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tanto, sr. presidente, espero que o ministerio das obras publicas nessa parte ha de satisfazer ás indicações do illustre deputado, que são tambem as minhas e os desejos do governo necessariamente, na certeza de que se eu me convencesse de que elle deixava de satisfazer esse fim, eu seria o primeiro a alterar, a modificar quaesquer disposições, que aliàs tivesse tomado, ou a tomar outras novas que fossem necessarias para elle satisfazer esse fim.

O Orador: — Eu me explico agora em tom mais profundo. As repartições antigas estão habituadas a não dar contas. (O sr. Ministro das obras publicas: — Se me dá ainda licença....) Eu não contesto os esforços que o sr. ministro tem feito neste ramo de administração, (O sr. Ministro das obras publicas: — Não são esforços, são factos) os progressos mesmo que temos feito; mas em vinte annos de systema parlamentar, não approvámos ainda contas, dando-lhes essa sancção parlamentar, que se usa em toda a parte. Ora digo eu, que quando uma repartição se cria de novo, é preciso dirigi-la bem logo de principio, e não a deixar caír no desleixo e desmazelo que as suas companheiras tinham desde muito tempo.

Eu insisto neste ponto, não só porque e um ponto de moralidade publica, uma necessidade indispensavel; não digo para restabelecer o credito, mas para não fazer recaír pela opinião publica qualquer suspeita ou responsabilidade ás differentes pessoas deste ministerio; mas para a execução de um dever nosso, de um preceito constitucional, e para exemplo para todos os ministerios, é preciso que de uma vez se dêem contas de tudo.

O sr. Ministro da fazenda (Fontes Pereira de Mello): — É só para dizer ao illustre deputado e á camara, que eu no anno passado na época competente apresentei a conta do ministerio da fazenda a meu cargo, precisamente dentro do limite marcado no acto addicional estou certo que neste anno, dentro do mesmo limite, apresentarei a conta geral do estado, e a conta da gerencia do corrente, e a de exercicio, na conformidade da lei.

O sr. José Estevão: — De todos os ministerios?

O sr. Ministro da fazenda: — A conta da gerencia dos dois ministerios a meu cargo, a do das obras publicas não a apresentei no anno passado pelos motivos que a todos são obvios.

O sr. José Estevão: — É a conta de exercicio no tempo conveniente?

O sr. Ministro da fazenda: — Sim, senhor.

O sr. José Estevão: — Eu não faço estas reclamações, para esperar factos; é para provocar declarações, e essas declarações equivalem a factos.

Eu quasi que devia sentar-me, e não dizer nada sobre o objecto em discussão; mas sempre farei pequenas considerações a este respeito.

Sr. presidente, nós discutimos um projecto, que tracta das estradas do Minho. Eu intendo que o projecto deve ser approvado, porque todas as condições que elle encerra são vantajosas, porque elle exprime um desejo sincero da praça do Porto em ajudar, não direi, só este governo, mas todos os governos constitucionaes, a promover os melhoramentos do paiz, porque elle deve ser exemplo de modêlo de muitos outros emprestimos que, sobre as mesmas bases, se devem fazer para o resto do paiz.

Sr. presidente, ha uma parte do territorio portuguez, que não sei como se ha de haver quanto a communicações, e é preciso realmente que da parte dos poderes publicos haja uma declaração sobre se merece a sua sollicitude, ou se deve ír procurar os meios para o seu melhoramento em algum paiz estranho.

Quando chego á praça do Porto encontro capitalistas tão enthusiasmados pela abertura de estradas, consentem mesmo que se façam caminhos de ferro em todos os pontos que nos ligue pelo norte com a Hespanha. Se me apresento na praça de Lisboa — falla-se logo em estradas do sul, em caminhos de ferro que nos liguem ao paiz visinho, porque desde logo as transacções entre Lisboa e o paiz visinho serão em grande escalla; o numero dos viajantes que virão a Lisboa será grande; emfim, Lisboa será o porto mais espaçoso; havemos de ser o emporio do commercio, e por estas considerações pede-se o caminho de ferro, que nos ligue pelo sul ao paiz visinho. Mas o meio do reino para onde ha de ir?... Para Hespanha? Ninguem quer ligar com ella essas nossas provincias centraes. Deu-se o sul não sei a quem, o norte tambem não sei a quem; e o centro a quem se dará?.... As nossas provincias centraes estão perfeitamente abandonadas, e comtudo são as mais importantes pelos seus immensos productos, e pela sua grande população; mas carecem de que se abram grandes arterias de viação para poderem entrar na agitação commercial, e para obter isto devemos empregar todos os esforços.

Sr. presidente, falla-se na estrada de Lisboa ao Porto — Nós não ignoramos o estado em que se acha esta estrada; quasi todos nós a temos transitado, e realmente ir obrigar o paiz a dispender 400 contos para fazer algumas obras nesta estrada, parece-me que é uma exigencia sem fundamento plausivel.

Nesses trabalhos que se pertende que se façam, quer seguir-se a directriz da estrada actual? Como? Se é uma estrada que não serve para fazer por ella transito algum; que não serve para fazer communicações com outras povoações, que não serve senão para communicações officiaes entre Lisboa e Porto? O seu traçado, não ha engenheiro algum que o possa explicar; nesse traçado evitaram-se todas as populações importantes, escolheu-se o terreno mais arido e mais deserto. A estrada está intransitavel, não offerece vantagem com relação á communicação com muitas povoações importantes, mas não obstante tudo isto, em quanto houver uma só pedra naquella estrada ha de haver um certo engodo para refazer aquella estrada, que não merece que se gaste com ella 700 contos, que tanto seria preciso para a pôr um pouco melhor que está actualmente. Eu quero uma estrada que sirva para tudo, que sirva para tirar do centro da Beira as immensas producções que lá jazem sem valor.

Sr. presidente, eu encontrei ha pouco uma vara de porcos, que hia de Castello Branco para vender no Porto, traziam dezenove guias de Castello Branco e tinham andado dezenove legoas, e já nessa direcção tinham vindo tres ou quatro varas e todas ellas davam tres ou quatro mil cabeças, que se tinham comprado no sitio onde tinham sido produzidas a 12 mil réis, e o especulador esperava vendê-las a cinco moedas a quarenta legoas de distancia. Todo o fornecimento do gado em Lisboa é feito quatro mezes pela provincia do Alemtejo, quatro mezes pela provincia da Beira e quatro mezes pela provincia do