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reputa que assim, desgostando-me ou procurando desauctorisar-me, eu resolva abandonar, o meu posto, e porventura tomem igual, resolução os meus collegas, deixando os logares vagos para quem tanto deseja substituir-nos (apoiados).

Sr. presidente, disse eu — que essa tendencia de aggressão pessoal, que ha muito tempo se manifesta, tem-me honrado com a sua especial attenção (riso), que tem procurado dirigir os seus tiros mais directamente a este alvo; não sei porque lhe mereça esta preferencia, quando vejo que os meus collegas são muito mais necessarios e uteis no governo do que eu...

O sr. Ministro da Marinha: — Isso não.

O Orador: — Não quero explicar esta aggressão; por nenhuma animosidade pessoal, porque não gosto de attribuir sentimentos baixos aos meus adversarios, a unica illação que posso tirar d'aqui é a de que devo ter algum orgulho pela preferencia que me estão dando nos seus ataques.

Mas disse eu — que uma opinião despreoccupada, e um espirito imparcial, não póde deixar de ver n'este conjuncto de circumstancias que se dão um certo trama aggressivo urdido contra mim. Ha um negociante estrangeiro que, contra todas as praticas e contra todas as regras que se costumam seguir, extrahe do copiador do seu escriptorio uma correspondencia sobre negocios antigos que lhe foram confiados pelo governo, e manda-se, como arma de guerra e de vingança, aos membros da opposição (apoiados). Ha reuniões em que se discutem os expedientes que se hão de adaptar para tirar o melhor partido possivel d'estas armas aggressivas. Este capitalista é o mesmo que queria tomar conta de um emprestimo, que não pôde obter. As reuniões e as suggestões fazem se e concertam-se em casa de outro capitalista portuguez, que não pôde tambem ter parte n'este emprestimo, pelo que ficou despeitado (apoiados). Todos estes factos são conhecidos do publico (apoiados). E depois d'este grande plano, com cuja execução se contava consummar a minha ruina; plano a respeito do qual se segredava de orelha á orelha, promettendo cada dia novos documentos que me iriam comprometter, á proporção que os publicados produziam effeito contrario ao que se esperava, exagerando sempre como horripilantes os que ainda se guardavam para a seu tempo virem a lume; e depois d'este grande plano, digo, foi com taes documentos, que são uma denuncia inexacta em referencia a' uma negociação já finda, que se apresentaram no parlamento para aggredir o governo pelo ultimo emprestimo, que nada tem de commum com a anterior operação! E ao passo que lastimam que o argentario estrangeiro empregasse n'essa correspondencia, suggerida pelo despeito e pela paixão de ver o mallogro dos seus interesses, expressões menos convenientes para o governo portuguez, vão entregar á publicidade essas expressões! (Apoiados.) Como se o governo portuguez podesse ser responsavel pelas inconveniencias de qualquer que se lhe dirige!,..

Ainda mesmo suppondo, o que eu não admitto, que houvesse sombra de rasão da, parte d'esse capitalista, nada o inhibia de empregar, para se queixar, termos convenientes e decorosos.

Está abatida a dignidade do governo portuguez! Abatida porque? Porque não quiz dar o emprestimo á casa Knowles & Foster; que lhe offerecia menos vantajosas condições, e lhe não dava iguaes garantias de bom exito, como eu provarei que aconteceu em 1862, epocha em que o emprestimo esteve a ponto de mallograr-se se acaso aquelle capitalista não fosse auxiliado na emissão?

Abatida a dignidade do governo! Porque? Porque não deixou em pé essas asserções infundadas, e não querendo rebaixar se a responder-lhes, porque não vinham formuladas em termos convenientes, mandou que um empregado as reduzisse ao seu justo valor, á vista dos documentos!

Mas de que modo se forjou essa correspondencia? Como vieram essas ultimas cartas que foram publicadas? Toda a gente sabe que isso foi calculado de proposito. Essas cartas vieram á secretaria pela intervenção da casa Fonseca, Santos e Vianna; e foram calculadas adrede para se publicarem. Eu já o suspeitava ha muito tempo.

É impossivel, como já disse, sem querer aggredir pessoalmente ninguem, nem fazer injustiça ás intenções de quem quer que seja, é impossivel deixar de ver n'este conjuncto de circumstancias que não ha um espirito imparcial, um espirito recto e despreocupado para julgar os actos de um homem, mas que ha um intuito premeditadamente hostil de uma casa despeitada, que fornece documentos suspeitos e impertinentes, ajudada por outra casa de Lisboa tambem despeitada, e que tinha os mesmos interesses; documentos de que a politica lançou mão para os empregar como arma contra mim (muitos apoiados). Este é o facto, toda a gente o conhece.

Ora, eu digo que a politica procede mal em empregar essa arma, porque, por esse facto, não faz mais do que tornar em instrumento politico um capitalista, com o que elle póde perder todo o conceito pessoal, e ser prejudicado na sua casa.

Qualquer capitalista que se presta a ser instrumento politico e faz do copiador do seu escriptorio um arsenal para as opposições, não póde nunca mais ter credito para os governos, quaesquer que elles sejam (apoiados).

E uma opposição que lança mão d'estes meios tambem se desauctorisa, porque sem querer, involuntariamente, vae patrocinar uma certa ordem de interesses que se acham em conflicto com os interesses publicos (apoiados).

Pois então se se disser que um governo ha de por força aceitar as propostas de certos capitalistas, sob pena, quando não as aceite, de que esses capitalistas hão de forjar, inventar e torcer quantos documentos quizerem para as opposições virem accusar o governo, pô-lo em tortura e força-lo a longas justificações; se se estabelecer isto em principio, como fica desaffrontado qualquer governo para contratar com os capitalistas? (Apoiados.)

Se o capitalista estrangeiro, quando venha contratar com qualquer governo, lhe dissesse: «Olhae que se vós não tendes consideração pelas minhas propostas, eu tenho meio de vos fazer guerra, há-de vos saír caro pelo menos haveis de ter dias de amargura, porque, emquanto as cousas se não discutem, emquanto não se, analysam os documentos, emquanto não se desce a estas minuciosidades, propagam-se boatos, e vós estaes debaixo de uma grande pressão. A calumnia um dia vem insinuar que commettestes crimes, embora no outro dia diga que sois, um homem honrado e que só commettestes um erro e então tende cautela!» Então os contratos seriam concedidos pelos governos timidos aos capitalistas que fossem mais ameaçadores e mais identificados com a opposição. E aquelles que fossem imparciaes e serios, e que não lançassem mão dos mesmos expedientes por lhes repugnarem e os reputarem um desdouro para as suas casas, ficariam prejudicados e em más condições, embora offerecessem mais vantagens, porque se fossem preferidos vinham os que eram a arma do terror da parte das opposições, e torturavam o governo!

Eis aqui o perigo de lançar mão d'estes meios (apoiados).

O governo do estado deve deixar-se desaffrontado dos capitalistas e da pressão de todos os interesses individuaes, para poder curar dos interesses geraes da nação (apoiados).

Experimentára eu uma perda dolorosa pela morte de meu pae; estava recolhido quando appareceu o requerimento do sr. Serpa, de que não tive conhecimento, e que demais, foi dirigido por engano á secretaria das obras publicas. Ali esteve até que veiu recambiado, e ultimamente foi á secretaria da fazenda. Apenas lá chegou dei immediatamente ordem para serem fornecidos todos os esclarecimentos pedidos por s. ex.ª; mas, como s. ex.ª pedia copia de uma extensa correspondencia, não se póde fazer immediatamente, tem-se estado a trabalhar para satisfazer o seu pedido.

O governo não recusa documento nenhum, está prompto a fornecer todos ao parlamento, porque quantos mais documentos vierem, mais se ha de provar a lisura com que o governo andou (apoiados).

Estejam seguros de que eu hei de entrar na demonstração minuciosa e nos pormenores de todo este negocio, não me hei de limitar a estas phrases.

Folgo muito, regosijo-me em extremo de que se trouxesse aqui de novo á téla da discussão a questão das 500:000 libras esterlinas (apoiados), porque isso veiu demonstrar mais uma vez a algum incauto, a algum homem que me não conhecesse, ou que acreditasse as insinuações pérfidas que se propalaram por uma certa imprensa, que era completamente destituido de fundamento, que eram meras calumnias o que dizia e que derivava da suspeita de que eu tivesse qualquer compromisso com aquella casa (apoiados). E assim como isso era infundado, assim como era calumnia, infundadas são todas as outras arguições, porque quem não teve escrupulo de fazer insinuações d'essa ordem uma vez, tambem não tem mais escrupulo em as repetir (apoiados).

Da outra vez o que se disse?, Fizeram-se longos commentarios sobre a venda especial das 500:000 libras; deu-se a entender que tinha havido connivencia, lucro a repartidos, tudo se insinuou a respeito d'aquella operação. Esse homem, esse ministro, que tinha taes compromissos com essa casa, é tão leviano, tão louco, tão destituido de senso commum, que põe essa casa de parte, e vae contratar com outra porque a reputou em melhores condições! (Muitos apoiados. — Vozes: — Muito bem.) E não teme que venham as iras d'esses capitalistas despeitados, que exhibiram os famosos documentos d'essa nova, imaginaria e calumniosa concussão! (Muitos apoiados.) Ficou confundida mais essa calumnia, caiu por terra, como têem caído todas as outras a meus pés. (Vozes: — Muito bem.)

Folguei muito de que viesse esta questão das 500:000 libras; estimei muito que viesse; fizeram-me um grande serviço em a trazer aqui (apoiados).

Mas tres são os pontos capitães a que vou direito, porque se me fazem arguições. Primeiro, é que mandei dar illegalmente 2:000 libras ao sr. Youle, que interveiu n'este emprestimo. Segundo, que burlei differentes proponentes. E terceiro, que fiz um contrato leonino deploravel e precipitado. Estas são as tres arguições que me fazem.

Ora, a respeito d'este sr. Youle é necessario conhecer a historia, é necessario que eu a conte: conta-la-hei em muito poucas palavras, antes mesmo de ler os documentos que provam todas as minhas asserções. Este sr. Youle é um negociante inglez, de que eu não tinha conhecimento, mas que por intermedio de um outro negociante aqui em Lisboa, me foi annunciado como estando encarregado pela casa Stern (isto foi em abril de 1862), de tratar da operação que mais tarde se realisou.

Quando eu tive communicação de que a casa Stern queria contratar um emprestimo, e depois de mandar pedir informações sobre a respeitabilidade d'aquella casa ao sr. Fortunato Chamiço aqui em Lisboa, e por um telegramma para Londres ao sr. conselheiro Brito, começaram as minhas unicas relações com o sr. Youle, que consistiram então em um telegramma expedido em 14 de abril, em que dizia: «O agente da casa Stern póde vir a Lisboa tratar do emprestimo». Porque ella tinha effectivamente pedido para ser admittida a tratar do emprestimo. Isto é o que consta doa archivos da thesouraria. Esse cavalheiro veiu a Lisboa, e fallou-me em nome da referida casa Stern a respeito do emprestimo de 1862 (ainda os srs. Knowles & Foster não tinham escripto nada).

Passava-se isto em abril de 1862. Fez-me diversas propostas que não eram aceitaveis por desvantajosas, as quaes eu portanto recusei.

Em consequencia d'isso demorou-se em Lisboa dez ou doze dias, não me lembro quantos com exactidão, mas foi pouco tempo; e procurou-me ainda uma vez. Disse-lhe =que não me convinha tal negocio, e que por isso não tinhamos nada feito =. Eis todas as relações que tive com esse cavalheiro; nunca mais o vi nem fallei com elle. Foi para Londres, e a casa Knowles & Foster, que naturalmente soube da sua vinda a Lisboa a tratar do emprestimo, e de que tinha voltado sem ter feito nada, assentou que devia dirigir-se ao governo directamente para tratar ella do emprestimo, e houve a correspondencia que se publicou em 1862. O governo veiu a um accordo com a casa Knowles & Foster, e effectivamente realisou-se o contrato. Mas eu por cautela, apesar de terem terminado as negociações com Youle, ainda antes de assignar o contrato disse ao director da thesouraria que redigisse um telegramma, que se expediu em 25 de julho, declarando que todas e quaesquer relações que tivessem havido com aquelle agente ficariam tidas e havidas por acabadas; no dia seguinte, 26, mandei ordem para assignar o referido contrato com a casa Knowles & Foster.

Ora, já se vê que cáe completamente pela base a arguição infundada e injusta de que eu tratei em 1862 com a casa Stern quando já tinha feito a contrato com os srs. Knowles & Foster. E uma arguição completamente infundada, porque não ha tal facto, não existe constatado em documento algum, nem podia existir, porque a verdade do que se passou é esta.

Portanto aonde está aqui a burla, palavra monstruosa empregada impropriamente, mas adrêde calculada para produzir effeito? Quando contratei com a casa Knowles e Foster já tinha interrompido as negociações com Stern; ora, para existir burla é necessario que se contrate a mesma cousa com dois individuos diversos; portanto cáe por terra esta asserção gratuita, como infundada, e só empregada como um meio de aggressão. O que aconteceu então? Aconteceu que a casa Stern Brothers ficou despeitada e a de Knowles & Foster contentissima; foi o contrario do que aconteceu agora; então não tiveram correspondencia, nem cousa nenhuma para mandar ás opposições!

Mas os srs. Stern procederam por outro modo; em logar de aggredirem o ministro porque tinha dado o contrato a outro capitalista, disseram: «O ministro estava no seu direito de dar o contrato a quem se tinha apresentado a faze-lo em melhores condições, e agora não temos rasão para o aggredir, mas o que podemos fazer é ir á praça, provar que temos mais influencia do que os nossos emulos». Foi o que fizeram, e effectivamente empregaram todos os recursos e todos os meios de que podiam dispor, para difficultarem a emissão, e o emprestimo esteve a ponto de caír por falta de bastante influencia da casa Knowles & Foster para realisar a emissão. Foi tal o embaraço e as difficuldades em que n'essa occasião aquella casa se viu, que eu tenho uma carta da agencia financial de Londres em que se me diz: «Knowles estão com a cabeça perdida por se haverem encarregado do emprestimo, e dizem que de bom grado dariam logo 1:000 libras se podessem desonerar-se da similhante encargo, superior ás suas forças, encargo com que aliás poderiam desacreditar-se, pois não realisando o emprestimo a sua casa ficava perdida». Acrescentavam ainda = que melhor fóra não se terem mettido em similhante emprestimo, porque a sua casa era uma casa de commissões acreditada, nunca tinha entrado n'estas grandes transacções, e logo á primeira em que entrava corria o risco de ficar desacreditada =.

Foi n'essa occasião que a casa Knowles & Foster se valeu de Youle, pessoa de antigas relações com aquella casa, para servir de intermediario com os srs. Stern, e effectivamente aquelle conseguiu trazer as duas casas a um accordo, a fim de que os srs. Stern não hostilizassem; e d'estas negociações resultou que estas ultimas tomaram 2 milhões do emprestimo, fallaram a todos os seus amigos, e conseguiram o bom exito da operação. Portanto foi um serviço importante que Youle prestou á casa negociadora da emissão de 1862, como consta dos documentos que aqui tenho, como consta da propria carta doa srs. Knowles, e de todos os documentos que lerei á camara.

Neste serviço importante que elle fez, e que os srs. Knowles & Foster, na sua carta, chamam relevante, o nosso paiz aproveitou indirectamente, porque era descredito para Portugal que o emprestimo não tivesse bom exito; mas quem aproveitou mais directamente foi a casa Knowles, que estava ameaçada de um descredito immenso e perdia nos seus interesses.

Portanto, como vem os srs. Knowles & Foster dizer que = não foram feitos a elles os grandes serviços prestados por Youle =, como se eu o tivesse empregado ao meu serviço? Eu só soube d'esta circumstancia quando me appareceu uma reclamação, ácerca da qual mandei informar a agencia em Londres. Aqui tem a camara esta historia, e como Youle interveiu n'isto.

Mas Youle, segundo me consta, é um negociante, homem dotado de bom caracter, e pouco cauteloso nas suas cousas; prestou este serviço e não fez estipulação com as partes que o tinham encarregado d'essa conciliação; e como os negociantes, mesmo os mais abastados, os mais honrados e honestos, gostam de poupar, quanto possivel, os seus capitães, e de dar a menor remuneração possivel, creio que quando Youle lhes fallou, e lhes disse: «Então eu não tenho nada? Prestei este serviço e não recebo remuneração alguma?» Elles lhe disseram: «Vá lá pedir ao governo de Portugal, para ver se elle lhe lá alguma cousa». Encaminharam-o para cl, porque se o governo lhe desse dinheiro ficavam elles exonerados de lh'o dar. Effectivamente