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DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

dado caso nos achemos, envolvidos n'um conflicto geral, (Apoiados.)

Na questão colonial hei do mostrar que o governo não seguiu a iniciativa robusta do ministerio transacto, e que o problema colonial exige uma administração sensata e energica, que o actual gabinete não tem forças para desempenhar. (Apoiados.)

Depois hei de dirigir-me ao sr. ministro das obras publicas entrando na questão da penitenciaria (Apoiados.), e ao mesmo tempo hei de levantar a questão da legalidade da portaria, que mandou prorogar o praso para a conclusão da 5.ª secção do caminho de ferro do norte. Antes, porém, de entrar na demonstração da minha moção de ordem consinta-me a camara que vá rastreando as considerações que acaba de fazer o illustre presidente do conselho, com o fim do mostrar á assembléa que cáem pela base todos os argumentos com que quiz defender o ministerio. Basta para isso uma ligeira analyse.

O sr. presidente do conselho respondendo a uma phrase do illustre collega e leal amigo, o sr. Lopo Vaz, disse que não procurava os partidos, para se apropriar d'elles, mas sim eram estes que lhe pediam o auxilio, e que lhe mendigavam o patrocinio.

É necessario que se fixe com a devida clareza a nossa situação politica em 5 de março de 1877, e a nossa situação politica actual.

A phrase do illustre chefe do gabinete talvez fosse uma phrase impensada, de contrario póde reputar-se offensiva á dignidade de todos os partidos existentes n'esta casa, quando é certo que nenhum, principalmente o que representa a maioria da camara, anda atrelado ao carro de triumpho de s. ex.ª (Muitos apoiados.)

Se ámanhã houver uma reconstrucção ministerial em que figure o partido progressista, ahi está nas palavras do sr. presidente do conselho gravada a sentença da sua condemnação.

Não foi o gabinete que pediu o auxilio do partido progressista, foi este que impetrou o favor de algumas pastas. É o sr. presidente do conselho quem o diz. Querendo ferir o partido regenerador, atirou o golpe ao seu partido alliado. (Muitos apoiados.)

Nós, quando apoiámos o ministerio do sr. marquez d'Avila e de Bolama, não sacrificámos, nem podiamos sacrificar, o nosso programma politico. É necessario ver bem qual era a situação politica em 5 de março.

N'essa epocha debatiam-se no paiz dois grandes partidos; um o regenerador, outro o progressista. No programma d'este ultimo dizia-se que era necessario investir com o rei, e indicava-se uma serie de reformas, que era apenas o inicio da elaboração futura. Defensores das instituições existentes, não podiamos acceitar esse programma, que atacava a sociedade portugueza nas suas bases. O partido progressista não tinha então outro adversario que não fosse o regenerador. O sr. marquez d'Avila representava para nós o elemento conservador e por isso lhe dêmos então o nosso apoio, e continuariamos a dal-o, se não tivesse falseado o seu programma. (Apoiados.) S. ex.ª era indifferente aos dois partidos, e illude-se de certo quando suppõe ter adquirido um triumpho sobre as hostes combatentes.

Não colheu os louros da victoria, ergueu a sua bandeira na indifferença dos partidos. (Muitos apoiados.)

E s. ex.ª mesmo o confessa. Pois não disse s. ex.ª no seu discurso, que não derriba ministerios? Eu desejaria que s. ex.ª derribasse ministerios, e não servisse sómente para dissolver assembléas parlamentares.

Acho mais glorioso derribar um ministerio pela força da palavra, do que propor a dissolução quando a salvação do estado a não exige. (Apoiados.)

A organisação politica de 5 de março apparecia perante a camara, apartada das pugnas partidarias. O sr. ministro da guerra saíra do quartel para o ministerio; o sr. ministro da justiça não se assignalára nas lutas parlamentares atacando o gabinete transacto. Havia porém no governo o sr. Barros e Cunha. Estudar a biologia do sr. Barros e Cunha, apanhar-lhe os traços physionomicos, fazer-lhe a photographia politica, classifical-o, n'uma palavra, é mais difficil do que classificar um fossil das primeiras idades geologicas. (Riso e apoiados.) Não ha Cuvier parlamentar que o possa fazer. (Muitos apoiados.)

Que era o sr. Barros e Cunha em 5 de março? S. ex.ª tinha duas faces; uma chorava o partido historico fallecido e a cujos funeraes não tinha querido assistir; a outra sorria para o sr. marquez d'Avila e de Bolama, que politicamente o perfilhava. (Riso.) Quem caracterisava o gabinete de 5 de março era o sr. marquez d'Avila e de Bolama. (Apoiados.) N'elle é que residia o pensamento politico da situação, e não na individualidade do sr. ministro das obras publicas. (Apoiados.) Não era elle, Jano politico, o representante do gabinete, mas sim o nobre presidente do conselho.

É verdade que essa individualidade já serpeava no ministerio antes de se encerrar a sessão passada, mas, quando erguia a cabeça, a mão do sr. marquez d'Avila obrigava-a a recolher-se, e ella timidamente se occultava. Foi assim que, quando o sr. ministro das obras publicas pronunciou algumas palavras desagradaveis para o ministerio transacto na questão Gotto, o illustre chefe do gabinete declarava que o processo tinha corrido com toda a regularidade (Muitos apoiados.); as emendas do partido progressista ao orçamento eram rejeitadas, e era approvado o systema financeiro do partido regenerador. (Apoiados.)

Por consequencia vê-se perfeitamente que não éramos nós que abraçámos o programma do sr. marquez d'Avila, era o illustre chefe do gabinete que abraçava o nosso. Sendo isto assim não fomos nós que abdicámos da nossa politica e dos nossos principios. Nós conservamos a nossa posição. O partido regenerador não depoz aos pés do sr. marquez d'Avila o seu programma. (Apoiados.) O programma do partido regenerador é mais avançado em relação aos melhoramentos moraes e materiaes do paiz do que o do sr. marquez d'Avila, (Apoiados.) Aqui estão as mudanças da nossa situação desde o dia 5 de março até hoje. Nós não rasgámos o nosso programma, e os nossos actos o justificam. (Apoiados.) O governo, não cumprindo as promessas que fez, e tornando-se hostil a nós, é que nos collocou na situação actual. (Apoiados.)

Disse o sr. presidente do conselho, a proposito de algumas considerações feitas pelo meu illustre collega e predilecto amigo o sr. Dias Ferreira, que seria uma insigne cobardia, palavras textuaes, saír do ministerio simplesmente pelo facto de um membro da opposição ser eleito para a commissão de resposta no discurso da corôa.

Varios srs. deputados pedem, a palavra sobre a ordem.

(Susurro.)

O sr. Presidente: — Todos os srs. deputados que estão inscriptos é sobre a ordem. (Apoiados.)

O Orador: — Uma insigne cobardia?! Pois imagina o sr. presidente do conselho que a historia politica d'este paiz só póde ser folheada pela mão septuagenaria de s. ex.ª? Imagina de certo, porque disse ao meu leal amigo e collega o sr. Lopo Vaz que desconhecia a historia d'este paiz, porque era muito novo. Suppõe s. ex.ª que nós os homens novos não conhecemos a historia do nosso paiz. S. ex.ª, dizendo que seria uma insigne cobardia saír do ministerio por ter sido eleito para a commissão de resposta um membro da opposição, fulminou o governo de 1865. (Apoiados.) E condemnou-se a si proprio que fazia parte d'elle. (Muitos apoiados.)

Era presidente do conselho o sr. marquez de Sá, e era chefe da opposição n'esta casa o sr. Fontes. O sr. Fontes foi eleito para a commissão de resposta e o sr. marquez de Sá em seguida pediu a sua demissão. (Apoiados.) Era cobarde o sr. marquez de Sá quando pedia a sua demissão? Era na opinião do sr. marquez d'Avila. (Apoiados.)