SESSÃO N.º 14 DE 5 DE FEVEREIRO DE 1902 11
valor, não é licito reserva lo para uso proprio, é preciso mandá-lo para exportação - como for conveniente (Risos).
Estabelecida assim a attitude do partido progressista, pelas declarações do seu illustre leader, a, duas tristes conclusões se chega: primeira, que o partido progressista, pelo seu proceder parlamentar, não soube destruir, nem saberá construir; não soube combater os abusos dos seus adversarios, nem soube lançar aos quatro ventos as formulas de uma politica nova; segunda, que o partido progressista fez um enorme desserviço ao Parlamento e ao pais, porque, no momento em que se discutia o bill, a sua obrigação era procurar ferir a nota da não indispensabilidade das medidas apresentadas, o procurar influir, tanto quanto pudesse, para que d'ora avante a iniciativa legislativa se limitasse ás medidas absolutamente necessarias.
Termina o orador, referindo se á moção que mandou para a mesa, na qual, juntamente com toda a maioria, exprime a sua satisfação pelas explicações do Governo, confiado em que o Sr. Hintze Ribeiro, e o Ministerio da sua presidencia, ha de saber continuar a honrar as tradições do seu partido e a zelar os legitimos interesses do país.
(O orador foi multo cumprimentado).
(O discurso será publicaria na integra, e em appendice, se S. Exa. o restituir).
O Sr. Presidente: - Vae ler-se a moção mandada para a mesa pelo Sr. Arroyo.
Leu se e foi admittida.
O Sr. Presidente: - No uso da auctorização que a Camara me concedeu vão ler se os nomes dos Srs. Deputados que hão de compor a comissão de artes e industrias:
Albino Maria de Carvalho Moreira.
Alvaro de Sousa Rogo.
Antonio Alberto Charula Passanha.
Anselmo Augusto Vieira.
José Maria de Oliveira Simões.
José Maria Pereira de Lima.
Julio Augusto Petra Vianna.
Luciano Antonio Pereira da Silva.
Manuel Homem de Mello da Camara.
O Sr. Antonio Cabral (sobre a ordem): - Sr. Presidente, em harmonia com as prescripções do regimento, começo por ler a minha moção de ordem:
«A Camara, attendendo a que o Sr. Presidente do Conselho declarou em sessão de l do corrente que as medidas promulgadas pelos differentes Ministerios, por virtude da auctorização constante do artigo 18.° da carta de lei de 12 de junho de 1901, determinavam notaveis economias, convida o Governo a mandar publicar no Diario da Governo, com a maxima brevidade possivel, a conta minuciosa e justificada d'essas adegadas economias. = Antonio Cabral».
Sr. Presidente: é com a mais profunda tristeza que eu começo o meu modesto discurso. Realmente, quando um orador da pujança do Sr. Arroyo, possuidor de um talento luminoso o brilhantissimo, quando um orador fluente e elegante como S. Exa. que nos encanta sempre com as flores da sua palavra e com a eloquencia do seu verbo, faz um discurso, numa questão d'esta ordem, como aquelle que a Camara acaba de ouvir, é porque, Sr. Presidente, ha causas que não teem defesa. (Apoiados). Quando um assumpto é mau, quando uma questão é indefensavel, não ha eloquencia, não ha artificios de palavra, não ha brilhos de rhetorica, não ha orador, por mais eloquente, que possa defender essa causa e que possa tratar esse assumpto á altura que deve ser tratado. (Apoiados). E causa tristeza, isto!
Sr. Presidente, se eu não tivesse na maxima conta a lealdade partidaria do Sr. Arroyo, diria que S. Exa., com o seu discurso, teve unicamente por fim comprometter o Governo (Apoiados) e mostrar a toda a Camara que elle, nesta questão lastimavel, não podia ter defesa; mas, como eu não duvido um instante sequer da lealdade de S. Exa., e tenho em toda a conta as suas qualidades e os seus merecimentos, conclue que é o Governo que não tem defesa (Apoiados), que o Governo ficou a descoberto, e que o primeiro o mais brilhante orador da sua maioria não teve um unico argumento para vir aqui contrapor ás provas, factos o argumentos que o Sr. José Maria de Alpoim, meu querido amigo, expôs á Camara, num dos mais bellos discursos da sua triumphante carreira politica. (Apoiados).
V. Exa. viu a attitude do Governo, enterrado nos seus fauteils; viu a attitude da maioria, sorrindo com o sorriso do Sr. Arroyo, gozando com o seu espirito, regosijando-se com a graça dos seus ditos, mas afundada tambem nas suas cadeiras, envergonhada, corrida, por ver e reconhecer que não havia um unico argumento de defesa, uma só razão de desculpa, por parte do Governo, para demonstrar que elle não tinha excedido as larguissimas auctorizações parlamentares que lhe foram concedidas! (Apoiados).
Sr. Presidente, V. Exa. viu que uma das principaes flores de rhetorica, uma das principaes girandolas de eloquencia, permitta-se-me a phrase, do Sr. Arroyo, foi aquella em que S. Exa. descreveu a colica eleitoral, a colica incidental a colica da crise e outras differentes especies de colicas que descreveu á Camara, estupefacta de tanta colica.
Pois eu direi que S. Exa., nesse momento, estava com a colica ao assumpto, com a colica do estudante que se via com a lição em branco, não sabendo o que havia de dizer perante aquelles que teem de julgar o Governo, o que somos todos nós e é o país.
Sem offensa para o Sr. Conselheiro João Arroyo, por cujo talento tenho a maxima consideração, e cuja graça, espirito e palavra sempre elegantissima muito admiro, o discurso de S. Exa., nesta sessão, foi proprio da epoca carnavalesca que atravessamos
Pois, porventura, depois de dois vibrantes discursos, como foram os do Sr. José de Alpoim, cheios de provas, recheados de factos, com indicações, datas e citações precisas, pode-se vir aqui fazer um discurso da natureza do que acaba de proferir o Sr. Conselheiro João Arroyo?
Qual é a conclusão que V. Exa., Sr. Presidente, tira d'esse discurso? Qual é a conclusão que o país ha de tirar amanha d'essa oração? É que o Governo não tem defesa; é um reu indefensavel. (Apoiados). É que a verdade, por mais que queiram empanar-lhe o brilho, resplandeço sempre como o sol; o não ha palavra, por mais eloquente, nem discurso, por mais brilhante, que possa conseguir impossiveis, (Apoiados).
E por isso ouvimos o discurso do Sr. Arroyo, cheio de imagens, finura, espirito e graça, mas sem um unico argumento, sem uma só razão, vazio, oco, sem se referir, defendendo-os, aos factos extraordinarios praticados pelo Governo e denunciados á Camara, nos seus brilhantes discursos, pelo Sr. Conselheiro José de Alpoim. (Apoiados).
V. Exa. e a Camara ouviram a resposta do Sr. Presidente do Conselho ao primeiro discurso do Sr. José de Alpoim, e reconheceram, certamente, que esse discurso do Sr. Hintze Ribeiro foi, talvez, o peor da sua longa carreira parlamentar e politica. Porque?
Porque não é possivel, repito mais uma vez, defender aquillo que não tem defesa. (Apoiados).
O Governo enveredou por um caminho que não devia seguir, deixou a estrada larga, aborta e franca, para trilhar encruzilhadas escuras, com o fim unico de poder presentear, com benesses e empregos, individuos que era necessario prender, por esse meio, a sua fé partidaria. D'ahi,