226 DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS
ças, o que não é de certo menos importante para o paiz.
Na vossa sabedoria e illustração, confio eu plenamente, e espero que, com o favor de Deus, nos empenharemos todos em promover e desenvolver a prosperidade nacional.
Está aberta a sessão.
ção e das finanças, com igual proveito, de certo, para o paiz.
Não esquece a camara quanto é difficil e árdua a missão que lhe cabe desempenhar; espera, porém, que, com o favor de Deus, fortalecida pela sua dedicação sincera aos interesses da patria e auxiliada pela confiança de Vossa
Magestade, poderá proficuamente collaborar com o governo de Vossa Magestade no desenvolvimento da prosperidade nacional.
Sala das sessões da commissão, 15 de janeiro de 1886. = Ignacio Francisco Silveira da Mota = Frederico Arouca = Moraes Carvalho = Correia Barata = Franco Castello Branco = João Arrogo, relator.
O sr. Luciano de Castro: - Pedi a palavra para declarar a v. exa. que, nem eu, nem os meus amigos políticos discutimos este anno o projecto de resposta ao discurso da coroa, e que nos reservamos para, por meio de interpellações, ou por qualquer outra forma, discutir e apreciar os actos do governo.
Sobre todas as rasões que eu poderia allegar n'esta occasião para justificar o nosso procedimento, prevalece a de não querermos de nenhum modo obstar a que sejam apresentadas com a maior brevidade ao parlamento as propostas financeiras que o governo promettou no discurso da coroa, e termos pressa de entrarmos no exame e apreciação financeira do thesouro, que a muitos se afigura, se não desesperada, pelo menos grave e melindrosa. (Apoiados.) Em face de uma divida fluctuante que se avizinha de 12.000:000$000 réis, de um deficit na gerencia do actual anno economico que é de cerca de 10.000:000$000 réis, e dos pesados encargos que hão de onerar o orçamento do próximo anno economico por causa do aggravamento das despezas publicas, sobretudo das despezas extraordinarias, numa grande desproporção com o crescimento natural das receitas, eu creio que são gravissimas as responsabilidades do parlamento, (Apoiados.) se não se occupar primeiro do que tudo desta triste situação do paiz. (Apoiados.)
Em vista destas considerações prevaleceu em nós, em mim e nos meus amigos políticos, a idéa de que o maior serviço que podíamos fazer á causa publica este anno era não discutir a resposta ao discurso da coroa, considerando-a como um simples acto de cortezia para com El-Rei. (Apoiados.)
Feita esta declaração, consinta-me v. exa. que, sem entrar na discussão do documento de que se trata, eu manifeste o meu sincero sentimento por não ver no discurso da coroa, nem na resposta a esse discurso, a mais leve menção a um acontecimento notável, que no anno findo preoccupou vivamente a attenção publica, despertou o sentimento nacional, agitou o espirito patriotico do paiz, e fez acordar, no meio da epocha de materialismo que vamos atravessando, os actos das nossas antigas glorias, das nossas heróicas tradições.
Alludo áquella heroica e arriscada travessia da Africa realisada pelos nossos illustres compatriotas Capello e Ivens, (Apoiados.) esses missionarios da civilisação e da sciencia, que a nação toda enthusiasticamente applaudiu com admiração unanime pelos seus grandes serviços e pela sua coragem pessoal. (Apoiados.)
A essa involuntaria omissão, porque não creio que fosse calculada, servirão de compensação no futuro os applausos da historia, como já o são no presente os testemunhos do reconhecimento e da gratidão nacional; (Apoiados.) mas penso que não seriam de mais algumas palavras sinceras e justas, em que ficasse bem consignado que os representantes do paiz se associavam às manifestações publicas com que a nação commemorou aquelles extraordinários e brilhantíssimos feitos. (Apoiados.)
Sr. presidente, não desejo que neste momento às minhas palavras se possa attribuir qualquer intenção política ou partidária, e por isso abstenho-me de mandar para a mesa qualquer proposta a este respeito; mas declaro A v. exa. que a votarei com muito prazer, se for apresentada, qualquer que seja o lado da camara de que ella venha. (Vozes: - Muito bem.)
Sr. presidente, neste campo póde bem desfazer-se toda a opposição, e apagar-se todas as divergências partidárias, para só deixar prevalecer um sentimento elevado e nobilíssimo, qual é e reconhecimento nacional por aquelles que, arriscando a saúde e vida, pensaram em servir honradamente o seu paiz. (Muitos apoiados.)
Vozes: - Muito bem.
(O sr. deputado não reviu as notas tachygraphicas.)
O sr. Presidente do Conselho de Ministros (Fontes Pereira de Mello):-Sr. presidente, se o illustre deputado se tivesse limitado a dizer, como em muitas circum-stancias é costume fazer-se por parte da opposição, que se abstinha de discutir a resposta ao discurso da coroa, porque se reservava para em occasião opportuna e como julgasse conveniente, tratar as diversas questões, pelas quaes queria chamar a responsabilidade do governo, eu não diria uma palavra á camará; mas como o illustrs deputado, abstendo-se de discutir a resposta ao discurso da coroa, não se absteve de fazer censura ao governo pela omissão que s. exa. encontrou no mesmo discurso, em referencia a um facto que todos nós admiramos, e que tem despertado, não só a admiração do paiz, mas da Europa, em relação á travessia da África pelos illustres exploradores Capello e Ivens, vejo-me na obrigação de dizer duas palavras sómente para justificar o governo da accusação que neste ponto lhe foi feita pelo illustre deputado.
E eu, sr. presidente, antes disso, direi que me congratulo com o illustre deputado pelo empenho que s. exa. mostra em que se discuta promptamente uma das mais importantes questões que interessara a todo o paiz, a questão de fazenda, e que fundamente nessa necessidade impreterivel a sua abstenção na discussão da resposta ao discurso da coroa; sinto somente, sr. presidente, que este mesmo pensamento não tivesse occorrido ao illustre deputado, quando, por parte da opposição, promovera questões que têem levado dias e dias a discutir, como a dos guardas fiscaes e a do incidente entre Braga e Guimarães, que, a dizer a verdade, podiamos ter convertido mais utilmente a discutir a questão de fazenda. (Muitos apoiados.)
Emquanto á omissão a que se referiu o illustre deputado e que imposta censura ao governo, eu direi á camara que o governo, na occasião competente, quando teve conhecimento d'este altíssimo facto praticado pelos dois illustres exploradores, veiu á camara dos deputados, leu o telegramma em que o annunciava, e associou-se com a camara toda nos applausos respeitantes ao acto praticado por aquelles dois benemeritos. (Apoiados.)
Sr. presidente, como o discurso da corôa é apresentado às cortes, como é com as côrtes que se falla, por parte do augusto chefe do estado, mas com responsabilidade do governo, como não é costume dizer duas vezes a mesma cousa ao mesmo parlamento, o governo julgou, que, sem por esse facto ter em menos conta a importancia do facto praticado