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SESSÃO DE 28 DE JANEIRO DE 1885 303

nião e a consciencia publica. Essa irreflectida e desgraçada reforma, cujas inspirações e fins não quero malsinar, foi um passo errado, foi um erro grande, porque produziu um resultado contraproducente, e se vivesse o grande publicista Antonio Rodrigues Sampaio, se no animo e nos conselhos do governo podessem influir e preponderar ainda os avisos da sua voz auctorisada, elle repetiria que para os desmandos e abusos da imprensa o melhor correctivo é a propria imprensa, e principalmente a opinião publica. (Apoiados.)

Nós vimos, que a pena, que devia corrigir os réus, se transformou em glorificação, que exaltou as victimas; vimos responderem ás sentenças condemnatorias proferidas nos tribuuaes os applausos e as acclamações da praça publica; vimos a nodoa dos convicios e das affrontas imprimir-se mais larga e mais escura no proprio logar, que mais queriam parapeitar o defender uns desatentados e infelizes paladinos. O processo mais seguro para consolidar as instituições e eleval-as no conceito publico, não está em empregar contra os desacatos da imprensa rigores e severidades excepcionaes, está em o governo ser o primeiro a dar saudaveis exemplos de respeito por estas instituições, em não exercer dictaduras desnecessarias e affrontosas do poder legislativo, e em não commetter abusos e attentados, que são a negação absoluta da lei, da justiça e dos interesses publicos.

Eu comprehendo perfeitamente quaes são os intentos e os planos do sr. Fontes ao apresentar uma proposta de reformas politicas, que são uma evasiva de largas e verdadeiras reformas, ao fazer em dictadura a reforma do exercito o em dar-lhe por epilogo o proprio dia do anniversario natalicio do chefe do estado, e ao descrever-nos as finanças numa situação lisonjeira; mas o sr. Fontes está completamente illudido.

A força dos acontecimentos, a força da verdade e a força do opinião hão de um dia aniquilar esses planos, como as rajadas do temporal varrem e dispersam as folhas seccas das arvores.

Ou seja pela acção do tempo, que é irresistivel conductor de desenganos, ou pela acção de desastres, que são às vezes um poderoso estimulante para a consciencia das nacionalidades, que não querem morrer, o paiz ha de acordar da sua profunda lethargia para se envergonhar da sua profunda decadencia, e quebrará então o eixo de uma política estreita, egoista, utilitaria, sem altos fins e sem largos horisontes, eixo formado de sophismas e de ficções, de preponderancias absorventes, e de condescendencias illicitas, de imprevidencias, que não querem ver, e de erros, que não querem corrigir-se.

Perante a perda das colonias, cuja exploração e desenvolvimento devia ser o ponto de convergencia dos esforços e da actividade do paiz, perante a ruína da fazenda publica, perante os estremecimentos do nosso credito, perante as penúrias do thesouro, os lyrismos e as jubilosas affirmações do governo não minoram antes aggravam os males públicos, porque occultam a verdade e a primeira necessidade de um povo é conhecer o que é para fazer o que lhe cumpre.

E quando o paiz conhecer bem a gravidade da sua situação, rodeada de perigos e difficuldades, ha de resolver-se a entrar seriamente no governo de si mesmo, e a só admittir uma politica sã, uma politica forte e levantada, que tenha por norte, não o predomínio de um homem, mas o engrandecimento da patria, que tenha por inspiração e por norma principios e não arranjos, reformas largas, serias e verdadeiras nos homens e nas instituições, e não íllusorios simulacros, que nada remedeiam e a ninguem satisfazem.

Tenho dito.

Vozes: - Muito bem.

(O orador foi comprimentado por muitos srs. deputados.)

O sr. Presidente: - A ordem do dia para amanhã é trabalhos em commissões, e para sexta feira a continuação da que estava dada.

Está levantada a sessão.

Eram pouco mau de cinco horas da tarde.

Redactor = S. Rego.