O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

298 DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

O resultado tem sido sempre mau, protestos, queixas, desconfianças e desmembramentos partidarios.

Comprehendo e admitto um accordo perante uma grande calamidade publica, perante uma guerra civil, que dilacere o paiz, e perante uma guerra estrangeira, que ameace a Bua independência, porque em tal caso e n'essa hypothese é um dever de honra e uma prova de civismo sacrificar nos altares da pátria todos os dissidios, todos os conflictos e aggravos; mas nas epochas normaes e serenas, que nenhuma tempestade perturba, entendo, que não deve haver outro accordo senão o de cada partido promovendo dentro dos seus arraiaes e em desaccordo com os processos governativos dos outros partidos o bem e a felicidade do paiz, e a resolução dos problemas que mais lhe interessam.

O desaccordo é o estimulo da lucta, como a lucta é a condição da vida.

Creio, que os partidos mais lucram e mais se exaltam, mantendo bem estremes os seus principios, bem abalisados os seus campos, bem distinctas e autonomas as suas bandeiras.

Os primeiros periodos da nossa historia constitucional foram turbados por graves desordens e por contenções ás vezes cruentas, mas ao menos eram tempos de fé, de abnegação e de convicções nobilitadas e enaltecidas ás vezes pelo espirito de sacrificio levado às ultimas e mais admiraveis consequencias. (Apoiados.) N'esta quadra de uma parda decadencia politica, em que a confusão das idéas mais de uma vez tem acompanhado a confusão dos partidos, e em que o sr. Fontes, conservador por temperamento, por índole e por tradição, o que lhe não tomo a mal, se entraja agora impropriamente n'uns retalhos mal descosidos da bandeira progressista, eu não condemno nem maldigo os progressos e os melhoramentos materiaes, que conquistámos nos ultimos annos, mas sinto e deploro, que com a posse o fruição d'elles coincida a tibieza das crenças politicas e o quebrantamento da vitalidade partidaria. Entre esta phase serena, em que se preiteijam transacções, e aquella frágua chamejante, em que ao passo, que se retemperavam as idéas, se fortaleciam os caracteres, eu não hesito, não vacillo em dar a esta as minhas sinceras preferencias.

A lucta partidaria, por mais que encareça conciliações e concordias a palavra eloquente do sr. Manuel d'Assumpção, póde ser accesa, tenaz e intransigente, mas póde e deve ser ao mesmo tempo leal, cavalheirosa, digna, isenta de odios pessoaes, de agitações tumultuarias, e de arruaças temulentas, como aquellas com que o partido regenerador coroou em 1881 a guerra santa declarada ao governo progressista em nome da gravidade das circumstancias.

Como o accordo está morto, vem a ponto citar a phrase animosa do marquez de Pombal perante as ruinas fumegantes de Lisboa em 1755, «enterremos os mortos e cuidemos dos vivos». Deixemos o accordo, que morreu e tratemos de um vivo, que não obstante os attestados de boa saude, que lhe passa a illustre commissão do projecto de resposta, padece grave enfermidade, que demanda todos os nossos cuidados e attenções. Esse enfermo é a fazenda publica. (Apoiados.)

Quem considerar o documento, que está submettido á apreciação da camara, como um criterio seguro da situação politica e economica do paiz, do estado da sua administração e das suas finanças, da integridade e desenvolvimento das suas colonias, ha de pensar, que nenhumas difficuldades, nenhuns perigos, nenhumas sombras escurecem os horisontes da vida nacional; ha de imaginar, que sob o feliz consulado d'este governo a liberdade, a justiça e a abundancia se uniram e fraternisaram n'uma santa conspiração para offerecerem ao mundo o modelo correctissimo de uma nação exemplarmente regida; ha de pensar, se não possuir outros elementos de informação, que são copiosos os nossos recursos opulentas as nossas receitas e prosperas as nossas finanças; que se de fronteiras a dentro não ha males, que nos assoberbem, nem sobresaltos, que nos inquietem, lá fóra são escrupulosamente respeitados os nossos direitos, e se mantém intemerata e illesa a tunica sagrada da patria, que representa uma propriedade, que é legitima, e recorda um esforço, que foi heroico. (Apoiados.)

Mas infelizmente factos incontestaveis, evidentes e lastimosos apagam as cores festivas d'esse idylio, e projectam sobre o ridente quadro, que se nos traçou n'esse documento, a sombra de verdadeiros desastres. (Apoiados.) É forçoso referir-me agora ao illustre deputado, que acabou de fallar, o sr. Mendes Pedroso.

Disse s. exa., que as eleições foram liberrimas.

Oh! Sr. presidente! Foram liberrimas as eleições e correu uma larga regueira de sangue era diversos pontos do paiz, e foram até fuzilados pobres e inoffensivas mulheres, (Muitos apoiados.) que em 1884 nem pensavam, nem se lembravam, de que haveria n'este paiz auctoridades tão intolerantes, tão facciosas, tão desvairadas pelo influxo das paixões politicas, que reproduzissem á face da nação horrorisada as truculentas e tragicas scenas de ha quarenta annos. (Muitos apoiados.)

As eleições foram liberrimas e treze ou quatorze cadaveres ficaram como monumento, como tropheu, como funebre attestado do acatamento e do respeito tributado á liberdade da urna. (Muitos apoiados.)

As eleições foram liberrimas e o sr. Mendes Pedroso, seguindo n'este ponto a trilha já aberta pelo sr. Fontes, lança-nos, aos deputados da opposição, com profundo aggravo da logica e da coherencia, a extraordinaria e contraproducente insinuação de que nós representâmos aqui a munificencia e a generosidade do sr. Fontes, e não a vontade do paiz e a liberdade da uma reconhecida e confessada no discurso da coroa. (Vozes: - Muito bem.)

Eu poderia fazer largas considerações, em resposta ao sr. Mendes Pedroso, ácerca da conferencia de Berlim, em que o governo diz haver-se feito representar por convite do imperador da Allemanha de accordo com o governo francez.

Para responder ao illustre deputado é sufficiente lembrar, que o governo portuguez, agachando-se á sombra de uma calculada reserva, occultou uma circumstancia muito grave, que está bem aclarada no Livro Azul distribuido no parlamento inglez. Essa circumstancia é que o governo portuguez foi o primeiro a propor a idéa da reunião da conferencia, e que tomou tal iniciativa sem ter adquirido antecipadamente a certeza de ter a seu lado alguma potencia, que defendesse e amparasse ali os direitos da nossa soberania. (Apoiados.)

Não tenho a immodesta pretensão de derramar luz sobre um assumpto, que ficou completamente esclarecido no notabilissimo discurso ha dois dias pronunciado n'esta casa pelo meu prezadissimo amigo e illustre parlamentar, o sr. Barros Gomes. E aproveito a occasião para o felicitar por esse discurso, que revelou a seriedade e profundeza dos seus estudos e a sua alta competencia em todos os assumptos, a que s. exa. consagra as applicações de sua robusta intelligencia; esse discurso daria honra aos primeiros parlamentos do mundo, (Apoiados.) e seria sufficiente para conquistar-lhe reputação de estadista, se a não tivesse já bem firmada. (Apoiados.)

É sempre desagradavel fazer referencias a um ministro ausente.

Não está presente o sr. ministro dos negócios estrangeiros...

Vozes: - Esta, está.

O Orador: - Felizmente vejo entrar s. exa. Digo felizmente porque desejo fazer algumas observações para mostrar, que me não satisfizeram em todos os pontos as respostas, que deu hontem ao sr. Barros Gomes.

O sr. ministro dos negocios estrangeiros, fazendo uma pallida e deficientissima resenha das negociações diploma-