144 DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS
Martins, recorria sempre ao auxilio sobrenatural, procurando na oração o na fé a fortaleza e a coragem, que não "...permittia a força humana."
(Apoiados - Vozes: Muito bem.)
E ainda a historia dos nossos descobrimentos e emprestas maritimas, que nos demonstra claramente, que foi tambem a fé, que nos abriu os caminhos e as portas do um novo mundo, que rasgou novos e largos horisontes para todas as conquistas do progresso, da civilisação e da sciencia, para o alargamento do commercio, e para todos esses commettimentos heroicos e grandiosos, que illustram a nossa historia, o que o valente marechal de Turenne denominava "o glorioso atrevimento portuguez". (Apoiados.)
Que o infante D. Henrique, o glorioso filho do immortal Mestre de, Aviz, tivera por fim principal dos seus emprehendimentos o, conquistas a diffusão da luz redemptora da fé e da civilisação christã, comprova-se evidentemente pela exposição, que elle dirigira ao Summo Pontifice Romano, em que assevera, que o intuito, a que miravam essas conquistas e emprezas maritimas, não consistia só na expansão material de interesses economicos e politicos, senão no proposito essencial de levar aos povos idolatras e selvagens a luz do evangelho. (Apoiados.)
Rememorando estes eloquentes factos historicos, ou desejava ver presente o sr. ministro da marinha, para lhe pedir, que nos navios que s. exa. houver de mandar, e que é necessario mandar, para consolidar os nossos domínios ultramarinos (Apoiados.} s. exa. faca transportar n'elles os mesmos elementos de civilisação, a que se referiu o nosso insigne clássico e abalisado orador padre Antonio Vieira, quando fallava dos galeões, que transportavam para o ultramar os nossos soldados e os nossos marinheiros:
"Levavam por lastro os padrões das igrejas e talvez as mesmas igrejas para lá se fabricarem, levavam nas bandeiras as chagas de Christo, nas antenas a cruz, na agulha a Pó, nas ancoras a Esperança, no leme a Caridade, no pharol a luz do Evangelho, e em tudo salvação."
Se eu não melindrasse o meu amigo, o sr. Ferreira de Almeida, que reduziu o quadro dos capellães da armada, quando ministro da marinha, e por motivos exclusivamente economicos, segundo creio, pedir-lhe-ia tambem, que empregasse a sua enérgica iniciativa e larga influencia, para que n'esses navios, destinados ao serviço das colonias, fossem os capellães da armada restituidos aos seus logares e reintegrados em seus direitos. (Apoiados.)
Eu, sr. presidente, peço e desejo isto, que não importa avultada despeza, porque entendo conveniente que os nossos soldados e marinheiros, que tão altos prodigios do valor e heroismo acabam de operar, teimam sempre junto de si, nos revezes e nos perigos, quem os fortaleça no sentimento religioso.
Entendo conveniente, repito, que os nossos militares, que despertam justa admiração no mundo inteiro, não deixem obliterar do coração o grande principio da fé, que produz essa santa alegria, que o ar. Luiz Osorio aqui enaltecera, ora phrase sentida, poética e levantada, quando descreveu, como testemunha ocular, a despreoccupação e o enthusiasmo com que os nossos expedicionarios, na hora solemno da despedida, se desprendiam dos braços carinhosos da familia e deixaram, muitos para não voltar mais, a terra bemdita da sua patria! (Apoiados.)
Como explicar o estranho phenomeno da expansão d'essa alegria intima, desse enthusiasmo ardente e communicativo, em momentos que deveriam ser de tristeza, de concentração o angustia?!...
É que todos levavam no coração, com essa divina virtude, que dá fortaleza, confiança e abnegação, uma outra consoladora virtude, irmã e companheira inseparável, como ella essencialmente christã, que traduz a sublime aspiração, que natural e instinctivamente attrahe o eleva a alma para o bem que anhela.
Levaram com a fé a esperança de volverem, coroados de gloria, ao seio da patria querida, ao conchego do lar saudoso, conscios de que mereceriam os applausos e as apotheoses da gratidão nacional, as bençãos e a glorificação do suas familias e de seus concidadãos. (Apoiados.)
Os que conseguiram ver realisados este fagueiro sonho de esperança, de gloria e felicidade; os que tiveram a fortuna de regressar, incólumes, depois de haverem arrostado tantos perigos com stoica serenidade, depois de terem vencido, impávidos, tão numerosos, intrépidos e ferozes inimigos, depois de terem supportado com evangélica resignação, alem das inclemencias deletérias de climas inhospitos, todo o género de privações e sacrifícios, todos esses heróicos expedicionários tiveram uma larga e justa compensação, ao avistarem novamente os formosos horisontes da patria. (Apoiados.)
Todos esses valentes exultaram, mais uma vez, de alegria e enthusiasmo, sentindo que esta abençoada terra portugueza, que parecia desalentada e adormecida, se commovia profundamente, debaixo de seus pós, como que despertada e impulsionada por mysteriosa corrente electrica, que se transmittia, desde os paços reaes até às mais humildes e alpestres cabanas de nossas aldeias. Todos elles sentiram referver-lhe nas veias o sangue, aquecido pela febre e retemperado na rudeza dos combates, quando se viram acclamados e abraçados por toda a nação, quando sentiram o palpitar agitado do coração de todo um povo, que na sua nobre o altiva tradição tom por divisa a fé e o heroísmo. (Apoiados.)
Depois de extinctos os frémitos commoventes e unisonos dessas ruidosas acclamações; depois de apagadas as ultimas vibrações dos hymnos religiosos e dos canticos patrioticos, que despertaram echos de sympathia e correspondencia em todos os angulos do paiz, podem esses heroes realisar suas legitimas aspirações, de acabarem tranquillamente na terra natal os dias que lhes restarem do vida, na segurança do dever satisfeito, na consciência da benemerência universalmente reconhecida. (Apoiados.)
Podem esses benemeritos realisar ainda essa consoladora aspiração, essa esperança ineffavel, de dormirem o somno eterno no humilde cemitério da sua aldeia, á sombra benéfica dessa cruz magestosa e salutar, diante da qual tantas vezes descobriram a cabeça, inclinaram a fronte e curvaram os joelhos, para orarem pelos seus mortos queridos, com os quaes irão confundir-se num derradeiro abraço, legando ainda às gerações vindouras, com a herança abençoada de sua memória immorredoura, a immensa e inestimavel riqueza de seu eloquentissimo exemplo! (Apoiados.)
Mas esses heroes, esses benemeritos que lá ficaram, e ficaram para sempre, esses que derramaram seu sangue precioso e sacrificaram a vida, para offertal-a á patria, como em holocausto, esses que tão alto levantaram o nome portuguez e avivaram suas tradicções gloriosas, esses que asseguraram os direitos da nossa soberania nacional em tão dilatados territórios, esses nem. ao menos tiveram no cemitério de suas aldeias sete palmos de terra para seu eterno descanso, nem ao menos tiveram uma sepultura rasa em que, a mão piedosa das mães, das esposas, dos irmos e dos amigos fosse desfolhar algumas flores campestres e orvalhal-as com as sentidas lagrimas de infinda saudade! (Apoiados. - Vozes: Muito bem.)
Não tiveram a consolação de ver realisada a sua aspiração, de regressarem á torra da sua patria, para serem sepultados no seu modesto cemitério, á sombra do melancólico e altivo cypreste, que lança suas raízes seculares nas veias e nos corações dos mortos, como para lhes animar o sangue congelado, misturando-o com a sua seiva, e eleval-o, em holocausto, n'uma prece silenciosa até ao throno do Eterno! (Apoiados.)
Estou certo, que nem uns, nem outros dos nossos expedicionários aspiravam a jazer no pantheon nacional, e é