero, a assignatura do governo não era a ultima e definitiva! Não o assignei. porque na occasião que foi submettido á minha assignatura todos as circunstancias me convenciam de que o paiz não podia cumpril-o!

Tambem o sr. presidente do conselho veiu contrariar a verdade dos factos n'um ponto em que elle a conhecia melhor que ninguem, pois, não estando pelas nossas leis constitucionaes sujeito a responsabilidade alguma o poder moderador, até pela demissão dos ministros d'estado respondem os seus successores.

É de assombrar, pelo arrojo, a affirmação do sr. presidente do conselho de que eu larguei o governo para não resolver a questão dos credores! S. exa. sabe bem o contrario! Eu não cai por esse motivo.

Eu caí diante da corôa! Não sai arbitrariamente do poder.

Solicitei um adiamento, que me era preciso para regularisar a questão dos credores externos por fórma que o thesouro só ficasse sujeito ao pagamento, do terço em oiro, e a nenhum outro encargo.

O augusto chefe do estado, no uso liberrimo da sua prerogativa, posando as circumstancias politicas do momento, o inspirando-se nos interesses da patria, não concordou abertamente com a minha proposta.

Como este facto para mim representava quebra na confiança da corôa, dei immediatamente a demissão collectiva do gabinete.

Tenho concluido.

O sr. Presidente: - Não está mais ninguem inscripto. Vae ler-se o parecer para se votar.

Leu-se, e posto á votação foi approvado.

O sr. Presidente: - A deputação que, alem da mesa, tem de apresentar a Sua Magestade a resposta ao discurso da corôa é composta dos srs.:

Aarão Ferreira de Lacerda.

Antonio José Boavida.

Henrique da Cunha Mattos de Mendia.

João Pereira Teixeira de Vasconcellos.

Licinio Pinto Leite.

D. Luiz Filippe de Castro.

Manuel Joaquim Ferreira Marques.

Manuel de Sousa Avides.

Theodoro Ferreira Pinto Basto.

Visconde do Ervedal da Beira.

O sr. Presidente do Conselho de Ministros (Hintze Ribeiro): - Participo a v. exa. que Sua Magestade El-Rei receberá a deputação na proxima segunda feira á uma hora e meia da tarde.

O sr. Presidente: - Ficam prevenidos os srs. deputados.

A primeira sessão é na proxima segunda feira, e a ordem do dia apresentação de pareceres.

Está fechada a sessão.

Eram seis horas da tarde.

Justificação de faltas apresentada n'esta sessão

Participo a v. exa. e á camara que, por motivo de doença, faltei ás ultimas sessões. = O deputado, Thomaz de Sequeira.

Para a secretaria.

O redactor = Lopes Vieira.