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DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS
que me considere, nunca suppuz que fosse preciso que alguem n'este mundo me ensinasse o meu dever, me ensinasse a cumprir as minhas obrigações de ministro, de homem e de portuguez.
O sr deputado costuma arguir sem ouvir as explicações. Se s. ex.ª me tivesse perguntado a rasão por que não estive aqui logo no principio da sessão e tinha ido para a camara dos pares, não tinha duvida em lhe dizer o motivo por que procedi d'essa fórma; mas respondi sem saber quaes as preguntas que se me faziam n'esta camara.
Na camara dos dignos pares fizeram-me, primeiro que em parte nenhuma, preguntas ácerca do que havia a respeito da questão de Bolor: li ali os documentos que tinha na minha mão, e disse n'essa occasião aos que me interrogaram que, assim que tivesse noticias mais circumstancia das a respeito do que se passara na Guiné, iria dizer á camara o que soubesse. Portanto, cumpri o meu dever.
O parlamento tem duas camaras: deputados e pares. Entrar primeiro em uma ou n'outra, não é desconsiderar ninguem. (Apoiados.)
Pouco depois das duas horas entrava eu na camara dos pares, e a minha tenção era não esperar que me perguntassem o que diziam as noticias chegadas a respeito do desastre de Bolor, mas informar a camara do que soubesse, cumprindo assim a minha promessa; mas infelizmente encontrei a camara já elegendo commissões. Estava elegendo a commissão de marinha.
Encontrei tambem ali alguns srs. deputados a quem perguntei se já estava aberta aqui a sessão, e responderam-me que não; mais tarde dirigi-me a esta casa, e creio que não me demorei muito em dar explicações, que não sabia mesmo a fórma por que eram pedidas. (Apoiados.)
Por consequencia, peço ao sr. deputado que seja um pouco mais parco em fazer advertências a quem não tem rasão para as merecer (Apoiados.), sem que primeiro lhe tenha perguntado o motivo do seu procedimento. (Apoiados.)
Sou o mais respeitador das duas camaras que formam o parlamento, mas não desejo tambem que por parte d'aquelles que me aggridam deixe de haver esta cortezia que se costuma usar para todos aquelles que têem a honra de se sentar n'esta casa do parlamento.
Vozes: — Muito bem.
O sr. Sousa Machado: — Sr. presidente, pelas informações que o nobre ministro da marinha acaba de dar á camara, não se póde fazer uma idéa approximada dos imperiosos motivos que determinaram o governador da Guiné a emprehender uma guerra contra os habitantes das aldeias proximas a Bolor, e que haviam expulsado a povoação que formava a freguezia de S. Francisco Xavier de suas habitações, as quaes arrazaram e queimaram.
Não estando devidamente preparado com a força necessaria para fazer frente ás tribus numerosas e que se acham bem armadas, não andou prudentemente o governador da Guiné em acceder aos pedidos que lhe foram feitos, e que deveriam ser presentes ao governador geral de Cabo Verde, que era o competente para julgar se conviria desde logo condescender com a vontade dos commerciantes, sem arriscar inutilmente tantas vidas, cuja perda todos nós lamentâmos.
Tambem tenho noticias mui desenvolvidas ácerca do desastre de Bolor, mas não devendo fazer uso dellas sem que cheguem as participações officiaes, que nos esclareçam ácerca da responsabilidade que cabe aos que directa ou indirectamente tomaram parte n'aquelles acontecimentos, aguardo para em occasião opportuna pedir as explicações convenientes:
N'este momento quero tão sómente lembrar ao nobre ministro e pedir-lhe que, nas instrucções que der ao governador de Cabo Verde, recommende aquelle funccionario que não intente um novo desforço, sem que tenha á sua disposição a força de mar e terra sufficiente para não soffrer um novo revez.
Sobretudo é indispensavel que haja na Guiné vapores que demandem pouca agua, que possam conduzir a força e approximar-se das margens dos rios, e bem armados para protegerem o desembarque d'essa força.
Não julgo que a expedição deva ser muito numerosa, mas é conveniente que esteja bem armada, commandada por officiaes habeis, e com os meios precisos para poder abrigar-se durante a noite, pois que n'aquelle local não existe hoje uma casa que possa servir de quartel aos soldados.
Confio no zêlo e patriotismo do nobre ministro, para acreditar que s. ex.ª porá todos os meios para nos evitar uma vergonha igual ao desastre de Bolor; entretanto é forçoso que esses meios sejam promptos e energicos.
O sr. Ministro da Marinha: — Vem de longe a minha solicitude e promptidão.
O illustre deputado talvez saiba, porque tem estado em Cabo Verde, que eu ultimamente tinha oficiado e dado instrucções muito extensas ao governador geral d'aquella provincia para que estudasse a legislação em todos os seus pontos, e um d'elles era a segurança d'aquelle districto, e a força necessaria para isso.
Isto foi em junho, me parece, e só ha poucos dias recebi um relatorio do governador geral a respeito de todas as necessidades de Cabo Verde.
Uma das maiores necessidades da Guiné é certamente a navegação do rio por vapores que tenham a capacidade sufficiente. (Apoiados.)
Creio que o illustre deputado está um pouco equivocado a respeito de canhoneiras.
As corvetas não podem ir a toda a parte.
Ha canhoneiras tambem que não podem ir a toda a parte; mas a canhoneira Rio Lima, segundo me parece, e segundo o dizer dos praticos, d'aquelles que têem estado na Guiné, póde ir até defronte de Bolor, e atravessar, ao rez de um banco que ali ha, até Cacheu.
Já vê o illustre deputado que não tenho descurado de modo algum os negocios relativos á Guiné, e dão-me tanto cuidado, como ao illustre deputado.
Já mandei algum armamento; e estou tratando de fretar um navio mercante que possa levar o resto. Talvez ámanhã possa ter algum em ajuste.
Parece-me, pois, que o essencial ficará dentro em poucos dias satisfeito. Isto não é o bastante; ha muito mais para fazer.
Precisâmos mostrar a nossa força e impedir que outros attentados se repitam contra a bandeira portugueza.
Para isso os dois navios de guerra e a força que lá está parecem-me sufficientes; e tanto mais, que o governador interino que foi mandado para a Guiné já deve estar no exercicio das suas funcções. E espero tambem que dos navios novos em construcção haja um que possa fazer todo o serviço da Guiné.
As indicações que o illustre deputado por Cabo Verde me fez a respeito das instrucções que devo dar ao governador geral d'aquella provincia já estão satisfeitas, porque em officio que lhe expedi foram essas indicações; e o illustre deputado póde dar testemunho da solicitude do governo a este respeito, porque o governo teve a honra de ouvir os seus conselhos, bem como os de outros srs. deputados e de officiaes de marinha que têem pratica d'aquelle districto.
O governo não quiz tomar por si só deliberação alguma sem ouvir as pessoas competentes; e estou persuadido de que havemos de tirar em pouco tempo satisfação completa do desastre que soffremos.
O sr. Van-Zeller: — A commissão de syndicancia á penitenciaria resolveu em sessão de hontem, por maioria de votos, dar por findos os seus trabalhos. Os votos da minoria, contrarios a esta resolução, foram dos srs. José de Mello