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SESSÃO DE 23 DE JANEIRO DE 1886 163

Pois então existem odios velhos e rivalidades profundas, e Braga recebe sem protesto, nem manifestações de desagrado, e pelo contrario com benevolencia e respeito, quantos cavalheiros de todas as cores politicas aquella cidade lhe têem mandado como magistrados superiores do districto?
Quem ignora que ha entre as duas cidades intimos e antigos laços de amisade, de relações e de parentesco?
Não têem entrado n'esta camara filhos de Braga eleitos pelos filhos de Guimarães, quando as paixões politicas mais se debatiam?
Poder-me-ía alongar n'este campo e deixar a toda a luz provada a falsa idéa das rivalidades e odios que nunca existiram, e que hoje se invocam como argumento em favor da caprichosa pretensão da desannexação, mas não é esta occasião propria para d'isto se tratar.
Disse o sr. presidente do conselho que Braga esteve pacifica e socegada durante o periodo em que Guimarães esteve agitada.
O illustre presidente do conselho disse a verdade.
Braga procedeu d'esse modo a que alguem chama indifferente porque nunca se convencera que tumultuaria e caprichosamente se fizesse uma nova circumscripção districtal.
Pois um concelho que em grande parte das suas freguezias está a meia hora de distancia ou a uma hora da cabeça do districto a que pertence havia de passar para o districto do Porto, cuja distancia é incomparavelmente maior, só porque os desejos de alguns cavalheiros, por mais importantes e qualificados que sejam, assim o resolveram rapidamente, instantaneamente? (Apoiados.)
Podia Braga agitar-se quando sabia que uma grande parte dos povos de Guimarães estão 4, 6, 8 a 10 kilometros afastados da cabeça do districto, e só pretendia leval-os para o Porto, que fica distante d'esses povos 40, 50 a 6O kilometros? É claro que não. (Apoiados.)
Alem d'isso a maxima parte das relações de Guimarães são com Braga, e não com o Porto.
A cidade de Braga não se convenceu de que realmente podesse haver rasões que actuassem no espirito do governo, e o levassem a apadrinhar a tentativa de uma desannexação a que se oppunham as condições topographicas, as relações antiquissimas e a intimidade em que viviam aquelles dois povos. (Apoiados.)
Braga confiava no alto criterio do governo.
Por isso só se agitou e levantou de um modo verdadeiramente imponente, como o governo sabe, quando o meu antigo amigo e illustre deputado o sr. Franco Castello Branco apresentou aqui um projecto de lei, que frouxamente se justifica no seu relatorio, apesar do brilhante e invejavel talento de s. exa., projecto que se me afigura a continuação ou antes o termo da caprichosa vontade dos cavalheiros vimaranenses arvorados em commissão de vigilancia e resistencia.
Digo e não quero, deixar de repetir aqui que o incidente de Guimarães teve uma unica causa, e que essa causa foi a nomeação e conservação do governador civil de Braga. (Apoiados.) Se em seguida a esse conflicto, que Braga sentiu e contra o qual protestou, o governo tivesse demittido aquelle funccionario, estava tudo acabado, e nem o governo se veria nos apuros em que hoje se vê, nem duas cidades se encontrariam agitadas como estilo. Elle, porém, havia escripto, affirmado e declarado publica e officialmente que só sairia quando quizesse e lá saiu só quando quiz. É verdade, sr. presidente do conselho? (Riso.)
Também este ponto ficará para liquidar mais tarde. Ao sr. marquez de Vallada deve o governo os grandes embaraços de hoje, e ao desleixo do governo devem duas grandes povoações o estado de excitação em que se acham, principalmente Braga, cuja população é muito maior.
Disse o sr. presidente do conselho que foram ouvidos os deputados de Braga d'aquelle districto sobre a pretensão da cidade de Guimarães. Não o nego, mas pela minha parte declaro que não fui ouvido; e faço esta declaração minha para minha defeza; porque se tivesse sido ouvido sobre o projecto e n'elle por qualquer fórma concordasse, não estaria n'este momento a combatel-o, porque seria isso improprio do meu caracter. Sei que mais alguns collegas meus, deputados pelo districto de Braga, tambem não foram ouvidos.
Declaro que sinto bastante ter sido forçado a abandonar os meus amigos e chefes politicos, a quem sempre servi lealmente, e sob cujas bandeiras me alistei logo que entrei na politica, mas os factos são o que são, e foram os factos que a isso me obrigaram; foram esses antigos amigos politicos que me empurraram para este lado onde estou, e estou muito bem.
Disse ha pouco o sr. presidente do conselho que ha de manter a ordem publica. Mas quando o administrador do concelho devolvia ao governador civil officios uns apoz outros, com a declaração do correio de Guimarães de que eram devolvidos porque o destinatario os não queria receber; quando a camara municipal procedia do mesmo modo inqualificavel e attentatorio da lei, não deveria o governo ter procedido com energia? Pois não havia desordem franca e desembuçada dentro da administração do concelho, dentro da camara municipal de Guimarães? Só as arruaças é que são perturbadoras da ordem publica? Que fez o governo? Absolutamente nada.
Alargou mais o conflicto, e vem agora embaraçado e titubiante pedir que o ajudem a salvar a situação que elle proprio creou! (Apoiados.)
Não quero alongar-me em mais considerações, porque não tenho a pretensão de esclarecer a camara; mas não posso terminar sem pedir, para tranquillidade da cidade de Braga, que fique bem consignada a promessa do governo, de que ha de empregar todos os meios de conciliação para conservar as cousas no estado em que estão, isto é, para conservar a integridade do districto, como é justo e necessario.
Ninguem mais ardentemente deseja isto.
Terão o meu voto os que estiverem do lado de Braga. Tudo esquecerei para defender a minha terra o os seus direitos, e eu, que sou o menos republicano possivel, estaria a par do sr. Elias Garcia e dos seus amigos se me dessem o vencimento n'esta questão de justiça. (Riso.)
Não me parece infelizmente que sejam faceis de alcançar esses meios conciliatorios e platonicos, mas se se descobrirem eu serei mais ministerial n'esta questão do que o proprio sr. presidente do conselho, porque o que eu quero é que se resolva a questão de Braga, conservando-se inteiro, como hoje está, o seu districto.(Muitos apoiados.)
Seria uma felicidade; mas eu, sr. presidente, receio que se malogrem todas as tentativas, porque a questão é clara e está posta a não deixar duvidas em espirito algum: de um lado está Braga, que tem justiça, de outro lado está Guimarães, que a não tem.
Braga, segura e forte no seu direito, pede respeitosamente justiça; mantem-se energica mas dentro da lei, e não procede anarchicamente; não corta as relações officiaes; não desconsidera as estações e tribunaes superiores, não se poz fóra da lei, porque um illustre deputado apresenta um projecto para desannexar
Guimarães do seu districto e annexal-o ao districto do Porto.(Apoiados.)
O mais completo e correcto procedimento do governo, devia derimir prompta e abertamente a questão: dar justiça a quem a tem, e Braga é que tem justiça. (Apoiados.)
Eu não quero prolongar esta discussão: não tive pretensões de fazer um discurso; quiz só consignar bem a minha opinião n'esta questão, que se agita aqui e mais se está agitando n'um dos districtos mais ricos e mais importantes do reino.
E agora, se v. exa. me dá licença, mando para a mesa duas representações que enviam a esta camara a camara municipal de Braga e uma commissão de um comicio de

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