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DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

mentos, que pedi pelo ministerio da justiça, relativos no actual administrador do concelho do Barreiro, ao prior da mesma freguezia e aos motivos pelos quaes não tem sido posta a concurso a igreja do Palhaes.

Estes esclarecimentos pedi eu ha mais de quinze dias o ainda não tiveram, que me conste, a resolução que deviam ter.

Peço pois a v. ex.ª que, no caso d'estes esclarecimentos ainda não terem vindo, me reserve a palavra para quando estiver presente o sr. ministro do reino.

(Prestou juramento na qualidade de supplente á presidencia o sr. Bivar.)

O sr. Namorado: — Mando para a mesa treze requerimentos de officiaes de caçadores n.º 8, pedindo augmento de vencimento.

O sr. Luiz de Campos: — Mando para a mesa alguns requerimentos de officiaes do exercito, pedindo augmento de soldo.

O sr. Presidente: — Passa-se á ordem do dia.

ORDEM DO DIA

Continuação da discussão da moção apresentada pelo sr. Dias Ferreira na sessão de 18 de janeiro

O sr. Presidente: — Tem a palavra o sr. Manuel de Assumpção.

O sr. Manuel d'Assumpção: — Sr. presidente, o ministerio não tem partido, porque não tem principios: não tem popularidade, porque não tem grandeza; não póde presidir aos destinos d'esta nação, porque não é liberal; não póde administrar o paiz, porque não cumpre a lei. E um ministerio que assim está em opposição com o espirito publico da nação, que não se póde harmonisar com as camaras que a representam legalmente, nem com a justiça cuja independencia ataca, nem com o exercito que põe de parte nas suas considerações, nem com a industria que pretende sobrecarregar de impostos, tem um unico recurso: ir pedir a sua demissão. (Apoiados.)

Isto creio eu que elle vae fazer. E deveria agora, se a minha musa se prestasse a assumptos funebres, recitar o necrologio do ministerio.

Na sessão passada, quando o sr. ministro das obras publicas fazia aquelle triste é plangente discurso, e os alliados e os amigos de s. ex.ª se retiravam tetricos e descontentes, emquanto que os seus adversarios se levantavam alegres o zombeteiros, fazia no meu espirito as seguintes reflexões.

Se a um homem ignorante na arte de navegar, encarregassem de commandar a manobra de um baixel em que fossem encerrados todos os nossos haveres, e guiado em longa derrota através do oceano, quer se apresentassem mares cruzados e altos de escarcéu, quer estivesse mar chão e com galerno vento; elle, que não sabia esperar as marés, nem conhecer as conjuncções, nem quando convinha vogar ou suspender o remo, nem observar a cariz do céu para mandar ferrar o panno ou içar até aos topes, de certo empenharia todas suas forças para se eximir á tal responsabilidade, considerando como louco quem o obrigasse a emprehender trabalho que seria ruina certa para nós e perda inevitavel para elle. Pois bem; d'esta nau do estado, que não se tem em si os productos dos nossos grangeios, os thesouros das nossas conquistas, os documentos das nossas glorias passadas, mas leva os materiaes com que havemos de architectar o templo das felicidades futuras, abrigo dos nossos filhos, não ha ninguem que se não presuma capaz de ser piloto. (Apoiados.)

Todos crêem, todos imaginam que no cerebro lhes referve áquella chamma divina que se chama a inspiração do genio. Depois, quando sobraçam as pastas de ministro e sobem ao cume do poder, onde os outros lhes pareciam pequenos pela distancia a que os contemplavam, se os não toma do repente vertigem fatal que os despenha, se têem presença de espirito bastante para não perderem a cabeça em taes alturas, vêem surdir de todos os lados difficuldades que nunca imaginaram, surgem obstaculos com que não contavam, e breve succumbem esmagados pelas resistencias que os seus antecessores mais habeis o mais previstos iam debellando. — (Vozes: — Muito bem, muito bem.)

Sr. presidente, quando o ministerio se apresentou a primeira vez ao parlamento, eu fui um dos que o saudaram manifestando o desejo de lhe dar o meu apoio, não incondicionalmente, mas sob certas restricções de que a camara talvez se não recorde, mas eu tenho bem presentes no meu espirito.

Bons desejos me animavam então.

Desconhecedor, como ainda bojo sou, d'essa sciencia occulta, que ensina a tactita e estrategia politica, vendo á frente do gabinete o sr. marquez d'Avila e de Bolama, sorriu-me a esperança de que o ministerio presidido por s. ex.ª não seria um governo executor dos planos politicos de qualquer partido, mas sim um governo que, estranho ás paixões partidarias e superior ás exaltações parlamentares, inspirando-se na imprescriptivel necessidade de prover aos interesses moraes e materiaes do paiz, afastando-se das formulas estreitas e das normas tortuosas traçadas por qualquer grupo, todo se empenhasse em dotar a nação com as leis e melhoramentos de que ella carece.

A boa politica, a rasão, a consciencia e o dever traçavam esta senda ao gabinete; e eu então dizia: que o paiz seja bem administrado, continuando-se ininterruptamente os grandes trabalhos emprehendidos e encetando se outros de novo; que a prerogativa regia seja bem resguardada; que os direitos dos cidadãos sejam bem garantidos o assegurada a sua liberdade; que seja acatada a justiça e respeitada a independencia do poder judicial, como arca santa em que não é dado focar sem caír fulminado; que a patria seja bem defendida para que não perigue a nossa autonomia e não se empane o brilho do nome honrado o glorioso de Portugal, e eu apoiarei o ministerio e o cobrirei de bençãos pelas boas obras que fizer. (Apoiados.)

Fôra o ministerio organisado em condições especialissimas; saíra de grupos oppostos e que rijamente se têem combatido; não podia pois representar no poder as idéas exclusivas de qualquer d'esses grupos.

Para reprimir os assomos de impaciencia progressista que podessem assaltar o sr. Barros e Cunha, contava com as doutrinas conservadoras do sr. presidente do conselho.

Previa, e não era ser propheta, que o sr. ministro das obras publicas havia de sentir desejos de com um passo percorrer a terra com aquellas divindades de que falla Homero; (Apoiados.) confiava porém que o sr. presidente do conselho, invocando aquelles esplendidos principios que formam a excellencia do partido conservador, e são o culto do direito e a perfeita probidade politica, teria, força, sufficiente para lhe sopear os impetos.

Era um ministerio nacional o que eu imaginava.

Assim como em a natureza da acção de forças contrarias resulta o maravilhoso e harmonico systema do universo, assim tambem esperava eu que o ministerio actual entre a força motora do sr. Barros e Cunha e a força resistente do sr. marquez d'Avila e de Bolama, caminharia plácida e tranquillamente, tendo como norma, só as verdades eternas e afastando para longe de si esses interesses transitorios, para não lhes chamar mesquinhos, que na sua duração de um dia servem só para causar perturbações temerosas e provocar descontentamentos que nunca mais se olvidam. (Apoiados.)

Era ensejo, como talvez não appareça outro, para um ministerio que bem comprehendesse a sua missão poder prestar ao paiz os mais relevantes serviços e formar uma situação forte o duradoura. (Apoiados.)

Os velhos partidos vieram agrupar-se em redor d'elle, um suffocando os seus principios, o que lhe fez perder a força, (Apoiados.), outro esperando ver continuada a sua obra, o que, lhe dava confiança. (Apoiados.)