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SESSÃO DE 24 DE JANEIRO DE 1885 239

tido progressista porque não havia declarado roto o accordo antes das eleições.

Sr. presidente, eu julguei que esta camara tinha sido livremente eleita, como disse Sua Magestade no discurso da corôa. (Apoiados.) Eu li as palavras que o governo pôz na bocca do chefe do estado, e essas palavras eram que esta camara, que estava aqui reunida para proceder á reforma da constituição, tinha sido livremente eleita. (Muitos apoiados.) O sr. presidente do conselho, com as suas insinuações impertinentes, querendo dar a entender â camara que os logares que a opposição occupava tinham sido dados por elle, veiu desmentir de uma maneira insólita as affirmações do discurso da corôa.

Declaro por minha parte que não sabia que devia o meu logar de deputado a s. exa., porque se o soubesse tinha, pelo menos, cumprido o dever de cortesia de lhe deixar um bilhete de agradecimento, (Riso.) Mas não teria abandonado o meu partido para ir unir-me às hostes ministeriaes, porque respeito bastante o caracter do sr. presidente do conselho para não poder suppor que s. exa. fosse capaz de dar a alguém um logar n'esta casa ou em qualquer outra parte, para lhe comprar o voto ou captar a adhesão. (Apoiados.)

As eleições não são do sr. Fontes, ao que me consta; mas se fossem, s. exa. não compraria com ellas partidarios.

O meu honrado chefe, o sr. Anselmo Braamcamp, ao abrir este debate, demonstrou em nobres e pratioticas palavras os motivos ponderosos que levaram o partido progressista a declarar guerra ao governo, a romper os últimos vestígios que existiam do accordo e a discutir este anno, contra o seu costume, a resposta ao discurso da corôa.

A substituição apresentada pelo meu amigo, o sr. Antonio Cândido, foi a condensação das declinações feitas pelo meu amigo e chefe, o sr. Braamcamp. A moçào que eu apresento, em obediencia apenas aos preceitos regimentaes, limita-se a ser a synthese da substituição mandada para a mesa pelo sr. Antonio Candido.

Sr. presidente, a sessão de 1884 fechou-se debaixo de uma atmosphera de paz e de concórdia.

E permitta-me v. exa. que, antes de proseguir, eu diga á camara, fallando da sessão de 1864, que não passa pelo meu espirito a idéa de me referir á celebre sessão dos quinze dias que o sr. presidente do conselho inventou para honrar lealmente os seus compromissos. (Vozes: - Muito bem.)

A sessão do 1884 para mim é a ultima da legislatura transacta. Essa sessão fechou-se, como disse, sob uma atmosphera de paz e de concordia.

Reinava então o accordo, ou, se não reinava, dominavam pelo menos os restos d'elle, os seus derradeiros vestígios. E se alguma vez o risonho programma do barão de Catanea, que no outro dia aqui nos appareceu no discurso imaginoso do meu amigo o sr. Manuel d'Assumpção, teve n'este paiz uma realidade pratica, foi de certo ao terminar a ultima sessào legislativa. (Riso ) Não quero discutir o accordo, porque não posso nem devo fazel-o. O paiz quer ouvir as explicações do governo ácerca dos actos abusivos por elle praticados, e quer ouvir por parte da opposição as accusações que a consciência publica formula.

Não póde gostar de assistir a discussões bysantinas sobre as cartas trocadas entre um membro da opposição e um membro do governo, que podem interessar á economia dos partidos e às suas relações reciprocas, mas que são relativamente insignificantissimas para o paiz.

A questão do accordo ficou hontem liquidada nesta camara depois das explicações trocadas entre o sr. Emygdio Navarro e o sr. presidente do conselho.

De resto, v. exa. sabe perfeitamente que a respeito do accordo eu posso dizer natus non eram. Não era ainda nascido politicamente quando elle se fez. Faço justiça aos intuitos nobres e patriocos com que entraram nesse pacto os meus correligionários, e não declino por forma alguma a parte que me possa caber nas responsabilidades collectivas que desse facto dimanem para todos os membros do meu partido. (Apoiados.)

Mas se as intenções dos meus correligionários foram boas, como eu sou o primeiro a reconhecer, peço licença aos meus amigos e á camara para citar o conhecido verso de Boileau:

De bonnes intentions l'enfer est pavé

D'esta vez quem havia de empurrar as intenções dos meus correligionarios para o inferno, era o sr. Fontes. (Riso.) A este proposito devo dizer que ouvi no anno passado casualmente um discurso do sr. presidente do conselho. nesta camara, e nesse discurso, finamente dialectico e habil como todos os de s. exa., proferiu o sr. Fontes uma phrase, que ficou indelevemente gravada na minha memoria. «O accordo, dizia s. exa., para mim, é principalmente a approximação dos homens.»

Esta phrase define. Para. o partido progressista o accordo tinha sido uma tregua partidária para se fazerem as reformas uteis para o paiz. Para o sr. Fontes o accordo tinha principalmente por fim diminuir attritos em volta da sua personalidade. Esta differença é eloquente. (Apoiados.)

O sr. presidente do conselho, no discurso que proferiu em resposta ao illustre chefe do partido progressista, o sr. Anselmo Braamcamp. disse que este illustre estadista se lhe afigurava, na sua intransigente dignidade, um representante do ancien régime parlamentar. Ora, eu confesso ingenuamente que, tendo o meu espirito aberto a todas as idéas modernas e generosas de liberdade e de democracia, gosto muito dos principios e das maneiras do ancien regime parlamentar, porque esto ancien régime é a gloriosa historia dos grandes parlamentares, é a historia dos Guizots e Thiers em França, é a historia de José Estevão e Passos Manuel em Portugal. Quando havia partidos fortes, e havia systema representativo verdadeiro, que é o que eu quero para o meu paiz, reinava o ancien regime parlamentar. (Apoiados.) Idéas modernas e maneiras antigas é o meu ideal do homem perfeito. Por isso me declaro adepto do ancien regime parlamentar, e folgo de ter por chefe um homem que tão nobremente o personifica.

No anno passado não reinou esse regimen. O velho regimen dos discursos energicos foi substituído pela moda nova das cartas amenas. (Riso.) Houve pouca oratoria e muita epistolographia. (Riso.) Escreveram-se muitas cartas, mas estou convencido que aquelles mesmos que as escreveram estão a esta hora bem arrependidos de o terem feito.

Eu, por mim o digo francamente, gosto mais dos politicos quando revestem o aspecto talvez apaixonado dos debates tribunicios, do que quando se entregam á suave tarefa de se converter em doces Sévignés. (Riso.)

Dizendo isto, e sendo certo que se alguma intenção dominante póde haver no meu discurso é a de não ferir ninguém, porque essa será a norma da minha carreira parlamentar, é bem claro que não quero magoar pessoa alguma com estas apreciações, e menos que todos ao sr. Emygdio Navarro, que, alem de meu correligionário politico, é meu amigo muito particular e meu mestre nas lides jornalísticas. Mas estou persuadido de que o sr. Navarro pensa hoje, sobre este assumpto da mesma forma que eu.

O sr. Emygdio Navarro: - Apoiado.

O Orador: - Sr. presidente, o que fez o governo durante o interregno parlamentar para transmudar assim a calmaria benigna, em que se encerrou a ultima sessão legislativa, na tempestade que neste momento se desencadeia na camara? Eu não quero citar senão dois factos: fez a dictadura de 19 de maio de 1884 e o adiamento das cortes constituintes.

Eu não creio, ainda mesmo que mo digam as couve-