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DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

festas, e não interrompidas, do que se chama Associação da propagação da fé.

Imagina muita gente em boa fé, christãos e catholicos tão bons, ou melhores do que eu me prezo de ser, que esta associação, que tem a sua sede em Roma, anda effectivamente beneficiando pela India as igrejas que edifica do novo e aquellas que nos vae tomando ao nosso padroado; e é certo que muita gente mesmo em Portugal está subsidiando esta obra de religião sem saber que esta fazendo mal a si propria.

Sabe v. ex.ª o que se vê na India? Os nossos missionarios tiveram de transigir com as castas para fazerem os primeiros christãos, lembrando-se de que successivamente os poderiam ir melhorando; e tinham para isto a doutrina de Jesus Christo, que dissera: Omnibus omnia factus sum ut omnes facerem salvos.

Mas apesar d'isso conseguiram que as castas desapparecessem diante do altar, e d'este modo, quer fosse brahamine o padre, quer sudro, quer chardó, nenhuma distincção lhe dava a sua casta no exercicio do seu sagrado ministerio.

Sabeis o que tem feito a associação Propaganda fidei, não só respeitou o absurdo das castas fóra do templo, mas para lisonjear, ganhando com isso, estas aberrações que maculam a christandade no Oriente, concederam-nas aos padres nativos, mesmo no exercicio das suas sagradas funcções! De modo que, se n'um acto religioso concorrem tres sacerdotes de castas differentes nas igrejas da propaganda, o brahamine canta a missa, o chardó o evangelho, e o sudra a epistola.

Esta associação luta constantemente, quer no Oriente pelos meios que acabo de expor, quer em Roma perante o santo padre para haver todo o nosso padroado, e Pio IX tem resistido constantemente a estas solicitações, respondendo que o padroado pertence aquelles que lá implantaram a fé e a fecundaram com o seu sangue.

Porém é certo que em todos os tempos as nossas maiores difficuldades na questão religiosa nos tem vindo de Roma.

Resta-me fallar dos enterros civis que eu vi aqui stygmatisados por um dos mais illustres oradores d'esta casa, e tambem pelo nobre presidente do conselho, que tirou da sua pasta uns estatutos, que s. ex.ª para não nos assustar não chegou a ler.

Sabe v. ex.ª quem são os livres pensadores entre nós? São os pobres que não têem com que comprar uma mortalha, nem para pagar ao sacerdote o acompanhamento dos seus mortos. (Apoiados.)

Quer o sr. ministro acabar por uma vez com os enterros civis?

Faça reduzir às taxas dos acompanhamentos parochiaes, e a dos enterramentos nos cemiterios.

O sr. Presidente do Conselho: — Apoiado.

O Orador: — Queria tambem fallar a respeito das questões do exercito. Ainda queria fallar sobre as questões de fazenda, sustentando assim a minha moção de ordem. Queria fallar de outros objectos que já estão mais ou menos tocados; mas termino aqui o que tinha a dizer, porque se é certo que nós vamos a ser dissolvidos, não vale a pena continuar n'estas questões que irritam o debate á hora da nossa morte.

Entendo, pois, que o que nós nos cumpre é restringir quanto podermos de hoje por diante as considerações que houvermos de fazer, e votar se sim ou não temos confiança no governo.

Disse.

(Apoiados. — Vozes: — Muito bem, muito bem.)

(O orador foi felicitado por grande numero de srs. deputados.)

O orador não reviu o seu discurso.

O sr. Presidente: — A ordem do dia para ámanhã é a continuação da de hoje.

Está levantada a sessão.

Eram cinco horas da tarde.