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DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS
tro tomaria promptamente a responsabilidade das providencias, antes de vir noticiar á camara os acontecimentos; tomaria pelo ministerio ao meu cargo todas as providencias necessarias, e depois daria conta de tudo ao parlamento, e esperançado em que o parlamento tinha confiança em que eu desempenhava os deveres que me incumbiam, com toda a boa vontade e com todo o desejo de acertar. (Muitos apoiados.)
O que desejo é que se reconheça que a ausencia do sr. ministro da marinha não póde significar para o parlamento o menor sentimento de desconsideração, nem póde dar á camara ou a qualquer sr. deputado motivo para a estranharem.
O sr. Adriano Machado: — Sinto muito que o sr. ministro da marinha não tivesse adivinhado o sentimento d'esta camara.
Na presença dos acontecimentos que se deram no ultramar, s. ex.ª devia ter necessidade de estar ausente d'esta casa, mas podia ter habilitado qualquer dos seus collegas para nos dar as informações que nós anciosamente desejâmos. (Apoiados.)
Por isso a resposta que o sr. ministro das obras publicas acaba de apresentar não póde ser satisfactoria para esta assembléa, (Apoiados.) e nós continuâmos na mesma anciedade até que o sr. ministro da marinha possa estar presente. (Apoiados.)
Eu tinha de apresentar alguns requerimentos pedindo esclarecimentos ao governo; mas parece-me que na presença de um acontecimento tão grave como aquelle a que alludiu o sr. Emygdio Navarro, devemos antes esperar que o sr. ministro da marinha possa vir esclarecer-nos.
Tambem, pelo mesmo motivo, não insisto no reparo que fez o sr. Mariano de Carvalho, ácerca da ponte pensil do Porto; mas pedia ao sr. ministro das obras publicas que se compromettesse a trazer com urgencia a esta camara as providencias necessarias para fazer cessar o perigo imminente que correm os que passam por aquella ponte.
S. ex.ª foi o primeiro que reconheceu o estado de pouca confiança em que se achava aquella ponte; e, por consequencia, devia estar preparado contra qualquer eventualidade, contra o grave perigo de que estamos ameaçados.
Existem no ministerio das obras publicas dois projectos, um apresentado pelos engenheiros que construiram a ponte de D. Maria Pia, sobre o Douro, e outro feito pelos engenheiros do estado.
Esses projectos deram entrada na secretaria das obras publicas nos ultimos dias do curto ministerio do sr. Barros e Cunha, e até hoje já havia bastante tempo para se poder ter feito sobre elles algum trabalho.
Qualquer acontecimento sinistro que venha a dar-se, de certo não póde deixar de ser imputado á incuria, em virtude da qual esses projectos têem jazido durante tantos mezes nas gavetas da secretaria das obras publicas.
Peço por consequencia com instancia ao sr. ministro que se comprometta a trazer no mais breve praso possivel á camara as propostas de lei que julgar necessarias para que se construa a nova ponte, que é o unico meio que temos para se evitarem os prejuizos de que estamos ameaçados.
Como vejo entrar na sala o sr. ministro da marinha não tratarei de mais assumpto algum.
O sr. Alves: — Sr. presidente, desejando eu em occasião opportuna chamar a attenção do sr. ministro dos obras publicas e do sr. ministro da fazenda ácerca do modo por que são dirigidas e da morosidade com que são feitas as obras do aterro oriental entre a alfandega de Lisboa e a estação dos caminhos de ferro do norte e leste, peço a v. ex.ª que se digne dar o destino conveniente a um requerimento que vou mandar para a mesa e em que peço esclarecimentos que me são necessarios para esse fim.
Por esta occasião renovo a iniciativa de um projecto de lei que apresentei na sessão de 4 de março de 1875, auctorisando o governo a reformar a casa da moeda e papel sellado.
As considerações que fiz por essa occasião são as mesmas que sustento hoje, porque durante estes quatro annos tem cada vez mais radicado no meu espirito a necessidade da reforma d'aquella repartição do estado.
Leu-se na mesa o seguinte
Requerimento
Requeiro que, pelos ministerios da fazenda e obras publicas, sejam remettidas a esta camara copia do plano das obras, e melhoramentos a executar na margem do Tejo, entre a alfandega grande de Lisboa e a estação dos caminhos de ferro de leste e norte, os orçamentos feitos para este fim, quaes as sommas despendidas até hoje n'estes trabalhos, e bem assim o anno em que se deu começo ás mesmas obras. = Joaquim José Alves, deputado por Lisboa.
Foi enviado ao governo.
O sr. Victor dos Santos: — Mando para a mesa um requerimento pedindo esclarecimentos ao governo pelo ministerio da fazenda.
Requerimento
Requeiro que, pelo ministerio da fazenda, me seja enviada uma nota de todas as quantias fornecidas á camara municipal de Lisboa pelo dito ministerio, desde junho de 1878 até hoje, e bem assim a indicação das disposições legaes em virtude das quaes se fizeram essas operações. = Augusto Victor dos Santos.
Foi enviado ao governo.
O sr. Ministro da Marinha (Thomás Ribeiro): — Consta-me que na minha ausencia alguns srs. deputados fizeram preguntas a que tenho obrigação de responder.
Desejava ouvir essas preguntas, e não terei duvida depois em dizer tudo quanto sei a respeito dos acontecimentos da Guiné, porque supponho ter sido sobre esses acontecimentos a interpellação. (Apoiados.)
Vozes: — É verdade, é verdade.
O Orador: — Então, se v. ex.ª me dá licença, eu digo o que sei.
Hontem, pela mala ingleza, chegaram noticias confirmando desgraçadamente o telegramma primitivo que o governo recebeu, e de que eu já tinha dado conta na outra casa do parlamento, sobre os acontecimentos da Guiné.
Soube-se por esta mala, e tenho pena de não ter aqui o documento para o ler, que, instigado o governador da Guiné pelos fugitivos de Bolor, onde tinha havido um conflicto com os vizinhos d'essa povoação, instigado pelos habitantes, e especialmente pelo commercio de Cacheu, proximo do Bolor, e instigado emfim pelo que elle suppunha a honra da bandeira portugueza, resolveu, associando-se com os elementos nativos que se lhe offereciam voluntariamente para se irem bater com os que tinham expulsado os bolorenses, ajudal-os, acompanhando-os com a força que tinha sob o seu commando, a qual era de cincoenta praças approximadamente, fornecendo-lhes armamento e equipamento, e dizendo-lhes que a força ficaria para sustentar a retirada, no caso de haver essa retirada.
Na occasião em que desembarcaram, o que foi feito de noite, internaram-se os nativos pelo paiz, e a força a uma pequena distancia da praia ficou esperando, como se tinha ajustado.
O governador da Guiné esperou os acontecimentos n'um lanchão a vapor que pertencia ao estado.
Quando amanheceu, e internados os nativos que iam n'esta expedição, veiu um cabo mandado da parte do official que commandava a força, o sr. tenente Calixto, dizer ao governador que se ouviam a uma pequena distancia tiros de fuzilaria. Era verdade. Os tiros approximavam-se cada vez mais do lado da praia.
O governador mandou dizer que carregassem as armas, que não estavam carregadas, e que esperassem para sustentar, no caso de retirada, o embarque dos fugitivos.
Pouco depois voltou o mesmo cabo dizendo que vinha