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serevia a tal. Eu estou maravilhado! Dantes tudo era crime; tudo eram violencias, tudo eram desacertos, e hoje? Já tudo é legal, tudo é honesto, tudo é justo! Os homens calumniados já estão justificados!..

Sr. Presidente, eu por honra do Governo Constitucional sou Opposição, porque se nós tres não fossemos Opposição, o que seriado Systema Parlamentar! (Riso) Ora, Senhores, eu tambem me rio; rio-me quando olho para vós; quando olho para mim sou muito modesto, porque conheço a humildade da minha pessoa; mas quando olho para os outros tenho muita soberba, e muito orgulho.

É necessario haver Opposição, eu sou fatidicamente da Opposição, sou por temperamento da Opposição. (O Sr. José Estevão: — Até certo tempo) Está enganado. Estou mettido e intromettido na vida politica ha uns poucos de annos, e ainda nem um Habito de Christo pude agarrar; vejo todos os dias nascer muito Barão, muito Commendador, muito Conselheiro; eu não sou Barão, não sou Commendador, não sou Conselheiro; (Riso) e acha o illustre Deputado que eu sou muito ambicioso!.. Obrigado.

O. Sr. Presidente: — Os Srs. Deputados têem a palavra nos seus logares, permittam-me que usem dellas quando lhes compelirem; mas não haja dialogos.

O Orador: — Sr. Presidente, póde ser que eu esteja enganado; mas parecia-me, e emitti esta opinião ao principio, que discorrendo nós no Circulo dos Arcos de Val de Vez sobre todo o processo eleitoral, ficava esgotada a materia, e a Camara ganhava com isto.

Sr. Presidente, eu disse e repito que nunca vi em Portugal eleições em que o Governo se intromettesse tanto como se intrometteu agora, não vi. Se citarem as punhaladas, se citarem os bacamartes, tambem citarei as punhaladas, tambem citarei os bacamartes em Sinfães e Piães. Se me citarem os Commandantes de destacamentos, que não descarregaram as armas, tambem citarei os destacamentos que entraram nas Assembléas de Lagos. Eu direi ao illustre Deputado que em Mezão-Frio houve até a caricatura de um Escrivão de Fazenda á porta da Assembléa como guarda do processo eleitoral, com uma espada na mão entregando listas, e só embainhou a espada, quando appareceu um homem que lhe deu um bofetão. (Riso) Isto consta do processo, e o nobre Deputado, que é Relator da Commissão leia o processo. Do processo consta estar o Escrivão de Fazenda á porta da Assembléa com uma espada na mão, até que veiu de lá um homem do campo, que não estava para receber lista, e lhe deu um, bofetão, e o homem em logar de lhe dar lista, embainhou a espada. (Rino)

Até li á Camara, e ainda que eu não lesse, os Cavalheiros que estão aqui, que são muito lidos, e intendidos, deveriam ter visto, o Officio que o Governador Civil de Vianna mandou ao Administrador do Concelho dos Arcos de Val de Vez; todos temos conhecimento, e conhecimento de mais do Officio do Governador Civil de Bragança; todos sabemos o que se passou em Aveiro; todos sabemos o que se passou no Algarve, todos sabemos o que se passou em Sanfins e Piães, todos sabemos dos desaforos perpetrados em Béja pelo Governador Civil; sabemos além disto de muitas intrigas, de muitas tricas que houve neste Processo Eleitoral.

Eu não prescindo, Sr. Presidente, dos interesses materiaes, mas não sou daquelles que querem só interesses materiaes; eu tambem quero a moralidade, e a probidade do Governo; (Apoiados) não quero que a pretexto de um caminho de ferro, de desentupir um rio, de hastear umas bandeirolas, se postergue a honra e a probidade de uma nação; não quero a espoliação como principio, e a rapina como systema; não quero.

Não acredito em nenhum progresso moral, economico, honesto e decente do meu Paiz sem organisação definitiva da Fazenda; e esta organisação não a vejo eu, não a póde ver ninguem, em quanto o desperdicio e a prodigalidade forem a base constante da Administração.

Vou, Senhores, fazer uma confissão, embora esta confissão abone pouco a minha intelligencia: sou daquelles homens que acreditam na possibilidade do Governo Representativo; e esta crença leva-me a censurar certos actos que eu reputo infestos e nocivos ao Systema Representativo. Por exemplo, eu Deputado não posso vir á Camara dois annos a fio para approvar Actos de Dictadura; não posso; porque a minha missão não é approvar cegamente Actos de Dictadura; não é esta a missão de um Deputado. É triste cousa ver uma Camara servir constantemente de chancella! Acho pouco digno para mim, e para o illustre Deputado. (Dirigindo-se ao Sr. José Estevão) Tenho inveja do illustre Deputado, porque a sua jovialidade, e a presumpção, em que o illustre Deputado está, e está de boa fé, de que é superior a toda a gente, deve faze-lo muito feliz, deve dar-lhe momentos de uma bem aventurança prodigiosa. (Hilaridade) O illustre Deputado julga-se acima de tudo, e de todos! Não ha nada melhor. Eu tomára ter tambem esta persuasão, porque ria-me de todos, e nada me incommodava; crença que eu invejo soberanamente, porque sou o contrario do illustre Deputado, porque me julgo inferior a todos. E então quando vejo um Cavalheiro de tão bons dotes e qualidades assoalhar, ou dar a intender, que é superior a todos, invejo-o; invejo o illustre Deputado, S. S.ª é o ideal da minha ventura. (Hilaridade)

Não quero abusar da paciencia da Camara, e não quero abusar por uma razão muito simples, porque sei que a minha voz clama no deserto. Sei, Sr. Presidente, que esta eleição ha de ser approvada, bem como hão de ser approvadas todas as outras eleições; e que se alguma eleição tivesse de ser rejeitada, havia de ser unicamente a eleição de Béja. Mas porque fallo eu? Fallo, Senhores, para dar uma satisfação honrosa ao meu Paiz, e para declarar alia e poderosamente que continuo a ser, como fui na Camara passada, da Opposição.

Não espero nada, apesar de que no decurso da minha pequena vida Parlamentar, muitas profecias que eu aventei, teem sido realisadas, e muitos successos que eu previ, têem-se verificado mais depressa do que eu mesmo esperava. Tenho terminado, e reservo-me para uma questão grave, quando chegarmos á discussão do Parecer ácerca das eleições dos Circulos de Barcellos e Trancoso, para então instaurar o processo a essa eleição. Não hei de emittir opiniões minhas, mas tenho um acto muito importante, e é um Accordão do Supremo Tribunal de Justiça, e o da Relação de Lisboa; não será a minha opinião a que servirá para combater essas eleições; é uma opinião dos Tribunaes, que são reputados pela Carta Consti-