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O illustre ministro, que está tão certo da excellencia destas medidas, deve provocar a sua discussão, e não dizer — são leis do estado, que já passaram. — Pois por serem leis do estado, não posso eu fallar nellas? Por serem leis do estado não podem até ser revogadas? Não tenho eu direito de vir aqui propor a sua revogação, se intender que ellas são prejudiciaes aos interesses do meu paiz?

Sr. presidente, o illustre ministro disse-nos mais — pois não se havia de extinguir o deficit? Pois havia de estar hoje em contradicção com as minhas opiniões antigas? Sendo deputado da opposição não vim aqui pedir que matassemos o deficit? — Peço perdão ao illustre ministro para lhe dizer, que tenho um adversario muito forte para oppôr a s. ex.ª: este adversario é o proprio sr. ministro. O nobre ministro disse-nos aqui alto e bom som — não me assusta um deficit de perto de 200 contos, e era indigno de ser ministro, se tivesse medo de um deficit desta importancia. — Depois este mesmo deficit horrorisava o sr. ministro a ponto tal, que teve de mudar de opinião, mutilando até os juros da divida fundada interna e externa, para assim tornar menos assustador aquillo de que s. ex.ª dizia envergonhar-se, se tivesse medo. O illustre ministro que em 1852 nesta camara, quando a opposição lhe dizia — que classificasse os papeis de credito, respondia tão alto — não posso classificar papeis; em nome do governo rejeito essa classificação. Pouco depois commetteu uma gravissima injustiça na classificação dos papeis, injustiça que não póde attribuir-se, senão a informações inexactas, que o illustre ministro tinha. O sr. ministro achou inscripções de 4 e 3 por cento; ás de 4 por cento, mata-lhe a esperança de receberem em dia sem deducção, e além disso reduz-lhe o capital 20 por cento, e ás inscripções de 3 por cento deixa-as como estavam, e o resultado foi que as inscripções de 3 por cento, que d'antes valiam menos 1 ou 2 que as de 4 por cento, passaram a valer mais 10 por cento, do que ellas. De maneira que os estrangeiros que lerem os nossos preços correntes não intenderão por que os nossos 3 por cento valem mais do que os 4, e se lho explicarem, ainda menos o ficarão intendendo.

Mas diz-se — os membros que formam a administração actual, acham-se n'uma situação especial. — Ora eu tenho visto desde 1851 sairem muitos ministros, que se achavam na administração, e não vi que dahi se seguisse cataclysmo nenhum para a causa publica. Eu vi que depois da administração de 1851, sairam o sr. marquez de Loulé, o sr. Pestana e o sr. Soure, e não vi que houvesse alteração na marcha regular e natural das cousas. Vi depois saír do ministerio um collega do sr. ministro da fazenda, uma notabilidade deste paiz, o sr. Seabra, e não só o vi saír do ministerio, mas tambem o não vejo nesta camara, e observo que a situação continuou do mesmo modo: não julgo pois que uma situação dependa de um homem conservar duas pastas. E neste ponto, respondendo ao sr. ministro, dir-lhe-hei que na occasião em que peço a separação das duas pastas, peço administração, e o sr. ministro responde-me em nome da politica: era a reflexão que eu tinha feito. Pois o illustre ministro diz — o trabalho tenho-o eu (!) — Isto é uma resposta que abona o desejo que o sr. ministro tem de ser util ao seu paiz, mas não é uma resposta que me possa satisfazer, não tem nada de serio.

O illustre ministro tem tido sempre junto á pasta da fazenda, uma outra pasta: isto não tem impossibilidade, mas eu julgo que o illustre ministro não tem tempo para pensar: o pensar leva muito tempo, e para se considerar um objecto debaixo de todas as suas faces, é preciso tempo: para isto é que não ha ainda caminhos de ferro; para a intelligencia humana ainda os não ha. Na minha opinião o illustre ministro não tem tempo para pensar, nem tempo para occorrer a todas as necessidades dos seus vastissimos ministerios. E não creio que esta declaração prejudique em nada a situação politica deste paiz, porque á testa delle está uma augusta personagem que dá todas as garantias de querer o bem deste paiz, e quando os povos têem a felicidade de ter no alto do throno uma pessoa que dá tantas garantias, podem descançar mais, e pedir ordem em nome da administração, mesmo quando se lhe quer impôr confusão em nome da politica.

Sr. presidente, o illustre ministro da fazenda, respondendo a uma alteração que eu tinha notado, quanto á fixação da divida em 1851, aos empregados publicos, disse — veja-se a boa fé do governo..... o governo não occultou cousa alguma á camara, mas peço perdão: o illustre ministro mudou a questão inteiramente do terreno donde deve ser considerada. A que vem aqui a boa fé do illustre ministro? Nunca a puz, nem a porei em duvida. O argumento é outro: o illustre ministro intendeu que os encargos que pesavam sobre o estado em uma certa época eram taes que reclamavam a adopção de uma medida violenta. Este é que é o argumento em toda a sua extensão; é o ponto em que insisto. O illustre ministro reconhece hoje que não tinha todas as informações, ou essas informações não eram instructivas na occasião em que se lançava mão, de uma medida tão violenta.

É verdade ter eu feito opposição ao ministerio passado por não pagar em dia aos funccionarios do estado, de accordo; porque julgo a necessidade do pagamento em dia uma conveniencia para o estado; mas, sr. presidente, devo fazer outra declaração, e é, que merece os maiores elogios aquelle que com o emprego dos meios mais faceis, consegue satisfazer as necessidades do paiz de outra fórma, invocando o dito de um grande homem — a civilisação é a economia da força, por consequencia — todo o ministro que para satisfazer um fim qualquer impuzer menos encargos, é o que satisfaz melhor ás necessidades da administração.

A administração passada, que eu combati em quanto tive uma cadeira nesta camara, não pagava em dia; é verdade que ultimamente estava quasi pagando de trinta em trinta dias, mas isso não era bastante, por que andavam atrasados doze ou treze mezes os empregados publicos, e as classes inactivas muito mais. Mas se o ministerio passado quizesse adoptar os meios de receita de que lançou mão o sr. ministro da fazenda, tinha mais meios de pagar em dia. Se o ministerio passado se apoderasse de 500 contos, que estavam para amortisar as notas, e os applicasse ás despezas correntes; se pegasse n'uma parte do que o contracto do tabaco havia de pagar, e a applicasse ás despezas correntes, se lançasse mão de parte do fundo especial de amortisação para satisfazer ás despezas correntes, a situação seria muito diversa, e não fazia favor de pagar em dia.

Ora, sr. presidente, o que é verdade é que o sr.