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SESSÃO DE 28 DE ABRIL DE 1887 279

ainda hoje provas materiaes que confirmara todas as deducções que d'aquelles se tiram. Consistem esses documentos nos vestigios de habitações em localidades, em herdades, que de ha longos annos se acham despovoadas. Encontram-se esses vestigios, tanto no concelho de Beja, como no de Cuba. N'este ha tradição de haver existido uma villa denominada Malcabron em sitio hoje completamente deserto, no outeiro do Tijolo, sobranceiro ás hortas de Manteigas. E não é só a tradição, porque em documentos antigos faz-se referencia a uma povoação desse nome.

«Mas não é necessario remontar tanto no passado para encontrar provas d´esta diminuição de população propria mente rural: bastará um exemplo. Em vinte e sete herdade; da freguezia de Cuba ha hoje sómente seis montes ou casaes, mas encontram-se restos de montes em novo polo me nos d´aquellas herdades, os quaes ha trinta ou cincoenta annos eram ainda habitados por lavradores e seus creados de lavoura. Igual facto só observa nas outras freguezias do concelho, assim como no de Beja, como já tive occasião de indicar.

Estas palavras não reclamam commentarios, e os numeros anteriormente adduzidos mostram claramente a acção do regime da propriedade no progresso da população. Os aforamentos singulares do Minho quadruplicam-na, os aforamentos collectivos de Traz os Montes duplicam-na; o regime latifundiario paralysa-a e diminue-a no Alemtejo.

A resenha de 1535 talvez dê o maximo a que attingiu a população portugueza nos periodos historicos. Ainda então o systema vincular se não expandira com a importancia que teve posteriormente; e a descoberta da India datava apenas de trinta e sete annos antes. E quem percorre as biographias e memorias da nossa empreza oriental, quem consulta os fastos da nossa colonisação insulana e americana, vê como por toda a parte predomina o alemtejano e o extremenho: os homens do norte, mais enraizados no solo, não se abalançavam a aventuras, como os do sul. onde abundavam os desherdados da terra.

Se D. João I, para a expedição de Ceuta, póde facilmente armar 20:000 homens; se D. Affonso V, para ir a Arzilla, pôde armar 30:000: D. Sebastião, para ir morrer a Alcacer, apenas pode colligir 11:000 á custa dos maximos vexames e propotencias. Allucinada pelos thesouros das colónias ultramarinas, a nação desaprendeu as lições dos tempos da sua primeira dynastia. No dizer dos chronistas a Índia absorvia ao anno o melhor de 8:000 homens, e do seculo XVI para o seguinte a população teria baixado de metade. Em troca da gente branca que saía, entrava uma tal quantidade de negros que, na segunda metade do século XVI, Garcia de Rezende escrevia a conhecida trova:

Vemos no reino metter
Tantos captivos crescer
E irem-se os naturaes,
Que, se assim for, serão mais
Elles que nós, a meu ver.

Hoje, a nossa população refaz-se lentamente. Os 4.500:000 de habitantes do ultimo recenseamento representam o triplo de 1535. Houve, porém, n'este intervallo de tres seculos e meio, accelerações de marcha e paralysações de desenvolvimento; houve tambem, de certo, movimentos diversos nas varias regiões do paiz; das não existem dados por onde se possam avaliar essas circumstancias.
Na Memória, de Soares de Barros, a que alludimos já, regista-se o recenseamento do reino em 1776, pela Luta dos povos das comarcas d'este reino, mandada elaborar por Pina Manique, em 744:980 fogos, e pela Lista das freguezias e fogos dos bispados do reino, no fim do seculo, em 633:432. Quadruplicados, estes numeros representam 2.979:920 e 2.533:728 habitantes. Entre 2.500:000 e 3.000:000 de habitantes sommava no fim do seculo XVIII a população portugueza, que hoje é de 4.500:000. O Minho alimenta agora 1.000:000 de habitantes, attingindo a densidade maxima de 189 e minima de 92 por kilometro quadrado. O Alemtejo contem 800:000 com a densidade maxima de 17 e minima de 14.

Eis-aqui os resultados numericos dos dois ultimos recenseamentos de 1864 e 1878:

[Ver tabela na imagem]

Para que se veja agora quanto, em conclusão de tudo o que deixâmos escripto, a nossa população rural está desigualmente repartida, convém ainda oppor os concelhos mais populosos do norte aos desertos alemtejanos. Braga tem a densidade de 281 habitantes; Gaia, Ilhavo, Bouças, Louzada, tem-na de entre 267 e 200; Povoa, Guimarães, Paredes, de entre 184 e 147. Por outro lado, em Monforte, Aljustrel, Montemór, Benavente, a densidade é de 9 e 8 habitantes; em Coruche, Grandola e Aviz e de 7 a 6; e finalmente em Alcacer do Sal é de 5.

Este problema do desequilibrio da densidade da população, nas duas metades do reino, não encontrou ainda solução. Dir-se-ía que são duas faces de nina medalha irreductiveis; e os males que d´ahi provem traduzem-se no facto anormal da nossa emigração, perante a densidade media da nossa população.

Os registos da emigração declarada apresentam os seguintes numeros:

[Ver tabela na imagem]

1875 ....
1876 ....
1877 ....
1878 ....
1879 ....
1880 ....
1881 ....
1882 ....
1883 ....
1884 ....

Quaesquer considerações baseadas sobre estes algarismos seriam incompletas, porque, segundo é sabido a nossa emigração clandestina attinge proporções que elevam a emigração total annual a menos de 22:000 ou 25:000 habitantes. Note-se, porém, o progresso que estes numeros apresentam a partir de 1878.

A emigração media annual de 14:294, resultante da decada de 1875 a 1884 basta, porém, para denunciar, comparativamente, uma chaga medonha no nosso organismo economico. A emigração hespanhola não excede numericamente a nossa; todavia a Hespanha tem, com densidade igual, uma população quadrupla. Em Inglaterra, onde a densidade é de 105, emigra 1 habitante por cada 116; na