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lustre deputado fallou em tudo isto! Será erro da parte do governo, como o illustre deputado disse; mas esse erro abona a consciencia do governo, e mostra que elle não queria enganar o publico nem a camara; esse erro mostra que o governo não queria figurar uma despeza maior do que ella na realidade era. Mas se o governo tivesse o intento de querer illudir o deficit, para produzir menor impressão no paiz, o governo de certo não tinha apresentado uma cifra de 3:500 contos.

E, sr. presidente, o que é que se fez para se escrever esta cifra? Lançou-se mão dos documentos que havia: o governo lançou mão de todos os meios que tinha ao seu alcance, para ver a quanto montava a divida fluctuante dos empregados publicos, e se os seus calculos foram exagerados, é porque elle não teve outros documentos por onde podesse calcular melhor a exactidão desta cifra. O governo examinou quaes eram as verbas que estavam em divida nesse tempo, e por ellas fez o seu calculo. Aconteceu porem que, desde tempos muito antigos, não tinha havido uma grande regularidade em um ou outro ministerio a respeito dos pagamentos, porque se tinham pago mezes differentes, a diversos individuos, e por isso, quando se fez a reunião de todos os elementos no ministerio da fazenda, lançou-se a cargo da junta do credito publico uma somma maior, do que aquella que na verdade era. Mas pergunto, que inconvenientes vieram daqui para o thesouro? Por ventura tem de se pagar mais do que aquillo que se deve pagar? Tem de se pagar esse excedente? Não. Agora, sr. presidente, que já expirou segunda vez o praso dentro do qual deviam vir os portadores daquelles titulos, é que o governo póde dizer qual é a cifra, ou qual é o encargo que deve pezar sobre a junta do credito publico; mas então, com exactidão, não o podia dizer.

Mas, sr. presidente, o illustre deputado viu no projecto que se discute uma grande prova de desconfiança do governo. Quereis saber qual ella é? É o deposito que o governo ha de fazer de inscripções para garantia do emprestimo, e é a passagem directa do producto do imposto dos 15 por cento, que se arrecadar nos cofres dos exactores da fazenda publica nos districtos do Porto, Braga e Vianna para o cofre da companhia. E diz o illustre deputado com muito espirito e com muita graça — em outros tempos eram as companhias que faziam os depositos; agora é o governo que deposita. — Eu pergunto ao illustre deputado, quando era esse tempo feliz em que as companhias as faziam os depositos? Pergunto ao illustre deputado quaes eram essas companhias, em que tempos, em que paizes e em que circumstancias se fez isso? Pensa o illustre deputado que a companhia de que se tracta, é uma companhia de obras publicas? Pena que ella arremata e dirige as obras das estradas? Dar-se-ha caso que o illustre deputado não lêsse o projecto, e por isso o não discutiu? (O sr. Carlos Bento: — Talvez.) Eu não digo isto para fazer injuria ao illustre deputado: não quero fazer-lhe injuria alguma, mas parece-me que se o illustre deputado lê-se o projecto, havia de vêr que a companhia não dirige, não fiscalisa, nem contracta obras publicas; a companhia empresta sómente o dinheiro para o governo emprehender a feitura destas estradas, ou por sua conta, ou por conta de outra companhia, mas sem dependencia da companhia. A companhia, sr. presidente, é uma companhia mutuante, que empresta dinheiro sobre penhores; o emprestimo sobre penhores e por ventura alguma cousa que deshonre o governo? É alguma novidade no paiz? Não se tem emprestado dinheiro sobre penhores? Ignora o sr. deputado que isto se tenha feito, e julga que é esta a primeira vez que se fazem destes contractos? Não ignora, decerto. O illustre deputado sabe-o melhor do que eu. Pois não sabe o nobre deputado que os emprestimos de 1835, feitos pelo banco ao governo, foram garantidos por inscripções, e que outros são garantidos por lettras sobre as alfandegas, e por operações de thesouraria, e até pelos impostos do subsidio litterario e do real d'agoa, e mesmo por penhores que são independentes do governo, como são as rendas dos contractos reaes? E ninguem ainda se lembrou de accusar o governo que tem feito esses emprestimos, senão o illustre deputado, como se a realisação de dinheiro sobre penhores fosse neste paiz uma cousa inteiramente nova.

Mas diz-se, sr. presidente, que a entrada directamente do producto dos 15 por cento que fôr arrecadado pelos exactores da fazenda publica naquelles districtos a que me referi, para os cofres da companhia, é uma prova de desconfiança. Eu traduzirei, porém, de outro modo este ponto, e direi que é uma garantia que o governo dá para fiel execução do seu pensamento. Se o illustre deputado quer chamar a esta garantia uma prova de desconfiança, chame muito embora; mas saiba a camara, e o sr. deputado, que fui eu n'uma reunião com alguns capitalistas do Porto (isto que digo é verdade; o que aqui disser, ha-de-se saber no Porto; e eu não quero que se diga lá que não fallei verdade ao parlamento) fui eu, digo, que propuz que aquellas sommas saissem dos cofres dos exactores da fazenda publica para os cofres da companhia.

Mas dirá o illustre deputado que por este modo nem eu tenho confiança em mim. Confesso que não desconfio nem de mim, nem dos outros; mas no momento em que se tem levantado, com mais ou menos razão, desconfiança de que o governo procura apropriar-se de fundos especiaes que entram no thesouro publico, a fim de o» applicar ás despezas publicas, intendo que era mais uma prova da sinceridade do procedimento do governo, e que era mais uma justificação insuspeita de que o governo não tinha similhante intenção, indicando elle mesmo que o producto dos, quinze por cento entrasse directamente dos cofres dos valores da fazenda, para os cofres da companhia. O que perde com isto o governo? Nada. É alguma novidade? Não. Não pense o illustre deputado que ha aqui alguma novidade, porque isto que se fez agora, tem-se feito em tempo de outras administrações.

Sr. presidente, a instituição da junta de credito publico, que é uma instituição que ainda ninguem combateu, não recebe ella as sommas dos exactores da fazenda publica, sem entrarem no thesouro? E é isto desconfiança do governo? Não de certo; e o illustre deputado já tem prestado o seu apoio a administrações que tem feito o mesmo; e a fallar a verdade não julguei que merecesse censura uma cousa que foi feita por aprazimento de todos. E não é só isto. O illustre deputado sabe, que os rendimentos do fundo especial de amortisação, que não é uma medida deste governo, passavam directamente dos