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exactores da fazenda publica para o banco, como mandava a lei; porque o decreto de 19 de novembro o determina, o determina expressamente. E tudo isto é desconfiança do governo? Pode-se lançar um stygma sobre uma administração por fazer aquillo que muitas outras tem feito? Oh! sr. presidente. E preciso que a paixão allucine completamente o illustre deputado, para que vendia ao parlamento censurar aquillo que outros tem feito em casos analogos.

Ainda me lembra outro exemplo. A associação commercial do Porto fez uma casa ou um palacio; esta casa ou este palacio, quero dizer, os fundos para ella, foi feito pelo producto do imposto que entrava directamente da alfandega, e não passavam pelas mãos do governo. Portanto, sr. presidente, agora fazer se o mesmo que se tem feito em circumstancias similhantes.

Uma das coisas que penso que mortifica o illustre deputado, e que só por isso me faz pena, é a accumulação que eu tenho da pasta das obras publicas com a pasta da fazenda. É a accusação velha. Já no anno passado se fallou do pezadello, que o ministro tinha com estas duas pastas. O illustre deputado diz, que não quer a quéda do governo, mas pede a desaccumulação da pasta do ministerio das obras publicas. Pois, sr. presidente, se disto póde resultar algum mal, é para mim, porque tenho muito trabalho; e penso que o illustre deputado sabe que por isso não tiro proveito de qualidade alguma, e por tanto não me demorarei em o declarar.

Mas o nobre deputado não é competente para avaliar a conveniencia que ha nesta accumulação, porque o illustre deputado é opposição; e a avaliação dessa conveniencia pertence ao governo, e áquelles que nos apoiam, e não áquelles que nos combatem; e podia o nobre deputado estar dez annos, e mais (se fosse possivel que este ministerio durasse tanto tempo) a pedir a desaccumulação destas pastas, na certeza de quere o governo não intendesse que nisso havia alguma conveniencia, decerto não attenderia o nobre deputado. Pois, por ventura, ignora o illustre deputado que em Portugal, e fóra de Portugal tem-se accumulado, muitas vezes, pastas e muito importantes, e que ha nisso muitas vezes uma grande conveniencia politica? O governo póde intender mal sobre a conveniencia desta accumulação; mas o governo, e aquelles que o apoiam, é que são os juizes dessa conveniencia.

Eu tambem fui visitar as obras publicas no districto do Norte, roubando para esse fim o tempo a outras cousas, e a que se referiu o illustre deputado; examinei a estrada de Braga, que o nobre deputado fulminou hontem...

O sr. José Estevão: — Está bem boa.

O Orador: — Não sei se o illustre deputado o diz por ironia...

O sr. José Estevão: — Não, senhor; está bem boa.

O Orador: — Fui observa-la, e fui até em tempo muito invernoso...

O sr. Carlos Bento: — Ainda a não vi.

O Orador: — Não a viu; ora aqui está como peccam as reflexões do illustre deputado! O illustre deputado falla contra um objecto de que não tem conhecimento, e eis a razão por que os argumentos de s. s.ª não têem força; e eu sinto isto pela sim pessoa, porque o estimo muito. O illustre deputado tem ouvido cousas bonitas e outras feias a seu respeito, a meu respeito, e a respeito de todos nós. Eu faço justiça ao illustre deputado de que não vem repetir ao parlamento o que se diz lá fóra, e Deus nos livre que venha repetir aqui o que vê. Lá por fóra ouvem-se muitos disparates, muitas injustiças, muitas calumnias, e ouvem-se muitas outras cousas; e seria falta de criterio, e ao nobre deputado não lhe falta, para vir contar ao parlamento boatos, e boatos que podem ser desmentidos pelos individuos das localidades, como aquelles que aqui se acham. Posso dizer ao illustre deputado, por inspecção ocular, (e alguem haverá na camara que póde dizer o mesmo) que a estrada de Braga está construida segundo as condições de arte; e essas obras de arte, que existem naquella estrada, não fazem vergonha do modo por que foram desempenhados, e não sirva de argumento ao illustre deputado o ter caído o viaducto do Arnoso; não tire daqui argumento, para dizer que a estrada estava mal construida, porque isto tem acontecido muitas vezes no nosso paiz, e tem acontecido lá fóra, onde os homens da arte e os engenheiros são homens peritos. Tem acontecido aos primeiros engenheiros da Europa, e até houve um que morreu, senão me engano, de desgosto; foi o celebre engenheiro Navier, que fez a ponte pensil sobre o Senna, e nem por isso perdeu a sua reputação, porque aquelles que lhe succederam, não deixaram de lhe tributar os devidos louvores pelo seu elevado merecimento. Lá está o viaducto de Barantin, na linha de Rouen ao Havre, que caíu, e que era construido por um engenheiro de primeira ordem. Isto são fatalidades que occorrem, sobre tudo nas épocas em que as chuvas se precipitam em torrentes, como tem succedido desgraçadamente no nosso paiz durante este anno; e não admira que uma obra de arte, feita de pouco tempo, tenha cedido, ou mesmo alluido. Mas não se póde tirar daqui conclusão de que a estrada de Braga não esteja bem construida, e de que Os seus trabalhos não são feitos com todo o esmero e proficiencia que elles merecem.

O illustre deputado estabeleceu como um dos pontos capitaes, a que quer que eu responda precisamente, se se faz ou não o caminho de ferro de Lisboa ao Porto,

Sr. presidente, o illustre deputado é o proprio que confessa, que dissentimos profundamente em systemas de administração; que o nosso systema é differente; e portanto não admira que eu nesta parte dissinta do illustre deputado, assim como não concordo com o illustre deputado, quando disse que não julgava possivel fazer-se este caminho de ferro; porque julgo que as difficuldades para se levar a effeito se vão desvanecendo, e se hão de remover de todo; e que é preferivel a construcção do caminho de ferro á construcção da estrada para o Porto. Se eu visse que se determinava ámanhã que se construisse a estrada do Porto, eu concluia immediatamente que a idéa do caminho de ferro do Norte tinha sido adiada definitivamente.

O sr. Carlos Bento: — Ao contrario.

O Orador: — Ao contrario! Peço licença para declarar que não intendo. Pois imagina o illustre deputado, que da construcção da estrada do Porto se ha de seguir a conclusão immediata de outras vias de communicação? Eu intendo que os povos, desde o momento em que tivessem gasto uma somma consideravel com a construcção de unia entrada, e que