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4 DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

O Sr. Pereira dos Santos: - Sr. Presidente, terminou a existencia de um dos vultos mais notaveis da galeria dos homens publicos de Portugal!...

Emygdio Navarro foi grande. (Muitos apoiados). Nada ha que mais engrandeça um homem do que o talento; mas o brilho do talento resalta mais vivo e intenso, quando é manifestado no meio da luta. Ora, Emygdio Navarro não era só um talento de primeira grandeza: era um lutador; e foi o conjunto d'estas duas qualidades que engrandeceram a sua carreira publica.

Na arena parlamentar foi Emygdio Navarro um athleta dos mais arrojados, apresentando-se sempre onde o ataque era mais energico.

Como funccionario publico, lembram-se todos dos serviços prestados no Ministerio das Obras Publicas, de onde dependem todas as manifestações do trabalho nacional, quer dizer, de quasi toda a economia do paiz.

Os seus serviços naquelle Ministerio foram verdadeiramente extraordinarios. (Vozes: - Muito bem).

Sr. Presidente: onde a estatura de Emygdio Navarro tomou, porem, proporções gigantescas foi na imprensa periodica, a estancia mais apropriada ao seu caracter de lutador intemerato. Emygdio Navarro foi um jornalista que fez escola. Ninguem como elle sabia implantar principios e definir theorias; ninguem como elle sabia convencer, porque tinha a superior qualidade de, apresentando raciocinios, fazê-lo, com tal elegancia de forma, que os leitores se deleitavam e ao mesmo tempo se iam deixando dominar. (Apoiados).

Emygdio Navarro deixa um nome escrito em letras de ouro na historia do jornalismo portuguez. (Muitos apoiados).

Durante a sua vida algumas accusações se notaram ao seu proceder - o que não é de admirar, porque são sempre os principaes lutadores aquelles que criam maior numero de inimigos. (Apoiados). Não sei, não quero saber d'essas accusações; direi todavia que, embora ellas sejam grandes, nunca poderão eclipsar o alto valor das suas faculdades e os seus grandes merecimentos. (Apoiados).

O colorido do seu valor era tal que essas accusações nunca poderão empanar o brilho do seu talento; o mais que puderam foi produzir pálidos esbatidos.

O partido regenerador, representado nesta Camara, presta pois a sua homenagem de alta consideração e manifesta a sua saudade pela memoria d'esse varão illustre que se chamou Emygdio Navarro. (Apoiados).

Em nome da minoria regeneradora associo-me tambem ao voto de pesar que V. Exa. propoz pela perda do Digno Par e antigo membro d'esta Camara, Sr. Francisco de Castro Mattoso.

Fui durante annos, em Coimbra, companheiro do illustre extincto, e na sua convivencia aprendi muito e tive occasião de conhecer os primores do caracter de S. Exa.

E por isso que me associo pessoalmente ao voto de sentimento pela sua morte (Apoiados geraes).

Tenho dito. (Vozes: - Muito bem, muito bem).

(O orador não reviu).

O Sr. Pereira Lima: - Nunca nesta Camara pronunciei um elogio funebre. Esta tarefa, esta missão triste e ingrata, incumbe desde a Presidencia ato o Governo, e desde o leader da maioria até o leader da minoria.

Esta é a praxe e por isso nunca tive a ousadia de me metter em taes commemorações funebres que aliás, em meu entender, devem ser sentidas, sim, mas manifestadas nos mais breves termos que seja possivel.

Hoje, porém, abro uma excepção para commemorar, sentidamente, como membro d'esta Camara, a perda de um dos mais illustres politicos portuguezes que teem passado d'esta vida para a eternidade; para commemorar o passamento de um homem com cuja amizade me honrei - Emygdio Navarro.

Deve elle ser considerado sobre tres aspectos: o de jornalista, o de estadista e o de orador.

Como jornalista primou entre essa pleiade brilhante que tem honrado a imprensa portugueza. (Muitos apoiados).

Se a imprensa regeneradora teve homens como Sampaio, Teixeira de Vasconcellos, e Pinheiro Chagas - a imprensa progressista honra-se com os nomes de Marianno de Carvalho, Emygdio Navarro e Antonio Ennes. (Muitos apoiados).

Felizmente, ainda guardamos uma d'aquellas pennas que valem mais do que um exercito: a de Marianno de Carvalho, que ainda é hoje uma das reliquias d'esse tempo, um dos homens que lutaram incessantes e intemeratos.

Mas acaba de cair na valia um d'esses homens de que um paiz, mesmo que fosse maior do que Portugal, se devia honrar; um homem que tinha, por um lado, a actividade, a energia, a rapidez de conceito do polemista Rochefort, e por outro lado, a malleabilidade, o poder da synthese, a convicção que a todos communicava.

Era cumo o grande Girardin. Emygdio Navarro era o Girardin portuguez.

O francez teve um amigo que colleccionou as suas polemicas de longos annos nos jornaes. Mas quem sabe se Emygdio Navarro terá alguém que tenha o cuHado de collecciouar tantos artigos, tantos jornaes, em que a sua poderosa intelligencia se cristalizou?

Se os mortos passam depressa - e os jornalistas são d'esses, passam como cometas que desapparecem e não teem orbita propria - é mister, pelo menos, que aquelles que ficam, como successores legitimos da sua geração, lhe perpetuem a memoria e gritem, bem alto, a honra e gloria aquelles que lutaram"!...

Emygdio Navarro foi uma victima de si proprio. Nas lutas enormes que se travaram no seu intimo, o seu grande talento collaborava com o seu caracter energico. Mas essa dupla acção gasta enormemente os lutadores E é isso o que acaba de levar para uma outra existencia esse homem, qne era um coração de criança, mas que tinha uma energia máscula de estadista.

Commetteu erros? É possivel.

Mas quantas vezes o arrebatamento de uma hora converte e estabelece uma phase completamente nova, na qual o homem que ainda hontem era cordeiro se vê obrigado a transformar-se num tigre?

Quantas vezes, homens que querem espargir flores no seu caminho, no caminho do seu paiz, se vêem obrigados a empunhar um gladio, para se defenderem, de frente d'aquelles que os atacam pelas costas?

É por isso que, muitas vezes, os que são fortes, não medem bem a expansão da sua força; falta-lhes a válvula de segurança e resvalam no tumulo.

A força intellectual o, para os gigantes, como a força physica, - e o homem de talento não pode medir até onde o seu golpe vae parar. Se alguem teve aggravos de Emygdio Navarro, nesta hora solemne de requiescat in pace, estou certo de que só lembrará o homem patriota, de coração altruista, que desempenhou no seu paiz o papel de um trabalhador indefeso, que deixou um nome immorredoiro no nosso jornalismo, e tambem, como disseram outros oradotes, um nome no estadismo do nosso paiz. (Apoiados).

Foi dos poucos que tinham essa estatura de estadista, que tantos almejam ter. A sua passagem pelo Ministerio das Obras Publicas, se não é do tempo que fazia Marqueses de Pombal, é do tempo em que, apesar de se dizer mal de tudo e de todos, produziu uma obra tão grande que todos a citam.

Esse homem, prevendo o grande movimento da economia social moderna; vendo que estavamos atrasados agricola, industrial e commercialmente, - mas principalmente agricolamente, - e não tendo nascido de lavradores, comprehendeu pela intuição do seu talento, que a