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316 DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

bus e em breves dias o titular da pasta, segando a versão dos que mais se acercam do sr. presidente do conselho.

O que é certo é que o sr. Villaça, que allia aos primores de uma intelligencia finamente educada, uma grande habilidade parlamentar, interveiu na questão, fel-o brilhantemente, sem duvida, mas defendel-a no ponto em que ella mais principalmente foi atacada, isso é que não logramos ouvir. (Apoiados.)

Mas duas cousas de assignalado valor demonstrou o discurso do sr. Villaça; a primeira, foi a grande conveniencia que havia em discutir em separado a moção regeneradora mandada para a mesa pelo meu amigo o sr. Dantas Baracho, pelos perigos de uma discussão minuciosa deste projecto; e a segunda, que o projecto, tal como está, é absolutamente indefensavel.

Pensou de uma maneira contraria o sr. relator. Propoz-se s. exa. fazer a defeza de um projecto, que defeza não tinha, e por assim viu-se na necessidade de fazer affirmações inexactas umas, contrarias ao interesse publico outras... Eu não quero ser desagradavel ao sr. Adriano Anthero, honro-me de ha muitos annos com a sua amisade, reconheço em s. exa. um espirito elevadissimo; em mim, como em todos que têem a ventura de o conhecer, estão estabelecidos e firmados os seus creditos de um grande homem de bem (Apoiados), mas o que é certo é que o illustre deputado, por sor relator do projecto, entendendo que esse papel era por assim dizer de confiança da commissão e do governo, resolveu defender o projecto, em tudo quanto n'elle se vê e se não vê, como defenderia uma causa juridica entregue aos seus cuidados de advogado distinctissimo que é. (Apoiados.)

O que se passou depois? O sr. Eduardo Villaça intervem na questão, passa por ella sobre os pontos principaes superficial e ligeiramente. Tanto o illustre deputado como o sr. ministro da fazenda tiveram o cuidado de sobrenadar na questão, fugindo aos perigos de uma submersão imminente. Aprenda n'estes exemplos o illustre relator do projecto, que eu muito respeito e estimo, pelo seu caracter o intelligencia, e se s. exa. me permittisse um conselho, em dar-lho-ia no sentido de que nesta casa proceda como na sua banca de advogado distincto que é: defenda apenas as causas justas.

O que é certo, é que o sr. deputado Villaça tratou, embora muito succintamente, de nos convencer da muita gravidade da situação financeira; o que nós reconhecemos.

Demonstrou a conveniencia de a modificar o regimen da nossa divida publica externa, no sentido de se harmonisar, tanto quanto possivel, os legitimos interesses dos credores com a dignidade nacional e com os nossos recursos; o que nós reconhecemos.

Chamou os partidos á concordia, pediu a cooperação de todos. Tem-se visto que a cooperação pedida não tem sido negada por nós; estamos hoje como temos estado sempre dispostos a cooperar com o governo para a resolução da questão financeira; não para a ruina do paiz (Apoiados) mas para a sua salvação. (Apoiados.)

Fallou eloquentemente o sr. Villaça, não ha duvida nenhuma, mas nem se quer tentou demonstrar que o thesouro está habilitado a satisfazer os encargos a que é obrigado pelo projecto em discussão. Pois este é o ponto a discutir, o ponto primario e dirimente, como se diz em linguagem juridica.

Vou demonstrar que não está.

O assumpto está sufficientemente conhecido, visto que foi já tratado pelos meus amigos os srs. Baracho e Mello e Sousa, e pelo sr. conselheiro Dias Ferreira, que o discutiram proficientemente.

No emtanto, vou discutir o projecto, e devo declarar que o faço com extrema repugnancia. (Apoiados.) Digo isto porque entendo que a discussão minuciosa é inconveniente para os interesses publicos (Apoiados); discuto-o, arrastado pela resolução que a camara tomou de não discutir separadamente a moção mandada para a mesa pelo meu amigo o sr. Baracho.

A culpa não é nossa, os inconvenientes que podem resultar da discussão d'este projecto, quando ácerca d'elle ha negociações pendentes junto de governos estrangeiros, não é da nossa responsabilidade, é do governo e da sua maioria. (Apoiados.)

Nunca em parlamento algum do mando se viu discutir uma questão, sobre a qual pendem negociações com governos estrangeiros; esta obra, que póde ser fertil em perigos de diversa natureza, estava reservada ao actual governo. (Apoiados.)

Sr. presidente, parece que é fado nosso morrermos ás nossas proprias mãos: cumpra-se o fado!

Sr. presidente, está sujeito ao debate um projecto de lei que modifica o regimen da nossa divida publica externa; é o mesmo que dizer, está em discussão o projecto mais importante que póde ser submettido á apreciação do parlamento.

Dada a nossa especial e melindrosissima situação, póde e deve-se dizer que da modificação da divida publica externa depende o nem do paiz ou a sua ruina. (Apoiados.)

É capitalissima a importancia d'este problema financeiro; mas é facil comprehender que das boas ou más condições em que se faça a remodelação da nossa divida externa depende a salvação do paiz ou a sua ruina e perdição completas. (Apoiados.)

É preciso ver a questão, como diz o, sr. Eduardo Villaça, sem preocupações partidarias; é certo, e bem merece o assumpto ser tratado sem intuitos politicos, nem preoccupações partidarias, guiados todos unica e simplesmente pelo criterio de bem servir o paiz. (Apoiados.) Assim o entendeu o sr. Eduardo Villaça, assim o entendo eu; e comprehendendo a excepcional gravidade da situação, vou dizer a v. exa. o que em minha consciencia penso e sinto ácerca deste projecto, mais para arredar responsabilidades do que para convencer a cambra, perante cuja illustração a minha palavra é de valor nullo, e ainda porque estou inteirado ácerca dos intuitos da maioria. Deixe, porém, v. exa. que eu entre na discussão do projecto no cumprimento de um dever, dever que, devo dizel-o, não é para mim isento de riscos.

Podendo eu pronunciar qualquer palavra que possa ser desagradavel ao ar. ministro da fazenda, corro o risco de irritar os seus irritaveis nervos e de provocar uma reprimenda que me faça arrepender do meu atrevimento, como aconteceu ao meu illustre amigo o sr. Dantas Baracho e ao sr. conselheiro Dias Ferreira.

Eu mesmo que, manso e quieto, ouvi o sr. ministro da fazenda fallar aqui na sessão de sexta feira, não pude escapar às suas ironias causticas e picantes.
Como incidente devo dizer que me surprehendeu isto Perguntando a mim mesmo que irreverencia teria eu praticado com o sr. ministro da fazenda para ser assim tão nitidamente alvejado, não logrei explical-o, eu, que todas as vezes que tenho fallado nesta camara não fui nunca desagradavel a s. exa., bem pelo contrario, fiz às suas qualidades referencias que s. exa. não ouviu aos seus correligionarios. E aqui está a explicação; é que ha homens que tomam a cortezia, a delicadeza, as manifestações de boa educação dos outros como actos de fraqueza sobre que assentam as suas pimponices. Foi por isso que s. exa. teve a preoccupação de me ser pessoalmente desagradavel, accusando-me, sem eu ter intervindo no debate, de eu não conhecer o regimento de que foi auctor e relator, apodando-o ironicamente de monumento litterario. Isto impressionou intensamente o meu espirito. Eu estava habituado a ver os ares de professor impertinente no sr. ministro da fazenda, mestre em mathematicas e finanças, mas devo dizer que commetti o imperdoavel peccado de não o considerar e admirar como homem de letras.