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SESSÃO DE 25 DE JANEIRO DE 1886 179

e que tão largo predominio politico e de governo tem exercido n'este paiz. Nem todos a poderiam proferir; mas elle, póde. Precisamente, do que o paiz principalmente se queixa, é de s. exa. não empregar para repellir as solicitações de uma politica desordenada e ruinosa essa mesma phrase, que empregou para desattender uma pergunta, que não era indiscreta nem mal cabida. (Muitos apoiados.)
A phrase estaria á altura do sr. presidente do conselho; mas a verdade, aqui, não é essa. Peço venia para rectificar. O governo não responde... porque não póde. Não é porque não quer! (Apoiados.)
O governo metteu-se n'um beco sem saída. Deseja fugir, e não vê caminho aberto. Prendeu se numa rede, e, quanto mais esbraceja, mais as malhas o enlaçam e lhe tolhem os movimentos. O meu presado amigo, o sr. Antonio Candido, definiu perfeitamente a situação,, dizendo que esta questão é irreductivel para o governo. É, sim. O governo lucta, de um lado, com a justiça que assiste a Braga, e do outro, com os compromissos que contrahiu com Guimarães. Braga tem por si a força das rasões 5 mas Guimarães tem a força da palavra, que o governo levianamente comprometteu. (Apoiados.)
Foi este o pensamento do sr. Antonio Candido; e é elle de rigorosa verdade. A questão é irreductivel para o actual governo, mas só para elle. Não o seria, para outro ministério, ainda que fosse de igual côr politica, porque esse não teria os compromissos particulares e pessoaes, que são para este difficuldade invencivel. O governo actual, se attender ás solicitações de Guimarães, como lhe prometteu, offende a rasão e à justiça, que estão pela causa de Braga. E não é impunemente que poderia fazel-o. Se obedece á rasão e á justiça, e desattende as pretensões de Guimarães, offende os compromissos, que tomou, e que, entre os contrahentes, têem força tambem de justiça e rasão. Por isso affirmou o sr. Antonio Candido que a questão é irreductivel para o governo. Por isso digo eu, que elle se metteu num beco sem saída, e que, quanto mais esbracejar, mais se enredará em dissabores, (apoiados.)
A questão só se tornou grave, e póde tornar-se gravissima por esta rasão; é porque, para o governo, não tem saída.
O governo vae conciliar! Quer conciliar! Depois de ter empregado em acirrar as paixões o tempo, que devia ter empregado em as acalmar, pretende agora o governo ganhar tempo, a ver se consegue desfazer o mal que fez, e se a sua boa estrella lhe suggere algum expediente, que lhe permitia approximar aquelles que absolutamente querem distanciar-se, e levar a uma transacção honrosa e conciliadora esses que em nada querem hoje transigir! Infelizmente, as circumstancias mudaram. Hoje não é hontem.
O que o governo intenta fazer não é conciliação; pelo contrario, é um convite á agitação. (Apoiados.) Isto não. é pacificar, é abrir concurso de preferencias para a desordem e para a anarchia. (Apoiados.)
Disse o governo que a questão tinha duas phases: antes de Braga se manifestar e depois de se manifestar. E porque teve estas duas phases?
Braga, primeiro, esteve calada, disse o governo; como fallava só Guimarães, elle inclinou-se para Guimarães; depois Braga fallou, e o governo recuou logo, e ficou hesitante, por não poder immediatamente decidir qual d'essas duas cidades era a mais forte e mais poderosa, e qual tinha pujança para fallar mais alto e com maior vigor!!
Pois não vêem v. exas. que desde que a questão é posta nestes termos, as hesitações, por parte, do governo são um convite para que Braga e Guimarães continuem a sustentar a sua justiça e as suas pretensões, cada vez com mais energia, cada vez com mais vehemencia?!
Se a questão não é de justiça, que já podia estar averiguada, mas de força que ainda é peciso liquidar; se ella tem de resolver-se pela persistencia nos processos, que até aqui têem actuado sobre o governo, é claro que vencerá a
final, aquella que for mais energica e mais persistente. A que fraqueje, ficará vencida, porque será desattendida, E ahi estão os factos a comproval-o. Cada uma das duas cidades procura supplantar a outra com a importância das manifestações. Nenhuma fraqueja nem cede, antes pelo contrario, lucta cada vez com mais ardor! E a agitação não se acalma, porque nessa agitação é que está a esperança da victoria!
Por ora, as manifestações mantém-se no terreno pacifico, mas comprehende-se facilmente, que não é possível conservar por muito tempo n'essa temperatura macia os animos exaltados. (Apoiados.) Os disturbios não podem vir longe, porque a isso convida o governo os dois partidos, desde que poz a questão em terreno tão perigoso. Braga e Guimarães estão como dois gladiadores, que successivamente empenham todas as forças para vencer o inimigo. O que cair por mais fraco, esse ficará vencido e morto. O governo assiste ao combate, a ver para onde se inclina a força, a fim de coroar o vencedor. Isto é inadmissivel! (Apoiados.) E é muito perigoso, porque com o fogo não se brinca. (Apoiados.)
Não accuso o governo de ter provocado muito propositadamente este conflicto. Accuso-o de o ter deixado nascer por imprevidência, e aggravar por imprudências e complacencias reprehensiveis.
Seria de politica tresloucada, que o governo, luctando com graves dificuldades, fosse de animo leve attrahir sobre si mais esta, que é gravissima. Não o julgo incurso na anecdota de Alcibiades. O elegante e corrupto atheniense tinha um cão formosíssimo, e muito admirado; vendo-se a braços com serias complicações de governo, de que desejava afastar as attenções dos seus concidadãos, foi-se ao cão, e cortou-lhe a cauda. O pobre animal, partiu correndo e ganindo lamentosamente. E, como os espiritos futeis das epochas de decadência seguem as mesmas correntes era toda a parte, durante muitos dias seguidos Athenas desinteressou-se da marcha dos negocios publicos para inquirir quem e porque tinha sido cortada a cauda ao cão de Alcibiades. O astucioso atheniense conseguira a diversão desejada. Ora eu não creio, que o governo nos arranjasse com igual intuito este conflicto entre Braga e Guimarães; porque, em summa, tantas são as causas que perturbam a marcha regular da governação do estado, e algumas, como as de natureza financeira, são de preponderancia tão accentuada, que o governo não poderia em caso algum realisar esse proposito. Por mal de nós todos, e superiores a quaesquer ardilezas, ha assumptos de sobra, inexoravelmente impostos pelas circumstancias, às discussões da imprensa e do parlamento. (Apoiados.)
O conflicto entre Braga e Guimarães nem era preciso para animar as discussões, nem poderá escurecer os outros assumptos. Não obstante, é forçoso dizer, que este conflicto, nas suas origens, é da responsabilidade exclusiva do governo; e que elle procedeu com tal imprevidencia, e permitta-se-me a palavra, que vae sem animo injurioso, com tal leviandade, como se o quizesse crear!
A questão não teve unicamente duas phases, como disse o sr. presidente do conselho: antes e depois de Braga se manifestar. Teve tres; e a primeira, foi antes das lamentaveis occorencias de 28 de novembro, e nos dias, que immediatamente se seguiram. N'essa primeira phase é que se affirmam principalmente as responsabilidades do governo, e mais a claro se manifestam as suas culpas.
O governo, hoje, tenta, mas em balde, acabar com o desaccordo, que divide aquellas duas cidades. Houve, porém, um periodo em que uma e outra estiveram de accordo, e só em desaccordo o governo. Vou ler os documentos comprovativos, que não deixam a minima duvida, a este respeito.
No dia 30 de novembro reuniu-se, em sessão extraordinária a camara municipal de Braga, representante do res-