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Mas a aspereza das censuras existirá do mesmo modo; pelo éco produzido na propria consciencia daquelles sobre quem recairá, pelo intimo sentimento de que são merecidas; mas sendo assim, ao remorso, e não ás minhas palavras, se attribua a exacerbação da dôr — lembrem-se da eterna verdade do dicto — Peccatum meum contra me est semper.

Devo, Sr. Presidente, sendo esta a primeira vez que levanta a vox na Junta Preparatoria, dar um testimunho solemne de gratidão, e reconhecimento aos eleitores do Circulo Eleitoral de Béja, que me deram, pela segunda vez, uma prova de confiança, a maior, a mais distincta a que póde aspirar um Cidadão nos Governos livres. Fallo de talento, e sem ter tido a fortuna de prestar á minha patria serviços relevantes, é de certo á minha lealdade politica, á firmeza dos meus principios, e á constancia de caracter, com que em toda a minha carreira publica, e ainda na Camara passada sustentei os principios de legalidade, moralidade e justiça, que devo esta prova, esta repelida demonstração de honrosissima confiança; dou-lhes este testimunho, faço-lhes esta confissão solemne do meu reconhecimento, e espero que o acceitem como é puro, sincero e ardente. Custou-lhes muito cara a honra que me fizeram!! As demissões caíram ás duzias das mãos dos Ministros para punir o» Empregados que tiveram, ou foram suspeitos de ter, a audacia de querer dar um voto seu e livre saiu-lhes cara!! Não se ensarilharam armas depois do combale, não, Senhor; ainda hoje se multiplicam as prepotencias; ainda hoje continuam as vinganças ignobeis da Auctoridade; ainda hoje se procuram meios para castigar os Empregados, e os Cidadãos do Districto de Béja, pela ousadia de terem eleito Deputados, individuos pertencentes ao Partido Conservador; de todos estes abusos de poder, perseguições, vinganças, prepotencia, e escandalos hei de pedir contas, e responsabilidade aos Srs. Ministros;... mas ainda não há tempo! Eu sinto ver aquellas cadeiras desertas (as dos Ministros); desejava approvar a Moção de Ordem do Sr. Cunha Sotto-Maior; não o fiz porque sei que se havia dizer que pertendiamos protelar a discussão para a Junta se não constituir tão cedo em Camara, o que eu não desejo, e a maior prova que podia dar de que o não desejo, foi deixar de approvar aquella Moção que era justa, decente, moral, e digna, porque, como quer v. Ex.ª e a Junta Preparatoria, que eu precisando atacar o processo eleitoral, tendo de censurar os Ministros por aquillo que fizeram, deixe de conhecer a posição desagradavel em que me colloca a solidão que ha naquella cadeiras? Hão de dizer que eu ataco os Ministros, porque elles não estão aqui, porque não podem responder, porque não ha aqui quem responda por elles. Isto torna-me, como disse, muito desagradavel a minha posição; mas, em fim, hei de sujeitar-me á decisão da Junta. Não são precisos aqui os Srs. Ministros não sejam; os Srs. Deputados eleitos que estão em contado com elles, informa-los-hão, querendo, do que eu disser, ou responderão por elles se para tanto se quizerem reputar competentes quanto ao conhecimento dos factos.

Sr. Presidente, depois disto devo ainda fazer outra declaração, e é que ao menos em meu nome (e não sei se dos meus Collegas) quero agradecer aos Srs. Ministros os esforços que empregaram para excluir deste Parlamento, não só a mim proprio, não só aos meus illustres Collegas deste lado, mas a todos os homens conhecidos, a todos os caracteres notaveis do Partido Conservador foi um serviço que nos fizeram, foi a maior honra que nos podiam liberalizar! Quando o Ministerio esquecido das famosas palavras da Circular de 29 de Abril de 1351, referendada pelo seu Chefe, que promettia a este Paiz eleições libérrimas, que não mais consentiria a interferencia (no seu sentir tão funesta) da, auctoridade nas eleições quando o Ministerio esquecido das palavras moralidade, tolerancia, e justiça com que pintou a taboleta da chamada Regeneração, e á sombra das quaes, illudiu ainda por pouco tempo a seu respeito, o juizo de alguns nacionaes, e dos estranhos — quando de tudo esquecido, arrojou em fim a mascara, e ao mesmo tempo que declarava guerra a todo o transe ao Partido Cartista, ao Partido Conservador, de erro em erro, de violencia em violencia, calcava todas as Leis, violava em todas as paginas a Lei Fundamental do Estado, rasgava os contractos mais solemnes, e promulgava em fim esses Decretos sem qualificação, e sem nome, que expunha o nome e o Governo Portuguez n'um pelourinho, alvo das mais vehementes censuras dos povos civilisados da Europa — censuras em que eramos considerados inferiores a povos tidos por quasi barbaros, na manutenção da fé publica, da honra, do brio, e até da gratidão nacional — quando isto acontece, a maior distincção, honra, e favor que este Gabinete, que estes Ministros podem fazer a um homem, a um Partido, ao Parido Conservador sobretudo, e aos homens que lhe pertencem, é tornar bem patente, bem publica e notoria, a profunda dissidencia que existe entre esse Partido, entre esses homens, e o actual Gabinete.

Faço, porém, desde já uma observação; não se intenda das palavras que proferi, que pertendo nem levemente irrogar censura ou injuria aos illustres Deputados eleitos que compõem a maioria da Junta Preparatoria, só porque sejam eleitos a maior parte delles com a protecção e sob as influencias do Governo; não, Sr. Presidente, declaro que não é essa a minha intenção; eu que tenho a fortuna de conhecer, e respeitar, e direi mesmo, de presar affectuosamente alguns delles, que devo a muitos finezas, obsequios, e demonstrações de consideração, de que nunca me esquecerei, não era capaz de lhes fazer essa injuria; digo antes, digo com a convicção que me inspiraram as suas nobres qualidades, que o Governo se enganou, se suppoz que elles haviam de vir a ser instrumentos das suas prepotencias, dos seus abusos, das suas violencias, e das suas arbitrariedades, do seu completo desprezo pela Carta, e por todas as Leis do Estado; estou certo de que se enganou o

Governo se pensar de outra sorte, e o futuro lho mostrará: faço completa, justiça aos illustres Deputados eleitos.

Sr. Presidente, sabe v. Ex.ª e a Junta, é sabido de todos, que a verdade, a belleza, a preeminencia do Systema Representativo comparado com todas as outras fórmas de Governos, depende principalmente da verdade da Representação Nacional, e que a verdade da Representação Nacional depende essencialmente da verdade da eleição. Sabe tambem V. Ex.ª e a Junta Preparatoria, que da organisação deste Systema Politico, resulta não só a necessidade da harmonia dos Poderes Politicos de que se compõe, mas sobre tudo da harmonia entre o Poder Execu-