244-D DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS
a ordem, servem para acompanhar tambem os presos às Caldas, como se fossem faccinoras.
Mettem-nos dentro de carruagens e vão rodeados de cavallaria e dois policias sentados na frente.
E assim se tratam os eleitores independentes!
Mais ainda, um apontador das obras publicas, João Theodoro Junior foi posto ás ordens do administrador para ensinar aos policias quem eram as pessoas que deviam prender.
Este empregado traz uma relação das pessoas que os policias, que foram de Lisboa hão de prender; assim que os encontrem!
O sr. Francisco Rodrigues Cardoso, meu amigo, foi preso por estar sentado no poial de uma porta e não se retirar quando a policia o intimava para o fazer.
Levaram-n'o para a enxovia o nem sequer consentiam que a familia lhe mandasse uma cama para dormir.
Queriam que um rapaz preso, e. das primeiras familias de Obidos, dormisse nas pedras da enxovia.
Se ali houvessem casamatas era naturalmente que ali o mettessem como se fazia aos presos politicos no tempo de D. Miguel, pois que Obidos está agora governado por este regimen.
Não se consente que o povo se approxime das lojas cujos proprietarios me são affectos, prejudicando assim o negocio e interesses d'aquelles meus amigos.
As lojas d'estes meus amigos estão rodeadas pela policia.
Os presos foram horrivel e barbaramente tratados.
Um d'elles foi espancado e empurrado pelos policias, batendo com a cabeça do encontro á aresta de uma cantaria abrindo a cabeça jorrando da ferida grande quantidade de sangue e manchando as paredes que ainda lá estão para o attestar.
Os meus amigos não podem transitar pelas ruas alem das nove horas da noite, por que se o fizerem serão presos.
Ora, sr. presidente, chegando a Obidos o comboio ás onze horas e vinte minutos, todos toem receio de vir a Lisboa tratarem dos seus negocios com medo de serem presos á volta.
E não obstante tudo isto, aquelles cavalheiros victima dos são cada vez mais meus sinceros amigos e é isto que o governo não póde tolerar.
Isto representa vida, energia e convicções, mas o governo não quer vida, nem convicções, nem energia, no povo portuguez (apoiados) porque quer esmagar toda agente e não quer encontrar o povo pela frente. Apoiados.)
Leio o telegramma e termino as minhas considerações.
"Capitão Machado. - Lisboa.
"Pedimos providencias. Foram agora presos cinco progressistas e um regenerador por engano. Ò regenerador foi logo solto a pedido dos seus amigos."
O regenerador foi immediatamente solto a pedido dos meus amigos, emquanto que os progressistas estão presos.
Vozes: - Ouçam, ouçam.
Se acham que isto é bonito, continuem e depois não se queixem dos resultados.
Vozes: - Muito bem, muito bem.
O sr. Francisco Machado: - Começo por agradecer aos srs. presidente do conselho o ministro das obras publicas as respostas que se dignaram dar-me.
Agradeço ao sr. ministro das obras publicas a declaração clara e franca que acaba de fazer, dizendo, que nunca houve nenhuma questão pessoal entre nós e que não foi por esse motivo que fui victima da guerra que se me moveu.
Agradeço ao illustre ministro, e observo que d'este modo respondeu s. exa., não a mim, mas aos seus amigos politicos que espalhavam esta noticia no meu circulo. S. exa. deu-lhes um completo desmentido e portanto não tenho mais que objectar.
Estimo immenso que s. exa. deixe no seio da representação nacional esta demonstração clara e positiva de que nunca entre nós tinha havido qualquer facto que o obrigasse a pôr a sua pasta sobre a minha eleição.
Está assim respondido pelo sr. ministro das obras publicas aos seus principaes amigos politicos do meu circulo, os quaes diziam, para intimidarem os eleitores, que eu não me havia de sentar n'esta casa, porque s. exa. havia de empregar toda a sua influencia e a dos seus amigos politicos para vencer a eleição, fosse pelo que fosse, ainda que para isso tivesse de empregar as maiores violencias.
Estimo immenso a declaração do sr. ministro das obras publicas, como disse, mas tanto é verdadeiro o facto quo acabei de expor á camara, que posso apresentar aos meus collegas centenas de declarações feitas perante um tabellião de que um individuo que gosa da intimidade do sr. ministro das obras publicas dizia a todos que o queriam ouvir, o seguinte: "Eu sou aqui regedor de parochia, administrador do concelho, governador civil, ministro de todas as pastas, camara municipal, camara do deputados, etc., etc., sou tudo, sou omnipotente", e isto porque tinha o seu amigo Arouca ás suas ordens.
Portanto, respondeu hoje o sr. ministro das obras publicas aos seus amigos politicos, que no circulo das Caldas diziam não era s. exa. quem mandava praticar os actos que ahi se praticaram, e respondeu de um modo tão claro que não póde ficar a mais pequena duvida de que se abusava do nome de s. exa.
Sr. presidente, replicando ao sr. presidente do conselho e agradecendo a resposta que s. exa. tambem se dignou dar-me, desejava que s. exa. faça cumprir as suas determinações para que a tranquilidade volte aos espiritos exaltados, e á villa de Obidos volte ao estado normal o mais depressa possivel.
Permitta-me agora que eu replique ao sr. Arroyo, que disse na sessão passada que eram ôcas, vagos e insubsistentes as declarações por mim feitas n'essa sessão.
Eu citei o facto de estarem presos alguns individuos e o de ter corrido sangue.
Citar o facto de estar um homem com a cabeça partida c outros na cadeia, sem poderem tratar dos negocios, é fazer declarações vagas?
E fazer declarações vagas, o affirmar que estão presos alguns individuos pelo unico crime de terem votado commigo?
Eu não desejo antecipar-me na narração dos factos passados no circulo das Caldas durante o periodo eleitoral.
Annuuciando uma interpellação a este respeito, reservo-me, para quando ella se realisar, apresentar á camara o estendal de attentados que se praticaram n'aquelle circulo, durante quasi tres mezes que durou o periodo eleitoral.
Visto, porém, que o sr. ministro das obras publicas disse á camara que não se tinha praticado ali violencia alguma, vou passar pela rama alguns factos.
Disse eu, em áparte ao sr. ministro das obras publicas, que todos os empregados meus amigos foram demittidos, transferidos ou suspensos.
Citarei desde já um facto. Um amanuense da administração do concelho de Obidos, que tinha substituido o pae, fallecido havia pouco tempo, deixando-lhe por unica herança um nome honrado e dois irmãos para sustentar, foi demittido pelo unico crime de ser meu amigo. Esse empregado chama-se Francisco Gregorio de Castro.
O sr. ministro das obras publicas e o sr. presidente do conselho podem não saber o que lá se passa, mas, tendo vindo a Lisboa uma commissão de amigos meus pedir providencias a El-Rei, s. exa. deviam logo ver que, por causas insignificantes, não se deslocam homens d'aquelles, dos seus labores quotidianos.
Para que proprietarios honrados, serios e habituados ao