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mora incalculavel na marcha do gado suino e bovino? Pois em quanto não formos rapidamente, havemos estar sujeitos a não darmos um passo nesta estrada, sem nos atolarmos? Pois o nobre deputado não sabe que o paiz está em tal situação, que é preciso um roteiro para o poder transitar? A uma legoa do Porto vi um cidadão que se ia sumindo n'um atoleiro — espectaculo inteiramente novo neste paiz! Repentinamente faltou-lhe o terreno debaixo dos pés!

Pedia ao illustre ministro, que fosse mais benevolo para com um adversario politico que combate as suas medidas; e tanto mais mereço desculpa, quanto é regular o fallar-se na generalidade de um projecto sobre obras publicas; discussão sobre objectos desta natureza nunca se perde; e por isso, repito, peço ao sr. ministro que não seja tão rigoroso para com os seus adversarios politicos; se combali o projecto, é porque não me conformo com o pensamento que elle representa, e não para fazer opposição ás pessoas dos srs. ministros.

Em conclusão direi, que os srs. ministros actuaes tem, contribuido alguma cousa para este estado irregular de cousas. É esta a minha convicção,

O sr. Presidente: — Como deu a hora, a ordem do dia para ámanhã é a continuação da de hoje, e mais o projecto n.° 54. Está levantada a sessão. — Eram mais de quatro horas da tarde.

O REDACTOR

José de Castro Freire de Macedo

Discurso do sr. deputado Carlos Bento da Silva, que deveria entrar na 2.ª col. da pag. 137.

O sr. Carlos Bento: — Sr. presidente, se eu não tivesse pedido á camara o obsequio de me reservar a palavra para hoje, de certo não usava della, porque o meu máu estado de saude não me permitte fazer longos discursos. Isto que acabo de dizer, não é um preparo oratorio, e a verdade.

A discussão da resposta ao discurso da corôa, que é ordinariamente o thema para a avaliação em geral de todos os actos politicos de uma administração, passou nesta camara com a maior rapidez possivel. Já a camara vê que aquelles que pódem divergir do governo em alguns pontos de administração, não se aproveitaram desta occasião, para lhe roubar o tempo; julgaram-se muito satisfeitos com que a camara aproveitasse o precioso tempo das suas sessões. Mas quando se tracta da generalidade de um projecto de obras publicas, de certo é a occasião opportuna para fazer algumas considerações, que não se podem julgar alheias a um tão importante assumpto. Estou persuadido de ha muito, que o estabelecimento de obras publicas numa escala de alguma importancia, não póde ter logar n'um paiz onde o credito publico se não achar estabelecido de uma maneira soffrivel. Todos sabem que os obstaculos suscitados á lei da formação dos capitaes, impedem que as fôrças productivas de um paiz se possam desenvolver; todos sabem que a livre e segura acção dos capitaes applicada ao desenvolvimento das fôrças productivas de um paiz, é um grande recurso para se estabelecer o credito publico. O credito publico e uma instituição modernissima; ainda não deu todos os resultados de que é susceptivel dar; póde dizer-se que está ainda no seu principio; e estando ainda em principio, são já brilhantes e magestosos os resultados que apresenta. Póde dizer-se, que a civilisação das nações mais adiantadas que a nossa, é consequencia dessa instituição tão vantajosa.

Não se diga que o respeito ao credito publico é uma circumstancia, que só se verifica naquellas nações, que effectivamente podem consagrar meios para a satisfação de seus encargos. O credito publico em França, que é verdade não data de ha muitos annos, póde-se reputar que nasceu em épocas calamitosas para a mesma França: data de 1814, 1815, e 1830; é nas occasiões de crise, e de faculdades, que se póde provar o vehemente desejo e a forte convicção de não faltar á satisfação dos encargos publicos. Nações pequenas, mas grandes pela sua illustração e feitos gloriosos, não recuam nas occasiões criticas. Vemos, por exemplo, a Hollanda, uma nação apenas com tres milhões de habitantes, em 1841, apertada com um deficit successivo, e esmagada pelo pagamento de juros superiores á metade dos seus rendimentos, não desanimar, e tractar de estabelecer o credito na occasião mais critica. E assim que se explica como um povo pequeno luctando com tantas difficuldades, pôde ser grande, causando admiração ás nações mais poderosas do que elle.

O facto que no nosso paiz existe de se faltar a compromissos, não é de um governo, é de muitos governos; não é de uma época, é de muitas épocas, ou para melhor dizer, é de uma successão de épocas. E qual é a causa? Digamol-a nesta occasião a mais opportuna para o dizer. Na falta do augusto Chefe do Estado, representada por um profundo sentimento de saudade, na occasião em que este acontecimento não teve outro effeito, senão deixar a mais viva saudade a um povo reconhecedor das virtudes do augusto Chefe do Estado, diga-se = que nós todos temos errado, que as administrações anteriores têem trazido inconvenientes e difficuldades para as que se lhes tem seguido, e que este continuo expediente de salvação publica tem compromettido bastante a prosperidade publica = temo-nos salvo a miudo; eis-aqui a explicação das nossas desgraças! Todos nós temos entrado em revoluções; todos nós estamos em situação de não podermos arguir os nossos adversarios; por isso todos nós devemos aproveitar esta occasião para reconhecermos que a salvação de um paiz raras vezes póde nascer de uma revolução. Um revolucionario disse = as revoluções são essencialmente negativas; servem para destruir, e não para edificar; deixam campos nivellados para monumentos materiaes como se fez em França.

Um historiador francez disse = as revoluções não deixaram outro monumento entre nós senão um campo nivellado; deixaram o campo de Marte. = Em verdade este continuo emprego de meios de salvação publica, tem atrazado muito q estado da nossa civilisação: é como se explica o motivo por que outros povos estão mais adiantados. Talvez este simples facto, a falta de revoluções, explique o motivo por que ou,

VOL. I — JANEIRO — 1854.

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