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200 DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

serviço o consul de Cadiz, que tem ido a Huelva, á ilha Christina e â Madrid tratar deste assumpto, e que o governo não tem regateado um real para que aquelles nossos compatriotas sejam bem tratados.
Se houver algum facto que prove que a auctoridade portugueza a quem este serviço foi encarregado procedeu mal, o governo ha de castigal-a.
As ordens do governo foram as que acabo de indicar, e peço á camara que não acredite em exagerações, que suo muitas vezes filhas de rivalidades entre diversos indivíduos, não podendo ser tidas em conta taes informações por não serem authenticas.
Até se fallou em que alguns pescadores portuguezes tinham sido espingardeados; mas eu declaro que não me consta similhante facto.
Se algum tentou violar o cordão, aconteceu-lhe por certo o mesmo que succedeu a outros que em diversos pontos fizeram igual tentativa; isto é, a força que ali estava, não os deixou entrar, fossem portuguezes ou hespanhoes, e essa era a sua obrigação; mas não me consta realmente que Be empregasse nenhum rigor especial para com os pescadores portuguezes; absolutamente nenhum.
Devo dizer ao illustre deputado que a junta consultiva foi ouvida em relação á entrada dos pescadores e que, em consequência, o governo já deu ordem para que, visto ter cessado na ilha Christina o cholera, e ter passado o tempo sufficiente para haver a segurança de que já não ha ali, um foco epidemico, deu ordem, digo, para que os pescadores portuguezes entrem pelos lazaretos de Villa Eeal de Santo Antonioe de Eivas, em grupos, ao principio menores e successivamente maiores, conforme a capacidade desses lazaretos.
Levantou-se, porém, uma difficuldade pratica que provem da junta consultiva entender que seria preciso destruir os fatos que trazem os pescadores e substituil-os por outros; e isto não se consegue de repente.
Em todo o caso as ordens estão dadas e os inspectores dos lazaretos estão encarregados de resolver este pontos com a possivel brevidade.
Não sei se a camara quer, ou o illustre deputado, que se trate agora da questão do rigor sanitário. O que direi, porém, é que, em uma das ultimas sessões da camara do anno passado, a propósito de urna interpellação do sr. deputado Mendes Pedroso, disse eu aqui, quaes as medidas que o governo tencionava empregar, e então ninguém se levantou para as contrariar ou censurar o governo. (Apoiados.)
Quando o perigo era grande, todas as classes sociaes, a imprensa, toda a gente, pedia ao governo, não só a manutenção das medidas que tinha tomado, mas até que as exagerasse. (Apoiados.)
O que sei e posso dizer é que entraram no meu gabinete differentes indivíduos que pertenciam às redacções dos jornaes, que não eram partidários do governo, e aconselhavam o ministro a empregar todos os rigores, acrescentando alguns que deixasse fallar os jornaes.
O que sei é que entravam no meu gabinete indivíduos assustados porque estava defronte de Pedrouços um navio vindo de Marselha e pediam o máximo rigor nas providencias; e sei tambem que quando o perigo começou a passar, logo se começou a achar exageradas as medidas, e todos queriam que ellas cessassem de repente.(Apoiados.)
Ora, isso é que não póde ser; e com toda a franqueza declaro á camara que só pouco a pouco irei acabando com todos os rigores quarentenarios, quando a minha consciência estiver tranquilla de que não ha perigo para a saúde publica. (Muitos apoiados.)
Assim é que heide proceder; e se a camara entender que o governo procede mal neste caminho, diga-o claramente, que eu tomarei a responsabilidade do meu procedimento.
Eu, que sei perfeitamente que, passado o perigo, ninguém se importa com os esforços do governo nem com as medidas que se tomaram, sei tambem que ha dois annos que o cholera tem ameaçado o nosso paiz e que no anno proximo passado, quando todas as províncias de Hespanha foram invadidas, tivemos nós a grande fortuna de não entrar cá a epidemia. (Apoiados.) Não tivemos caso algum, a não ser um, ou outro, nos lazaretos. (Apoiados.)
Se por isto não ha motivo para elogiar o governo, porque elle não fez senão cumprir o seu dever, parece-me que pelo menos, não ha motivo para o censurar. (Apoiados.)
Vozes: - Muito bem.
(S. exa. não reviu as notas tachygraphicas.)
O sr. Ferreira de Almeida: - Peço a palavra.
O sr. Presidente: - Eu não lhe posso dar a palavra antes da ordem do dia, sem consultar a camara.
O sr. Ferreira de Almeida: - Eu desejava replicar às explicações do sr. ministro do reino.
O sr. Presidente: - Vou consultar a camara.
Consultada a camara foi-lhe concedida a palavra.
O sr. Ferreira de Almeida: - Agradeço á camara a sua benevolência em me conceder desde já a palavra.
Devo declarar, que se fui vehemente na apresentação de uma questão, que já tratei por duas vezes com a maxima cordura, é porque não tenho obtido até agora resolução do governo, e cada vez mais me penalisa a triste situação em que estão aquelles desgraçados. (Apoiados.)
Eu não pretendo fazer deste assumpto uma questão política, mas chamar muito seriamente a attenção do governo para este estado de cousas, e nada mais. Sei perfeitamente quanto seria prejudicial para a questão, levantal-a com o caracter de hostilidade; nem o assumpto é para isso, nem que o fosse, eu o faria; pretendo apenas reclamar, instar, pedir, solicitar emfim o governo, para que roube um pouco de tempo aos muitos trabalhos que porventura o occupam, ou aos seus ocios, para que attenda a esta situação desgraçada.
Não foi meu intento, como parece deduzir-se da resposta do illustre ministro do reino, descutir a utilidade ou inutilidade dos cordões sanitários; tão pouco podem referir-se a mim as reflexões que fez sobre os primitivos receios em discordância com as facilidades que agora se reclamam, porque na minha qualidade de official de marinha, não posso, nem devo preoccupar-me com epidemias, porque então não me teria alistado no serviço naval, que me obriga a frequentar paragens onde ellas são originarias, como o Brazil e a índia; ou a Guiné e o Zaire, onde as perniciosas são fulminantes.
O meu silencio sobre os primitivos rigores não significa acquiescencia, pela mesma forma que as minhas reclamações actuaes não significam reprovação.
A minha questão é outra. Houve cholera na ilha Christina, e o governo entendeu que não devia deixar vir os nossos compatriotas para o paiz, soccorrendo-os emquanto ali estivessem. Nisto discordo eu, porque, repatriando-os, e isolando-os, como fez com os ceifeiros da Beira, as despezas seriam melhor fiscalisadas e aproveitadas.
Mas, pergunto, para que são os lazaretos?
Porque se não fez logo entrar este pessoal nos lazaretos, sujeitando-os a uma quarentena rigorosa e aturada, e vindo por turnos?!
Disse o sr. ministro que houve alguns casos de cholera nos lazaretos; mas isso não impedia que se applicasse essa medida aos desgraçados que estão na ilha Christina.
Disso mais que se tem gasto muito dinheiro, por via dos consulados, com os portuguezes que estão em territorio hespanhol.
Também me não admira, mas isso não justifica nem desculpa a falta de outras providencias, que teriam feito cessar essas despezas, ou pelo menos reduzil-as até o momento actual.
O governo podia, por certo com muito menos dinheiro, ter mandado um commissario e assistentes médicos e administrativos á ilha Christina, para ter informações que lhe