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era pela bocca do Sr. Ministro da Fazenda; e o Sr. Relator da Commissão disse — O Governo interveiu, mas por meios beneficos. — Este adjectivo leve em mira adoçar a expressão do Sr. Ministro da Fazenda, mas não lhe tira o effeito, pelo contrario é uma palavra que fórma ella só um grande processo. O Governo interveiu, Senhores, por meios beneficos, isto é, corrompeu.

Sr. Presidente, muito antes de corrido o Processo Eleitoral, 30 ou 40 dias antes, já em todo Portugal, toda a gente que lê Periodicos, sabia quem eram os individuos que haviam de saír Deputados pelos differentes Circulos do Reino. Está em discussão a eleição dos Arcos de Val de Vez; muito antes, repito, de começar o Processo Eleitoral, sabia eu, sabiam todos, quem eram Os Cavalheiros que deviam entrar em S. Bento por Arcos de Val de Vez. O Governador Civil de Vianna escrevia com mais de um mez de antecipação ao Administrador do Concelho de Arcos de Val de Vez o seguinte officio:

«Levo ao conhecimento de v. S.ª a lista dos Candidatos que por esse Circulo devem (note a Camara, devem) ser escolhidos para fazer parte da Representação Nacional. Espero que v. S.ª por si, e pelos seus subordinados empreguem todas as diligencias, (todas as diligencias, ouça a Camara, todas) ao seu alcance para que se realize a eleição dos individuos que indico, por ser conforme aos desejos do Governo.))

O Governador Civil de Vianna abusando da sua auctoridade diz — Devem, sair Deputados estes e aquelles; para este fim empreguem-se todos os meios, por assim o querer o Governo! — Que escandalo, Sr. Presidente! E os nomes que recommendava eram os Srs.

Antonio Pereira da Silva Sousa e Menezes.

João Nuno Silverio Cerqueira Gomes de Lima.

Placido Antonio da Cunha e Abreu.

E são justamente estes Cavalheiros os que vejo aqui na Junta Preparatoria. E disse mais:

«No correio de quarta feira eu direi a v. S.ª áquem é o quarto Candidato.» Acredito piamente que o quarto indicado foi o que saíu; porque quem póde o mais, póde o menos: n'uma segunda feira fez tres Deputados, na quarta podia fazer um. Intervir por este modo não é intervir por meios beneficos, é Impor, e é contra esta imposição que eu clamo; é contra este escandalo que eu me insurjo. A Regeneração, ouvi dizer, e Ii escripto, foi feita contra as demasias do Poder Executivo; foi feita para nos outorgar em toda a sua pureza o Systema Representativo, dar toda a latitude, sincera, leal e franca ás practicas do Systema Parlamentar: e que vemos nós? Vemos o Governo collocar o Empregado Publico entre o sacrificio da sua consciencia e o da sua subsistencia, obrigando-o, ou a votar á vontade do Governo, ou a ser demittido!

O Governo ganhou as eleições em todos os Districtos do Continente do Reino, menos em Béja, o Santarem, se me não engano; mas com certeza perdeu em Béja. No Districto de Béja demittiu toda a gente que não interveiu a seu favor no Processo Eleitoral; fossem Empregados de Commissão, fossem muito, embora Empregados com Carla de serventia vitalicia, não respeitou consideração alguma; demittiu a torto e a direito. O meu illustre Collega, o Sr. Corrêa Caldeira, já leu á Junta a lista das demissões dadas pelo Governo naquelle Districto, mas eu a vou lêr segunda vez, por que não faz mal.

Em primeiro logar o Governo para preparar as eleições a seu modo dissolveu as Camaras Municipaes de Ferreira, e de Odemira; e tinha previamente demittido os Administradores dos Concelhos de Almodovar, Odemira, Messejana, e Castro Verde.

Alem disto recorreu a todos os meios de ameaça, de baixas intrigas, e de vis perseguições: como não chegasse com isto aos seus fins, fez mais: demittiu ou suspendeu os Empregados que nobremente se recusaram aos attentados que exigia delles, e foram nada menos do que todos estes:

Francisco Roberto de Sousa Pinção, Escrivão encartado da Administração de Aljustrel (demittido). José Prudente Marques de Barbuda, Escrivão de

Fazenda (suspenso). João Telles Tinoco de Menezes, Substituto do Administrador do Concelho de Béja (demittido). Manoel Joaquim Condeça e João Paim (demittidos das Regedorias das Freguezias de S. João, e de S. Salvador).

Antonio Agostinho Marques Guerra, Escrivão encartado da Administração do Concelho de Ferreira (demittido). Demittido tambem o Escrivão da Camara.

Carlos José da Malta Veiga, Escrivão do Juiz Ordinario de Ferreira (demittido). Manoel Caetano da Costa, outro Escrivão do mesmo Juizo Ordinario (demittido). Jacinto Ignacio de Mello Garrido, Escrivão encartado da Camara de Mertola (suspenso). Suspenso tambem o Recebedor do mesmo Concelho. José Francisco Pinto, Escrivão encartado da Comarca de Messejana (suspenso). José Romão Nunes, Escrivão encartado do Concelho de Odemira (demittido). Joaquim Pedro, Escrivão da Administração do Concelho da Vidigueira (demittido). Manoel Luciano Moreno Gaio, Administrador do Concelho da Vidigueira (demittido). Pedro de Fontes Serra, Sub-Delegado do Procurador Regio (demittido).

E até não tendo já que demittir, foi demittir um Mestre de Primeiras Letras no Concelho da Vidigueira!

Ora, é este o Governo que nos falla em tolerancia! Não sabe Lisboa toda; não viu ella a ridicularia sem nome, commettida pelo Governo contra um Cavalheiro, sómente por emprestar a sua casa para uma reunião de alguns individuos do Partido Cartista? O Sr. José Maria da Silva emprestou a sua casa, não tanto movido por principios politicos, como por principios de attenção e delicadeza, a alguns Cavalheiros que quizeram tractar da questão eleitoral. E que fez o Governo? Demittiu immediatamente o Sr. José Maria da Silva do importantissimo cargo de Commandante do Batalhão da Carla!!! Não sei se me ria, ou se esconda a cara com vergonha! Certamente era um grande perigo para este Paiz, corria o maior risco a liberdade eleitoral pela conservação do Sr. José Maria da Silva no commando do Batalhão da Curia! O Sr. Bissoni, que tinha tambem um alto cargo — o de Capitão — no Batalhão do Commercio,