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178 DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

uma injustiça flagrante, visto existirem despezas importantes que permaneceriam ainda que se effectuasse a pedida separação.
Requeiro a v. exa. que consulte a camara sobre se permitte que esta representação seja impressa no Diario do governo.
Foi auctorisada a publicação.
O sr. Simões Ferreira: - Sr. presidente, como está presente o sr. ministro do reino, aproveito a occasião para lhe dizer que as suas ordens em relação aos actos do administrador do concelho de Meda furam sophismadas.
Suspendeu-se efectivamente o administrador de Meda, que saiu do concelho, e foi um administrador de fora fazer a syndicancia ordenada; mas, passados dois dias, o administrador voltou ao concelho e está dirigindo os trabalhos da mesma syndicancia.
Ora, como isto não póde ser em face da lei, eu peço ao sr. ministro do reino que de as suas ordens, para que a lei se mantenha.
Como o administrador suspenso é substituto, porque não tem habilitações para ser effectivo, succedeu uma cousa que tem novidade: foi nomeado um administrador substituto interino, que mora a 4 kilometros da cabeça do concelho, e o administrador suspenso é quem, realmente, está dirigindo a administração do concelho, sendo a suspensão uma pura e simples formalidade, que tem existência official, mas se não torna effectiva nas cousas.
Ora, isto é uma verdadeira sophismação das ordens, e creio que das intenções do governo, e não póde nem deve continuar.
Aquelle administrador, depois dos factos de que a camara tem conhecimento, é um elemento de perturbação na ordem moral d'aquelle concelho, e é preciso providenciar para que se não conserve.
Nada mais, por agora.
O sr. Ministro do Reino (Barjona de Freitas): - Direi ao illustre deputado que vou pedir informações ao governador civil e que vou ordenar positivamente que se faça a syndicancia com a maxima imparcialidade, porque ninguém tem interesse em que os factos sejam deturpados e em que se proceda de um modo contrario ás leis.
Estou convencido do que o governador civil tem estado sempre e está ainda no propósito de proceder regularmente, mas aproveito a informação do illustre deputado para lhe perguntar o que ha a este respeito e para lhe recommendar que a syndicancia se faça em termos de verdadeira imparcialidade.

ORDEM DO DIA

O sr. Emygdio Navarro (sobre a ordem): - Principio por ler a minha moção de ordem, que é a seguinte:
«A camara, desejando que o conflicto entre Braga e Guimarães se resolva de prompto, para poder desembaraçadamente occupar-se da questão de fazenda, passa á ordem do dia.»
Entro n'esta discussão vivamente contrariado, e por mais de um motivo. Contrariado pelo assumpto em si, contrariado pelo incidente tumultuoso que acaba de dar-se e que me leva a modificar um pouco, se não as minhas idéas, a exposição d'ellas; e sobretudo contrariado por motivos particulares, que nada interessam directamente á camara, mas que sobre o meu espirito actuam de tal modo, que me obrigariam a ficar silencioso, se um dever partidario mais forte me não obrigasse a fallar.
Declaro, franca e lealmente, que de coração desejaria pôr-me ao lado do governo na questão, que se ventila, e que considero essencialmente de ordem publica.
Um tanto por impulsos do temperamento, e mais ainda por suggestões da reflexão e do estudo, reputo as questões de ordem publica as mais serias entre todas, e que a todas devem preferir e dominar. De bom grado daria, por isso, o meu apoio ao governo para que elle afastasse de nós, se podesse, esta questão irritante, que nos consomme o tempo, reclamado por outros assumptos de maior tomo, e as attenções que n'elles deveriamos concentrar. A comprehensão, que tenho, dos gravíssimos melindres da conjunctura, persuade-me de que, neste momento, ha objectivos parlamentares mais importantes. Caminhamos para conflictos muito mais ameaçadores e perigosos do que os que trazem mal avindas e incendiadas duas cidades do reino, sejam ellas, embora, das mais notáveis e dignas dos nossos cuidados. E entretanto, o governo, nem mesmo com o apoio do nós todos, poderia resolver satisfactoriamente o conflicto, que deixou nascer e medrar, e que, não estando, pela sua natureza, á altura do parlamento e dos poderes publicos, todavia se impõe fatalmente, pela força das circumstancias, á attenção dos poderes publicos e do parlamento. (Muitos apoiados.)
Permitia-me a camara que falle de mim, para accentuar melhor a lealdade destas declarações. Desde que rebentou o conflicto entre as duas cidades minhotas, não deixei na imprensa de advogar a conciliação, e de recommendar a todos prudencia e cordura. Não me apossei d'elle, para o explorar em sentido partidario. Não exacerbei os resentimentos de uns, nem provoquei e aticei a reacção dos outros. Não acariciei as paixões de um lado, nem preparei e fomentei do outro lado explosão igual. Abstive-me até de dar rasão a uns ou a outros, e só insisti em dar conselhos de moderação aos litigantes e ao governo avisos previdentes. A minha acção não teria força sufficiente para avolumar o conflicto, ainda que de outro modo procedesse; e se de mim fallo é só para mostrar que, no pouco que em mim estava, fiz o que pude para que o conflicto se não aggravasse. E só quando elle entrou no período agudissimo, em que o vemos, só quando a ordem publica se viu seriamente ameaçada pela continuação d'elle, é que eu saí d'aquella reserva conciliadora. O que digo de mim, digo-o de todos os meus amigos políticos. (Apoiados.) De cá, ninguem procurou utilisar este lamentavel conflicto como assumpto e arma de guerra partidaria. (Apoiados.)
O sr. presidente do conselho, para se defender de ter estado de braços crusados desde os lastimosos acontecimentos de 28 de novembro - e prouvera a Deus que assim estivesse estado, e que não tivesse asoprado ao incendio! - o sr. presidente do conselho perguntou á opposição o que tinha ella feito durante este tempo. A resposta, muito verdadeira, mas muito triumphante, é esta: Nada! A opposição não fez cousa alguma. E está nisso precisamente o seu elogio. (Apoiados.) A opposição deixou o governo livre de attrictos, e complicações partidárias e perfeitamente desembaraçado para serenar as paixões, apagar os dissentimentos, e reconciliar os animos. (Apoiados.) A opposição foi cordata o patriotica; o governo é que não foi previdente nem prudente. (Muitos apoiados.)
É isso, esse peccado original, que torna hoje extremamente difficil a situação do governo. É esse o motivo, por que o nobre presidente do conselho não póde responder, clara o categoricamente, á pergunta que lhe foi feita pelo illustre chefe do partido progressista, e meu amigo, o sr. Luciano de Castro. O nobre presidente do conselho, apertado pelas instancias, que deste lado lhe foram feitas n'esse sentido, respondeu: - «Essa resposta não a dou, porque não quero!»
Porque não quero! Devo dizer, que não me escandalisei com a altaneria d'estas palavras. Pelo contrario; confesso aos meus amigos o meu peccado: gostei da arrogancia. N'estes tempos que vão correndo, de tanto desprestigio para o poder, e de tanto rebaixamento e fraqueza no exercicio da auctoridade, apraz-me a mim que sou um auctoritario, ver affirmada assim, embora por um repellão, a firmeza d'essa auctoridade e a altivez d'esse poder. Direi mais: Não quero é uma phrase, que está á altura do homem eminente, que é chefe do governo e do partido regenerador,