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SESSÃO N.º 17 DE 31 DE JANEIRO DE 1896 143

branceira e victoriosa, através dos seculos, derramando a flux em todos os povos do mundo, os seus benefícios, as suas consolações supremas, enxugando todas as lagrimas, mitigando todas as dores, fallando ao espirito e ao coração do sábio e do ignorante, do pobre e do rico. É por isso que a cruz resiste e triumpha sempre de todos os embates, de todas as vicissitudes, de todos os cataclysmos, que nos escombros de suas derrocadas sepultam as nações, os impérios e as sociedades, por mais fortes e seguras, que se considerem.

É por isso ainda, que a missão providencial da igreja catholica não está concluuida, e não o estará, emquanto subsistir a sociedade humana, que, para caminhar em suas incessantes e progressivas evoluções, para evitar escolhos e attingir o Aporto, carece incontestavelmente de bússola e de pharol, carece da força espiritual e moralisadora da igreja, a quem se devem as conquistas incruentas da civilisação moderna, segundo as affirmações de um escriptor insuspeito, porque era protestante, e que se chama Guizot.

Na sua Historia da civilisação demonstra elle, com justiça e imparcialidade apreciável, que é á Igreja que se deve a civilisação moderna; porque foi ella que salvou o mundo bárbaro e pagão e será ella que salvará a sociedade moderna desse cancro medonho, que se denomina anarchismo e nihilismo. (Apoiados.}

Creio, portanto, que é da acção civilisadora da Igreja e do pontificado, que depende a salvação da humanidade e a solução do gravissimo problema social, que traz justamente preoccupados todos os governos, os estadistas, os políticos e os sábios, que no mundo culto merecem este nome. (Apoiados.)

Por todas as rasões expostas, desejo e espero que seja mantido sempre no parlamento portuguez todo o respeito devido às crenças religiosas, que ã nação e todos nós professamos. (Apoiados.)

O procedimento contrario poderia acarretar-nos consequencias funestissimas e responsabiliades muito graves. Quando, ainda na ultima sessão d'esta camara, se discutiam aqui assumptos religiosos, em tom irónico e por uma forma epigrammatica, que despertava risos na assembléa e hilaridade nas galerias, a essa mesma hora, - notavel coincidencia! - um louco, -,sel-o-ha?! - proclamava a anarchia e aggredia nas das da capital o próprio chefe do estado!...

Será um louco?!... Repito. Talvez! Mas, se o ó, acautellemo-nos, porque a molestia é contagiosa e tem invadido já as infimas camadas sociaes, de onde se elevará, como os miasmas, para as superiores, que, pelo menos, terão de soffrer-lhe os effeitos...

Apavoram-nos estes effeitos ?!... Surprehendem-nos?!... Não ha grande rasão para surprezas, desde que não curemos de remover efficazmente as causas morbidas, que fatalmente os determinam, com é mesmo rigor logico com que a conclusão deriva das premissas estabelecidas. No meio social em que vivemos, e em que predomina a mais nociva anarchia moral e mental, torna-se indispensavel empregar todos os meios educativos, que dêem aos cérebros allucinados pela desgraça a exacta noção de seus direitos e deveres, aos espíritos doentios a alta comprehensão dos princípios eternos de justiça, que são condição essencial da liberdade e sustentáculo da auctoridade, aos corações pervertidos a verdadeira orientação da crença religiosa, que dá resignação no infortúnio e esperanças em mais elevados e, felizes destinos. (Apoiados.)

Se, em logar de aproveitarmos estes elementos de educação e regeneração, nos deliciarmos em motejar da religião e em desprestigiar os seus ministros, não nos admiremos de que a mesma causa, que determinou o attentado contra El-Rei, produza, como já tem produzido, identicos effeitos... Sirva de lição o que aconteceu em 30 debulho do anno passado, em que, nas das principaes da capital do reino, que se denomina "fidelissimo", e que se diz civilisado, em plena luz do dia, foram insultados e aggredidos barbaramente sacerdotes inoffensivos e inermes, e até alguns cidadãos pacíficos, que com elles se pareciam, praticando-se, com frívolos pretextos, actos de tão repugnante selvageria, que seriam incríveis, por desusados; nos mais inhospitos sertões da Africa ou da Oceania. Vou comprovar esta minha asserção.

N'esse tempo, acabavam de regressar de Timor a Lisboa, alquebrados pelo trabalho e pelas febres, dois missionarios beneméritos, um dos quaes prestara ali relevantes serviços, durante dezenove annos contínuos, e outro doze, nas mesmas condições, tendo perdido, ambos, neste meio tempo, as pessoas mais proximas e queridas de suas familias. Não pediram, nem esperavam recompensas extraordinárias, posto que merecidas. Não contavam, porém, que, em logar da estima e consideração publica, a que aspiravam, por único e devido galardão, receberiam insultos e ameaças, que os obrigaram a ausentar-se daqui, pão com medo, que não se compadece com o animo de quem, por habito e por dever, affronta os maiores poucos e sacrificios, mas com vergonha e desgosto de encontrarem na capital compatriotas seus, menos crentes, menos civilisados do que os miseros indigenas das selvas bravias, que sempre lhes prodigalisaram inequivocas provas de sympathia, dedicação e affecto! É por isso que estes bons missionarios significavam, com o coração a transbordar de gratidão, que sentiam viva e indelével saudade pelos sertões e pelos seus habitantes! Sendo, pois, aquelles factos deprimentes indicio claro do nosso descrédito e prova manifesta da nossa decadência moral, é por isso também, sr. presidente, que eu na minha moção de ordem altamente significo e accentuo a necessidade de mantermos o indispensavel predominio das crenças cathohcas. (Apoiados. - Vozes: Muito bem.)

Para comprovar esta necessidade impreterivel, não se torna mister grande esforço de intelligencia: basta compulsar os annaes da nossa historia patria, em que evidentemente se demonstra, por forma incontroversa, que todos os arrojos de heroismo, de que dimana a nossa pretérita, grandeza, se devem á acção prodigiosa da fé inquebrantavel de nossos maiores e á benefica influencia da igreja, que sempre secundara, como está secundando ainda, nossos commettimentos gloriosos. (Apoiados.)

É por isso, que dos fastos historicos da nossa patria não podem separar-se os traços luminosos da historia da fé e da civilisação catholica; porque "são duas paginas do mesmo poema, e omittir uma equivaleria a truncar outra". Dil-o assim, com a sua grande auctoridade, o sr. Rebello da Silva na sua Historia de Portugal.

Lançando, pois, a traços rápidos, um simples relancear de olhos pelos factos mais salientes da nossa historia, vemos, logo no inicio auspicioso da nossa monarchia e da nossa nacionalidade, que um punhado de portuguezes, que importa o mesmo que dizer, de heroes, avantajando-se, pelo valor e pela coragem, sobre numerosas e aguerridas hostes inimigas, conseguira abater a seus pés a meia lua de Islam, arvorando sobre os seus destroços o estandarte victorioso das quinas portuguezas. (Apoiados.) Esses rasgos homericos e assombrosos de heroismo que constituem os fundamentos da nossa nacionalidade e significam o triumpho simultâneo da religião e da patria, foram impulsionados pela alavanca dessa grande força, que se chama fé, que, na phrase do evangelho, transporta montanhas e opera os prodigios das mais altas façanhas, dos mais grandiosos commettimentos! (Apoiados.)

Foram ainda os rasgos prodigiosos desse heroísmo e dessa fé, que assignalaram o periodo áureo da historia da nossa restauração nacional, em que o famoso condestavel Nun'Alvares Pereira, o grande crente, o grande patriota, o grande heroe, antes de entrar nesses combates, desiguaes pela superioridade numerica do inimigo, recorria, como o confirmou o espirito investigador do sr. Oliveira