O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

SESSÃO N.º 15 DE 18 DE FEVEREIRO DE 1902 3

O Sr. Presidente: - Cumpro o dever de communicar á Camara o fallecimento do nosso collega Guilherme de Abreu, e por esta occasião tambem participo que nomeei uma deputação para acompanhar o saimento d'aquelle nosso illustre collega, que era composta, alem da mesa, dos Srs:

Affonso Xavier Lopes Vieira.

Alberto Botelho.

Anselmo Augusto Vieira.

Alvaro de Sousa Rego.

Antonio Maria de Carvalho Almeida Serra.

Julgo interpretar o sentimento da Camara, propondo que na acta da sessão de hoje se lance um voto de profundo sentimento pela perda d'esse collega, se façam as communicações devidas, e em seguida á discussão e aprovação da proposta, se for acceita, se levante a sessão. (Apoiados geraes).

O Sr. Presidente do Conselho de Ministros (Ernesto Hintze Ribeiro): - Sr. Presidente: com verdadeiro sentimento me associo, por parte do Governo, á proposta de condolencia que V. Exa. acaba de propor nesta Camara.

Morreu o mais antigo Deputado da Nação; esta consideração por si só bastava para se impor ao respeito e á veneração de todos (Apoiados); mas Guilherme de Abreu não era só o mais antigo Deputado da Nação, não ora só uma tradição viva, feita no nosso meio politico, conquistada pela forma inquebrantavel, segura, dedicada e leal com que acompanhou o partido regenerador. Guilherme de Abreu era mais do que isso; era um verdadeiro caracter, um português de lei (Apoiados), um homem que pela sua hombridade dava de si exemplo a todos que na vida publica veem trilhando esta ardua carreira; era o nosso decano; o amigo de nós todos, pelo seu trato leal e bondoso, pelo seu espirito culto, pela sua intelligencia, illustração e bom sentimento proprio. (Apoiados). Guilherme de Abreu era um verdadeiro patriarcha da nossa familia politica; como tal o respeitavamos e como tal a queriamos. (Apoiados}.

A sua perda é uma perda para todos, porque é a perda de um d'aquelles antigos elementos tradicionaes que na politica mais a affirmam e mais a honram. (Apoiados}.

Guilherme de Abreu tinha, sobretudo, tres grandes qualidades: a lealdade ao seu partido, a isenção na sua pessoa; a devoção, o amor entranhado pela causa publica, pelo seu país. (Muitos apoiados).

Pela sua lealdade é exemplo para todos, - e exemplo salutar.

Nos tempos de outr'ora, como nos tempos do presente, é a lealdade dos homens publicos que torna fortes os partidos mais vigorosos. (Apoiados).

No decorrer dos tempos passam os partidos politicos por vicissitudes e transformações successivas. Nascem ellas dos factos; originam-se nas questões que se debatem; por vezes provocam-nas resentimentos de occasião; mas deixam sempre, através de tudo e a despeito de tudo, uma funda saudade pelo sentimento de solidariedade intima que prende áquelles que batalhavam no mesmo campo e que uniam os seus esforços em commum, atrás de um ideal ou de uma aspiração.

Em todos os países onde ha partidos fortemente constituidos, nesses partidos ha desaggregações, ha transes mais ou menos difficeis, ha transformações mais ou menos radicaes; todavia, essas vicissitudes passam, as transformações tambem, mas os partidos ficam.

Porque?

Pela força da lealdade, da fé, da acção inquebrantavel dos que, dentro dos proprios partidos, constituem o seu elemento principal, como centro de resistencia. (Apoiados).

Ha na Inglaterra dois grandes partidos: o Wigh e Tory o partido liberal e o partido conservador.

É olhar para a historia d'aquelle grande pais, d'aquella nação onde o espirito da liberdade e do constitucionalismo é exemplo vivo para todas as outras nações.

Do partido liberal se desaggregou a fracção uniunista. A questão da Irlanda fez com que se separassem homens dos mais valiosos d'aquelle partido. Aquella figura austera que o dirigiu, impôs-se por vezes de forma a tornar qualquer transacção impossivel, - e d'ahi o fraccionamento. Dentro do proprio partido as questões eram encaradas no seu mais alto ponto de vista.

Batalhavam os generaes; acompanhavam-nos os seus soldados mais fieis, - mas o partido ficava, porque ficava o seu centro de resistencia, e da sua força.

O mesmo na Hespanha. Dois grandes partidos; o partido liberal e o partido conservador, presididos ha pouco por dois dos estadistas mais notaveis d'aquelle pais.

Pois apesar disso o fraccionamento deu-se. No partido liberal, e no partido conservador, homens de valor incontestavel, separaram-se, uns momentaneamente, outros para sempre, para não voltarem; e, todavia, na evolução dos acontecimentos, na resolução dos problemas de Governo, o partido caminhava, -tanto o partido liberal como o conservador.

Porque?

Isto pela força indomavel das circumstancias e d'aquelles que, dentro do seu partido, juraram a fé á sua bandeira, e que nunca mais se desviaram d'ella.

O mesmo em Portugal.

Por quantas vicissitudes, por quantos transes crueis, ás vezes difficeis e perigosos para a estabilidade teem passado os partidos!

Para não falar senão do partido a que tenho a honra de pertencer, depois da morte de Joaquim Antonio de Aguiar, tomou a direcção do partido um dos vultos mais gloriosos da nossa historia politica, - Fontes Pereira de Mello.

Viu separarem-se d'elle os seus marechaes mais denodados, aquelles com quem tinha commungado mais intimamente na vida publica, - Casal Ribeiro e Mártens Ferrão; e, todavia, eram elementos de valor incontestavel, parlamentares de primeira grandeza; mas, apesar de tudo, o partido ficou e seguiu.

Por morte de Fontes tomou a direcção do partido Antonio de Serpa. Separaram-se d'elle tambem dois vultos importantes e altivos pela sua palavra decisiva, e pela sua acção parlamentar: Barjona de Freitas e Thomás Ribeiro, e, todavia, através de grandes difficuldades, que bem grandes foram, através de uma quadra de tormentos e de procellas politicas, de factos que podiam subjugar a acção de qualquer partido, o partido seguiu e ficou.

Porque?

Pela força impulsiva, pela acção resistente, que dentro do proprio partido constituem centro de força e de defesa.

Á morte de Serpa, quiseram as circumstancias, os proprios factos, a circumstancia de ser eu o mais antigo, que ficasse com a direcção do partido.

Eu tenho visto, com desgosto profundo, separarem-se do meu partido, homens de alto valor, com os quaes tantas vezes, em tantas questões e procellas politicas me habituei a caminhar. Vi isso com desgosto; mas, apesar de tudo, o partido ficou e segue.

Não segue, é claro, pelo brilho da palavra de quem o dirige, nem segue só pela acção mais elevada, mais dirigente d'aquelles que me acompanham, - segue porque dentro do partido, como dentro de todos os partidos, ha este centro de resistencia, que nada absolutamente consegue abalar, e que faz com que através de todos os attrictos o partido fique. (Apoiados).

Pois era a esse centro de resistencia que pertenciam