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DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

estrada disfarçados em carvoeiros, em arrieiros, vestidos de almocreves, e sem ninguem saber por onde desappareceram nem como tinham apparecido, deixando-me na alma o pavor que deve sentir quem vê a liberdade em perigo. (Riso.)

E já o sr. ministro do reino sabia o que era a reacção como o nobre ministro das obras publicas a descobriu nas suas visões magicas. (Riso.)

Mas eu creio que o sr. ministro não tem já as idéas tetricas. Os sonhos desappareceram, e com elles a reacção. Aquellas sombras eram filhas das perturbações e da phantasia ou resultado de uma noite mal dormida.

Agora porém caio em mim e me lembro de que talvez o nobre presidente do conselho considera as minhas doutrinas como doutrinas da internacional. Protesto que não são.

Eu declaro a v. ex.ª e á camara que detesto essa theoria composta de um romantismo absurdo e de um liberalismo bastardo, a que chama socialismo; e abomino esses pregadores de reformas sociaes que com o fim, dizem elles, de formar mundo novo de igualdade, atacam todas as condições de civilisação, pretendendo extinguir o capital que é o motor do progresso, a familia sacrario da ventura, a religião esperança da alma, a patria mãe sagrada e adorada de todos nós. (Apoiados.)

Considero como criminosos ou loucos esses homens que pretendem passar por sobre a sociedade o nivel da miseria, e edificar o templo do futuro á luz infernal dos incendios, tendo por obreiros a colera e a inveja, a raiva e a vingança. (Vozes: — Muito bem.)

Detesto o socialismo, o internacionalismo, sempre em toda a parte, e sob qualquer fórma que se apresente. Este creio que é tambem o pensar de todos os meus correligionarios. (Apoiados.)

Nós sabemos que essa doutrina chamada socialismo, não é mais do que um novo absolutismo mascarado pelo nome da liberdade; a mesma intolerancia, a mesma escravidão, que importa que seja do individuo ao rei ou á communa? É sempre a tutela publica arvorada em redempção e destruindo a liberdade civil do cidadão, e riscando todos os direitos e todas as garantias em nome de uma igualdade estupida e aniquiladora. (Apoiados.)

Repito, esta opinião creio que é a do partido regenerador e mesmo a dos seus alliados, sobre quem s. ex.ª parecia querer outro dia atirar a suspeita de que nós defendemos as doutrinas da internacional. Era injusta uma tal arguição.

Sr. presidente, se ha partido ao qual se não possa atirar tal injuria é o partido regenerador. (Apoiados.)

V. ex.ª sabe e todo o paiz que o partido regenerador no meio das convulsões que agitavam a Europa soube manter n'este paiz a ordem sem coarctar a liberdade. (Apoiados.)

V. ex.ª sabe que o partido regenerador, quando a Hespanha estava passando por todos os horrores causados pelos crimes da internacional e desvairamentos da republica, teve força para fazer com que taes idéas parassem nas fronteiras. (Muitos apoiados.)

V. ex.ª sabe que o partido regenerador teve sempre como inimigos intransigentes os homens que querem pôr escriptos no paço da Ajuda. (Muitos apoiados.)

V. ex.ª sabe e sabe todo o paiz que o partido regenerador nunca tentou ir investir com o rei. (Apoiados.)

V. ex.ª sabe e sabe todo o paiz que o partido regenerador quer sempre a ordem pela liberdade, o progresso fecundo das idéas pela redempção sublime do trabalho. Já vê v. ex.ª que no partido regenerador não podia haver internacionalistas. Creio mesmo que os não ha n'esta camara, que não ha aqui quem defenda os doutrinas da internacional. (Apoiados)

Mas ha muitos homens, que ou por uma aberração do seu espirito, ou por um desvio causado pela cegueira das paixões, ás vezes, sem o pensarem, estão pregando, executando o applaudindo as doutrinas da internacional. (Apoiados.) Sabe v. ex.ª quaes são esses? São os que estão a invocar todos os dias, todos os momentos a chamada tutela publica. (Apoiados.) Aquella tutela publica de quem o amigo de v. ex.ª, que a morte roubou ao paiz desgraçadamente para nós e desgraçadamente para a humanidade; fallo de Alexandre Herculano dizia: «Eu treino da tutela publica, porque á tutela publica é o ponto de união entre o absolutismo e o socialismo». (Apoiados.)

Ha muita gente, repito, que, sem o pensar, applaude o préga esta doutrina.

Querer substituir a acção do estado á iniciativa e liberdade individual, collocar a sua vontade superior á lei, dizer que não se importa com a legalidade, atacar de frente a justiça, não respeitar o poder judicial, não respeitar as garantias da ordem, não respeitar as garantias do trabalho, isto é que é ser socialista. (Apoiados.)

Como socialistas procediam os homens que desertaram da representação nacional e foram para a praça publica especular com as paixões populares, sem estremecerem diante dos horrores das revoluções. (Apoiados.)

Como socialista procedia o sr. ministro das obras publicas quando ía para o Casino abraçar-se com o partido republicano, pedindo-lhe auxilio para derrubar o partido regenerador. (Apoiados.)

Como socialista procedia o sr. ministro das obras publicas, quando desviando se da estrada que é alumiada pelo sol da justiça, tolerava que em seu nome se andasse angariando delatores de suppostos crimes para perseguição de innocentes (Apoiados), e se planeassem assaltos nocturnos á penitenciaria. (Apoiados.)

Como socialista procedeu o sr. ministro da justiça quando atacava a independencia do poder judicial e castigava o funccionario honesto que não calcou aos pés a consciencia para obedecer ao mandato ou ao capricho do governo. (Apoiados)

Como socialista e como absolutista procedia o sr. presidente do conselho, quando ligado ao sr. conde de Thomar atacava a liberdade de imprensa. (Apoiados.) Como socialista procedia o sr. presidente do conselho quando, arvorando a intolerancia em systema politico, atacava a liberdade do pensamento, a liberdade da palavra, mandando fechar as conferencias do Casino. (Apoiados.)

Como socialista, finalmente, procedia o sr. presidente do conselho, quando em 1852 estendendo a esquerda a Robespierre e a dextra a Narvaez, votava n'este parlamento contra a abolição da pena do morte nos crimes politicos. (Muitos apoiados.)

E o sr. Barros e Cunha na sessão anterior dizia com uma certa gloria, referindo-se ao meu illustre amigo e talentoso deputado o sr. Julio de Vilhena, que era a segunda vez que se encontrava na sua frente, uma quando combateu a pena de morte no codigo penal militar, e outra agora!...

Fez s. ex.ª d'isso um titulo de gloria, e não olhou para a sua direita, onde estava o sr. ministro da justiça, que votou a favor da pena de morte, nem para a sua esquerda, onde estava o sr. marquez d'Avila e de Bolama. (Apoiados.)

S. ex.ª viu apenas na sua frente um homem que pugnava pela disciplina militar, s. ex.ª viu apenas na sua frente um homem que quer que o exercito seja o defensor eficaz da independencia da patria, da liberdade e da ordem, e que não se quebrem n'uma occasião de terror ou n'um momento de allucinação os laços que prendem os heroes ao cumprimento dos seus sagrados deveres; e em face d'elle invocou as suas tradições, para que elle ficasse amesquinhado diante de tanta gloria.

Relembrou desvanecido o seu passado e declarou ufano que vinha da junta do Porto, que vinha d'onde se combatia pela liberdade. Eu lembrarei ao nobre ministro que, se