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4 DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

dias depois, e estar respondendo a cousas que se não disseram e não respondendo a outras que se trataram. Assim succedeu com o Sr. Alpoim, que não obteve resposta á accusação grave de que o Governo tinha augmentado a despesa em 32:000$000 réis.

Eis como se desperdiça e empata o tempo, e nós não podemos apresentar as reclamações dos povos.

O Sr. Carlos Ferreira acha-se inscripto, ha dias, para tratar da grave questão dos operarios vidraceiros da Marinha Grande, como representante d'aquelles povos; entretanto, ainda não conseguiu usar da palavra.

Sr. Presidente: não me esquivo, pela minha parte (e não falo em nome da opposição, mas apenas em meu nome), não me esquivo a trabalhar no interesse do meu para, como dei provas na discussão do unico projecto que appareceu, e a opposição tambem provou, com os seus melhores oradores, que não se recusava a collaborar para que aquelle projecto fosse melhorado tanto quanto possivel, achando-se prompta a continuar a cumprir o seu dever. Mas urgente e necessario é tambem que se lhe respeitem os seus direitos, e se não faça o monopolio da palavra a favor dos Srs. Ministros e a favor dos membros da maioria.

Contra isto é que eu protesto energicamente. Protestando contra esse novo monopolio, estou prompto a dar o meu assentimento á proposta, para que se não diga que da parte da opposição não ha desejos de trabalhar. Estamos sempre dispostos a trabalhar, nós; mas, realmente, vir com esta proposta, parece querer fazer suppor ao paiz que lavra aqui um grande zelo, quando sabemos que não ha projectos para ordem do dia que justifiquem a proposta e a sua urgencia.

Aqui está mais um artificio, e este para fazer crer ao país que ha vontade de trabalhar.

(O orador não reviu).

O Sr. Presidente: - Visto que nenhum outro Sr. Deputado se inscreve, considero approvada a proposta do Sr. Arroyo.

O Sr. Presidente do Conselho de Ministros (Ernesto Rodolpho Hintze Ribeiro): - Sr. Presidente: annunciou-me o illustre Deputado Sr. Egas Moniz um aviso previo ou antes, uma interpellação, sobre as minhas reformas de instrucção publica, e veiu realizá-lo com critica vehemente e acerba sobre as reformas mais importantes que tive a honra de publicar.

Pode dizer-se que foi um debate percursor, sobre o uso que o Governo fez das auctorizações legislativas, da campanha que a opposição parlamentar annunciou contra o procedimento do Governo, ao usar d'essas auctorizações.

Nessa campanha, apresentou-se o illustre Deputado como explorador de terreno, do mesmo modo que, nos grandes combates, os corpos do exercito destacam as suas guardas avançadas para explorarem o campo, para sondarem as disposições do inimigo e para atacarem os primeiro» reductos.

O primeiro reducto que a opposição entendeu dever atacar, pela voz auctorizada e vehemente do illustre Deputado o Sr. Egas Moniz, foram as minhas reformas de instrucção publica.

O illustre Deputado, porem, chegaria a ser cruel, se a serena consciencia da modestia e honestidade do meu trabalho me não cobrissem contra todo o genero de golpes semelhantes; porque, emfim, não precisava S. Exa. de invocar a figura do Pombal para deprimir os meus actos de Ministro do Reino.

Não sou um jactancioso, sou um trabalhador; e todo o homem que trabalha é, naturalmente, um modesto: quanto mais elle estuda, quanto mais investiga, quanto mais aprende, mais se convence de que o que sabe muito pouco é em relação ao muito que tem de aprender. (Vozes: - Muito bem). Mas o illustre Deputado foi cruel porque, tratando da reforma da Universidade, ahi, onde fez a invocação do grande Reformador de outros tempos para o pôr em confronto commigo, o illustre Deputado veiu dizer que me louvava pela minha iniciativa, mas só pela minha iniciativa, porque, em toda a reforma da Universidade, só tive collaboração numa errata, e tudo o mais era obra dos homens de sciencia, dos professores da Universidade!

A minha collaboração unica e exclusivamente consistiu, segundo o illustre Deputado, em ter elevado a seis os tres continuos que havia na Universidade! E o meu nobre «migo, que não vejo presente, o Sr. Conselheiro Beirão, achou isto um aperitivo tanto ao sabor do que só possa chamar um «escandalo parlamentar», que até pediu, encantado, a repetição, porque achou delicioso!... (Riso).

Não quero para mim honras que me não cabem.

O illustre Deputado, por pouco que me queira deixar na collaboração da reforma da Universidade, deixando-me, apenas, a errata, ainda me deixa de mais, porque não fui quem nella collaborou.

Sabe o illustre Deputado quem foi o collaborador da errata? Foi o Prelado da Universidade, o seu illustre Vice-Reitor, que, tendo visto publicada a reforma no Diario ao Governo, se dirigiu ao Director Geral da Instrucção Publica para lhe dizer que concordava em não se augmentar o pessoal menor da Universidade, porque emfim entendia que eu não quisesse alargar as despesas resultantes impreterivelmente de uma reforma d'aquella natureza, mas que deixasse ficar o que estava, e o que estava eram seis continuos e não tres.

Mas vendo que da errata resultava a vehemencia do illustre Deputado, tive a curiosidade de mandar pedir o orçamento do anno passado para saber o que lá se encontrava e lá encontrei, na verba «Universidade de Coimbra», o seguinte:

«Na secretaria, um continuo; nos Geraes, tres; na Faculdade de Medicina, um; na Faculdade de Philosophia, um».

Eis os seis; mas no Diario do Governo vieram tres, e foi preciso dizer que eram seis: d'aqui a necessidade da errata.

Ora, francamente, se todas as surpresas que a opposição reserva ao Parlamento e ao país na questão das auctorizações são como esta (e espero em Deus que todas hão de ser assim), se os seus ataques são d'esta natureza, começo por aconselhar o illustre Deputado a que dê o seu ao seu dono: mande a errata, que apresentou, ao Sr. Vice-Reitor da Universidade e não me aggrida a mim, porque não me glorio com o que de direito me não pertence. Só quero o que é meu. (Apoiados}.

Mas, se no entender do illustre Deputado esta é que é a minha collaboração, vamos a ver qual é a collaboração do illustre Deputado. Porque, emfim, o illustre Deputado não é qualquer critico ou censor. O illustre Deputado é um filho laureado da Universidade, alta e justamente diplomado, é um homem de sciencia que conhece de perto as exigencias do ensino universitario; conhece, porque não pode deixar de conhecer, quaes os principios que devem presidir á remodelação da nossa instrucção publica. Por consequencia, é uma auctoridade indiscutivel.

O illustre Deputado fez a critica das reformas de instrucção publica? Pois bem, vamos a ver o que fica da sua critica e collaboração depois de eu ter respondido.

O illustre Deputado arguiu-me por eu ter augmentado a despesa com as minhas reformas, e diz reservar isso para a interpellação. Seja; mas o que não fica para a interpellação e que é para desde já, é o seguinte:

Disse o illustre Deputado: o Se o Sr. Presidente do Conselho tem esbanjado tanto, esbanje-o com a instrucção publica!»

Oh! Sr. Presidente, pois então o illustre Deputado ac-