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Minho. Cada manada de bois leva dezeseis dias para chegar a Lisboa. (Uma voz: — E chegam magros.) Não comem nada, porque segundo a frase dos que os conduzem, vivem do cebo. Quando se compram bois, diminuia-se logo em cada um uma arroba daquillo em que se orçou, porque é o que se calcula que diminue cada rez até aqui. Ora em Lisboa gastam-se pelo menos cem bois por semana; calculem quantos lucros póde trazer a via ferrea só neste artigo. Encontrei uma vez um carro com panellas de ferro para a feira da Golegã, vindo do Porto, e trazia creio que -vinte dias de jornada! Ora em havendo (caminho de ferro, hão de vir por esse caminho as panellas, os bois, o bourgeois, o fidalgo e murta gente, que até agora anda a pé, e que nunca levantará os pés do chão, se não houver caminho de ferro, porque entre nós a classe cuja fortuna a habilita a usar de qualquer meio de transporte, e pouco numerosa. Eu fui do Porto a Braga na diligencia e mais o meu amigo o sr. Mendes Leite, em todo o dia andaram vinte e seis pessoas pela estrada de Braga na diligencia, e nós encontramos mais de quatro mil pessoas a pé, e destas, quinhentas viriam no caminho de ferro, se o houvesse, mas nunca hão de ir na diligencia.

Hontem tocou-se aqui na questão das subsistencias, e por esta occasião, eu pediria ao sr. ministro do commercio, que fizesse publicar no jornal official, se a empreza o deixar fazer, semanalmente, ao menos de quinze em quinze dias, uma nota dos preços porque nas diversas provincias estão todos os generos de producção agricola... (O sr. Ministro das obras publicas: — Está-se publicando) Está-se publicando semanalmente no Diario do Governo? (O sr. Ministro das obras publicas: — Sim, senhor) Das diversas provincias? (O sr. Ministro das obras publicas: — Sim, senhor, comparada com a medida de Lisboa) Não sabia; é uma bella indicação, que póde produzir grandes resultados, porque eu estou persuadido que a desproporção entre os preços, no mesmo artigo, nas diversas provincias é immensa, é immensissima. Por exemplo, no centro da Beira ha cereaes por um preço diminutissimo; mesmo ao pé de Coimbra tem metade do preço que tem a quatro ou cinco legoas de distancia; basta qualquer differença topografica, para encarecer extraordinariamente os preços, e quando houver caminho de ferro para o Alemtéjo não sei como o meu amigo o sr. Barão de Almeirim se ha de haver, porque se o preço do trigo hoje é de seis tostões, e elle diz que é muito barato; se houvesse caminho de ferro seria de quatrocentos réis, que é pouco mais ou menos o preço por que está o trigo no Alemtéjo.

Sr. presidente, eu intendo que o caminho de ferro de Lisboa ao Porto póde ser uma obra para que não tenhamos capitaes; mas é uma obra para que nós lemos braços, e eu realmente sinto vêr um apêgo excessivo a querer fazer entre nós todas as obras publicas pelo modo por que se fazem nos outros paizes. Nós não lemos capitaes, e se os ternos applicam-se pouco para este emprego, e não hão de applicar-se, em quanto não tiverem um criterio incontrastavel de que lhes é vantajoso este emprego; quero dizer, em quanto as acções de uma companhia de viação não sejam cotadas no mercado por um preço superior a quaesquer outras acções. Mas temos braços, e não sei se a camara receberá com hesitação a idéa de empregar o exercito nestes trabalhos. Ora, a fallar a verdade nós mão vamos á guerra do Oriente; de certo não vamos.... (Murmurios) é uma opinião; vejo que a camara não está disposta para a discutir, mas ou hei de obriga-la a discuti-la porque a hei de discutir com -ella. Não me citem (Respondendo a um áparte que não se percebeu) opiniões de generaes; aquelles que suppõem que se corrompe o exercito, que se lhe diminue a obediencia, fazendo largar as armas para pegar na enxada, podem estar cheios de preoccupações muito honrosas, mas tem uma opinião contraria aos interesses do seu paiz, e á vocação dos proprios soldados, porque os nossos soldados não são senão lavradores armados, e a maior parte do tempo são lavradores. Se quizerem, eu não terei duvida em propôr e conceder um certo augmento no exercito, por exemplo, de mais 2:000 homens, com a condição de ter um certo numero de individuos sempre empregados em obras publicas. A questão não a posso tractar agora, mas offereço-me a tracta-la com todas as pessoas que forem adversarias desta opinião.

No caminho de ferro de Lisboa ao Porto, pelo menos entre Coimbra e Porto, pela abundancia da população, facilmente se podiam fazer aterros, e depois seria facil encontrar uma companhia, que se encarregasse das obras de arte e da exploração do caminho de ferro, porque eu temo bem, que se esperarmos per todos esses meios de credito, não tenhamos estrada nem caminho de ferro. O que eu sei, sr. presidente, é que ha um certo enthusiasmo pela estrada de Lisboa ao Porto, um enthusiasmo de máo espirito positivamente, porque não podendo, agarram-se enthusiasticamente ao bom, para terem o gosto de evitar o melhor, porque a idéa de se fazer, depois de uma estrada, um caminho de ferro, é realmente uma idéa, que com difficuldade se ha de acreditar sincera. Se nós tivessemos uma estrada, por má que fosse, eram tantos os encomios, tanta a nossa chança interna, tanto o nosso orgulho, que desafiariamos todos os povos da terra para terem uma estrada melhor que a nossa; mas se tractarmos de um caminho de ferro, julga-se isso uma grande utopia, e um grande desperdicio em que não devem dispender 5 réis.

Eu não posso deixar de fazer algumas observações sobre a estrada de Braga, e de pedir ao sr. ministro, não como sollicitador por parte da companhia, mas unicamente como sollicitador officioso, que resolva com larguesa e promptidão as reclamações pendentes da parte daquella companhia, porque eu hei de fazer todo o possivel para que obtenha o seu fim, menos consentir que qualquer corporação dê leis ao governo do estado (Apoiados) e queira metter pé nas secretarias.

Mas, sr. presidente, a estrada de Braga é a melhor que nós temos; e a fallar a verdade, um portuguez que fôr reconhecer o estado do seu paiz, não deve ter duvida em declarar, que nunca viu, nem conheceu cousa melhor, do que aquella estrada, porque é melhor do que a estrada de Cintra, por onde passa toda a côrte, por onde passam todos os ministros. E quanto tem custado a estrada de Cintra? Quatrocentos ou quinhentos contos de réis. Eu prefiro a viação á gloria de todos os bons lisboetas, e á de todos os janotas politicos e não politicos. É mais facil transitar a estrada do Porto a Braga, do que ir em Braga á praça desta cidade, porque as ruas da ci-

VOL. I — JANEIRO — 1854.

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