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SESSÃO N.° 18 DE 1 DE FEVEREIRO DE 1896 151

tempo. Desenvolveu-se o mildiu e, se não fosse o effeito extraordinariamente benefico da calda cuprica, o paiz teria sido assolado por um flagello porventura mais terrivel do que a phylloxera. A conclusão é facil de tirar. A cultura da cepa é rendosa, é certo. Mas qualquer resolução que de futuro o parlamento venha, a tomar sobre a questão do álcool, se a medida adoptada favorecer a transformação do paiz em uma grande fazenda sómente viticola, essa resolução pôde, um dia, conduzir-nos á miséria, se um novo flagello agrícola, vier devastar os vinhedos, e não se lhe encontrar remedio prompto e radical. Porque nós, em grande, quasi só exportâmos vinho.

Permitia-se-me que eu recorde o que affirmou o sr. Taveira, com muita graça e verdade, em um relatorio da exposição industrial portuguesa, que se realisou no Porto, em 1891.

O sr. Taveira foi relator do uma classe que comprehendia as substancias de origem vegetal ou animal empregadas na industria. Azeites, vinhos, productos florestaes, pelles e couros não eram abrangidos nessa secção.

Vemos, diz o sr. Taveira de Carvalho, que n'esta vasta classe de productos, de cujo estudo fui incumbido, ha só uma materia prima em quantidade bastante superior às necessidades do reino... é a cera (doloroso epigramma!).

É realmente extraordinario que isto assim seja, mas o exame dos numeros mostra a verdade do que affirma o sr. Taveira, e convém notar ainda que grande parte dessa cera provem das nossas colonias.

Lembro tambem nm outro facto citado por todos os historiadores.

O tratado de 1703 foi uma das convenções diplomáticas mais prejudiciaes, sob o ponto de visto economico, para o nosso paiz. N'esse tratado, que é o de Methwen, a Inglaterra favorecia consideravelmente a entrada dos nossos vinhos, diminuindo-nos um terço dos direitos, que pagavam, nas suas alfandegas, os vinhos de outro qualquer paiz. Nós, em, troca, favoreciamos a entrada em Portugal dos tecidos de lã inglezes.

V. exa. sabe perfeitamente o resultado. As nossas industrias de lanificios, que antes do tratado e depois de 1681 se tinham principiado auspiciosamente a desenvolver, foram por completo arrumadas. A nossa producção vinicola augmentou e augmentou consideravelmente, é certo. Passados annos, porém, com a avidez do lucro, os agricultores, plantando a vide em terras impróprias para alargar a área da cultura, depreciaram o valor do producto e falsificaram-n'o tambem. Consequencia final. A pipa de vinho do Porto que tinha subido a 60$000 réis desceu a 10$000 réis, e, por tal forma se aggravou a situação, que em 1760 teve de ser decretada uma das medidas mais arbitrarias e violentas de que resa a nossa historia, por um estadista, que, sem duvida, é o maior que Portugal tem tido. O marquez de Pombal mandou arrancar as vinhas dos valles do Mondego, Tejo e Vouga.

Deixando esboçados estes dois factos, intimamente relacionados com a questão pendente, para quem a encarar na sua verdadeira e vasta complexidade, deixo o assumpto para momento mais opportuno.

Tenho, comtudo, de pedir por mais algum tempo a attenção do parlamento.

O meu amigo, sr. deputado Boavida, no seu eloquente discurso de à ontem", no correr da ordem do dia, discurso pelo qual, permitta-me s. exa. eu o felicite, não obstante a minha pouca auctoridade, referiu-se a Pasteur, dizendo que desejava mandar para a mesa uma proposta rolem brando a sua memoria.

Em tempo julgo que os membros do parlamento entre si combinaram evitar, tanto quanto possivel, as manifestações de sentimento por fallecidos illustres, por isso que muitas vezes, sob a manifestação de pezar, o proponente encobria uma affirmação politica.

Mas se porventura se podo abrir uma excepção unica, memoria de Pasteur é por tal fórma extraordinaria, que sem a merece. (Apoiados.)

Pasteur é, para mim, o primeiro benemerito d'este seculo. (Apoiados.)

E não foi só no campo theorico que as descobertas de Pasteur tiveram o seu immenso, o seu incomparavel predominio. Tiveram tambem a sua esplendida consagração, no domínio agricola, no dominio industrial, em medicina
em cirurgia.

Desde os, estudos sobre os vinhos até á determinação do papel dos antisepticos, quão gigantesco não foi o trabalho de Pasteur!

Ainda ha bem poucos annos, quando o ferro do operador rasgava um abdomen, interessando o peritoneu, o resultado era quasi sempre fatal; mas hoje, operações que antigamente pareciam incríveis, são correntissimas, contribuindo largamente para esse bom resultado o conhecimento da biologia dos microorganismos, conhecimento tão profundado por Pasteur.

Eu não quero negar a Raspail a sua genial intuição do papel do microcosmos, nem a Lister a gloria que lhe cabe ia iniciação dos methodos antisepticos. Isso, porém, nada ira ao inegualavel merecimento da vastissima obra de Pasteur.

Vou terminar, mas, antes, desejo manifestar publicamente uma opinião que ha muito tempo tenho e que nunca disse. É uma especie de reacção contra uma idéa, exposta em um livro scientifico, que quasi todos têem lido.

É sabida a voga que tiveram os livros de Hacckel sobre a creação natural e sobre a anthropogenia. Em um d'elles, o seu auctor, examinando o papel das raças germanicas e anglo saxonias na civilisação, comparado com o da raça latina, conclue que esta ultima tem actualmente um papel secundario, pois que, affirma Haeckel, nas theorias hoje apregoadas triumphantes nas sciencias da natureza e nas sciencias sociaes, pouco collaboraram os sabios dos paizes latinos.

Pois eu digo, se algum sabio ou erudito da raça anglo-saxonia, ou da raça germanica tentar affirmar a decadencia dos povos latinos, basta, para responder, que lhe apontemos o nome de Pasteur.

Vozes: - Muito bem.

Leu-se na mesa a seguinte:

Declaração

Declaro que me associo á proposta do sr. deputado Francisco José Patricio, proposta em que se renovou a iniciativa do projecto de lei de 14 de maio do 1383, que tem por fim indemnisar o collegio dos orphãos, do Porto, para, a continuação e conclusão das obras do edificio da academia polytechuica.

Sala das sessões, 1 de fevereiro de 1896. = Aarão Ferreira de Lacerda.

Para a acta.

O sr. Ministro do Reino (Franco Castello Branco): - Felicito o illustre deputado, cuja voz eloquente com prazer acabo de ouvir e cujos largos conhecimentos, sobre os mais variados assumptos de administração publica, a, camara teve agora occasião de apreciar.

Agradecendo as palavras amaveis e lisonjeiras com que s. exa. me tratou, ao referir-se a um dos trabalhos da dictadura do ministerio a meu cargo, devo dizer que, effectivamente, estou convencido de que foi um verdadeiro serviço prestado á iiistrucção e ao paiz a reforma da instrucção secundaria, tal como foi decretada pelo governo. E posso assim dizel-o, sem incorrer na qualificação de vaidoso, por estar tecendo louvores em honra propria, porque quero aproveitar esta occasião para reivindicar, como já tencionava fazel-o na primeira opportunidade, para o nome de um homem illustre a quem se deve particularmente, senão quasi exclusivamente, aquelle trabalho, o sr. conselheiro Jayme Moniz, quaesquer agradecimentos que