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208 DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

cidas, e disse, depois, da justiça e conveniencia da sua causa, como póde e como soube.

Mas que notavel e frisante contraste! O discurso do sr. Braamcamp foi claro, raciocinado, direito ao seu fim, grave como a situação do paiz, solemne como os conselhos da prudencia, sentido como o patriotismo que o inspirou, e luminoso como a liberdade que veiu servir. (Muitos apoiados.)

O discurso do sr. Fontes, eloquente e facil, como é do genio da sua palavra, foi o contrario de tudo isto: vão, contradictorio, cortado de digressões recreativas, picado aqui e alem de uma ligeireza do humor, que está sendo a nota mais repetida da sua ultima maneira parlamentar. (Muitos apoiados.)

Pedindo a palavra sobre um discurso do sr. Fontes, e tendo apresentado uma moção de ordem, eu tenho de justificar essa moção de ordem e tenho de responder ao discurso do sr. presidente do conselho.

Responder ao ultimo discurso do sr. Fontes confesso á camara que me é extremamente difficil. Disse tantas cousas! Moveu tantos assumptos estranhos ao debate! (Apoiados.) Quando eram necessarios argumentos, fazia diversões oratorias; quando se lhe pedia historia, contava anedotas; quando era convidado pela voz austera e auctorisada do sr. Braamcamp a dizer o seu juizo sobre cousas tão momentosas e graves como a economia e a fazenda da nação, narrava novamente as suas viagens, que o paiz já sabe de cor (Riso e apoiados.) dizia-nos que tinha nos arsenaes da memoria armas terriveis para castigar a nossa severidade, se ousássemos manifestal-a, armas que, por antigas, pareciam mais proprias de um museu do que de um arsenal, (Riso e apoiados.) improvisava umas cousas quaesquer do ancien regime, que não se sabe para que vieram, e fazia variações de philosophia vulgar sobre uma velha phrase sua. (Riso e muitos apoiados.)

Em todo o caso é necessario responder a s. exa., e eu confio um pouco em que a minha memoria reviverá os pontos essências do seu discurso. Esta confiança na minha memoria é uma vaidade, que se me desculpará, attendendo a que ninguem preza a que tem, ou sente o pudor da sua falta...

O sr. presidente do conselho exclamava hontem: estranho a declaração de guerra, que se me faz. Guerra houve sempre. Por treguas nunca dei. Ainda me sinto dos duros golpes, que me foram vibrados na sessão passada!... E logo em seguida, pouco depois, dava á sua palavra a maxima intensidade de indignação, não sei se natural, se postiça, e bradava contra o rompimento do accordo, que qualificava de impolitico, desleal para nós e prejudicial para a patria!!

Quem entende isto?

Parece-me que e caso para se dizer ao sr. Fontes que se a guerra a todo o transe não implica com o accordo, não o contradiz, fique s. exa. pensando que elle subsiste ainda. (Riso. - Apoiados.) Não vejo inconveniente n'isto.

Insistindo em que se rompêra o accordo, o nobre presidente do conselho declarou ao paiz e ao mundo que não foi sua a culpa; e trahindo, pela commoção da voz, melindres de sensibilidade, de que se não suspeitava, acrescentou que sentiria afflictivos remorsos se para tal houvesse contribuido! A isto se chama esgrimir com phantasmas, o que não fica bem a um ministro da guerra. (Riso. - Apoiados.)

O sr. Braamcamp disso, a não deixar duvida, que ninguém rompera o accordo, que o accordo se extinguira por si, como se extinguem os contratos cujas condições e clausulas se acham integralmente cumpridas o satisfeitas. (Apoiados.) E não se limitou a dizer isto. Provou-o com o texto inequivoco das declarações do digno par, meu amigo, o sr. Henrique de Macedo, na outra casa do parlamento, texto que eu vou ler tambem, porque é importante, porque é decisivo, porque é esmagador para quem pensou que poderia illaquear, n'uma habilidade interesseira e facil, a honra e o dever de um grande partido. (Apoiados.}

Note a caçoara que não e um discurso revisto pelo orador. É o puro extracto das notas tachygraphicas, documento official, e publicado no seu logar proprio.

Isto tem alguma importancia.

Dizia o ar. Henrique de Macedo:

(Leu.)

"Depois d'essa leitura, entendia o orador, que os compromissos do par Lido progressista, resultantes do accordo, eram:

"1.° Votar a generalidade dos dois projectos, (Referia-se aos projectos de reforma constitucional e de reforma eleitoral) caso essa generalidade viesse a ser votada;

"2.º Acatar e respeitar as reformas cuja necessidade for votada por esta camara, e cuja realisação for votada pela camara revisora o pela dos dignos pares, se se reconhecer que tambem ella tem de intervir nessa ultima votação, caso ella venha a realisar-se."

Mais abaixo, explicando o sentido de algumas palavras anteriormente proferidas, o sr. Henrique do Macedo, continuava:

(Leu.)

"Explicando o sentido das palavras "acatar o respeitar", disse que se devia entender que o seu partido poderia, se quizesse, continuar pelos seus meios de propaganda a insistir pela sua reforma, sem que, por isso, se considerasse que desacatava e desrespeitava a reforma feita, porque effectivamente propor, escrever, fallar contra uma lei existente não era desacatar nem desrespeitar essa lei.

"Portanto, a propaganda; a proposta, todos os meios legaes a que os partidos podiam recorrer contra uma lei que não traduzisse os seus principios, todo o partido progressista ficara livre do os empregar, porque essa liberdade se reservára."

Não attendeu o sr. presidente do conselho a estas declarações, quando ellas foram proferidas na camara alta? Se attendeu a ellas, esqueceu-as depois? A si impute, no primeiro caso, a falta de attenção, e, no segundo, a falta de memoria. (Apoiados.)

N'esta maré crescente de infelicidades e contradicções, o sr. Fontes Pereira de Mello estranhou que lhe não notificassem o acabamento do accordo. Se esse pacto de temporaria alliança entre os dois partidos tinha acabado por si, para que seria precisa a denunciação do seu termo? Se essa denunciação devesse ter logar, não seria o discurso do sr. Braamcamp a realisação d'ella? Não é o parlamento o logar proprio para actos d'esta ordem? Não tem estado esta camara inhibida do tratar questões politicas, obrigada á morosa preparação que lhe foi imposta, tão conforme aos hábitos e interesses do governo? Não têem estado desertas casas cadeiras, parecendo que os srs. ministros se sentem mal n'esta casa?! (Muitos apoiados.)

O illustre presidente do conselho, levantando-se para responder ao sr. Braamcamp, e não se atrevendo a negar a historia dos factos, narrada pela mais digna e leal palavra, que se póde ouvir, fez considerações, produziu argumentos, fallou de si, fallou de tudo, fallou de todos, como se a hypothese, contraria, a que lhe convinha, fosse a verdadeira! E disse, ora insinuando, ora affirmando, que o contrato do governo com a opposição progressista, obrigava esta a prolongar as treguas, pelas quaes não tinha dado, (Riso.) e a suspender a declaração de guerra, que nenhuma alteração trouxe nas relações dos dois partidos. (Riso. - Apoiados.)

Sc a materia do accordo fosse tão comprehensiva como afigura o nobre presidente do conselho, o resultado seria o mesmo. Esse accordo já não existiria. A distancia reaberta entro os dois partidos seria hoje maior que nunca. O contrato estaria desfeito, o contrato estaria extincto. Porque? Porque as estipulações de qualquer especie acabam, entre