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DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS
O sr. Visconde de Sieuve de Menezes: — Dá-me licença? Não fiz declaração alguma ao illustre deputado, nem a posso fazer.
O Orador: — Mas pergunto a s. ex.ª se o pensamento da sua proposta é o que lá está? (Riso.)
Uma voz: — Não póde ser outra cousa.
O Orador: — Não sei como consideram a minha proposta; eu apresentei-a como emenda, e como emenda deve ter preferencia na votação.
O sr. Presidente: — A mesa considera a proposta do sr. deputado como additamento á proposta do sr. visconde de Sieuve de Menezes (Apoiados.); e como tal tem de ser votada depois.
O sr. Francisco de Albuquerque: — Por consequencia, vota-se a proposta do sr. visconde de Sieuve de Menezes, sem prejuizo da votação da minha proposta?
O sr. Presidente: — Sim, senhor.
Posta á votação a proposta do sr. visconde de Sieuve de Menezes, foi approvada.
O additamento do sr. Francisco de Albuquerque foi rejeitado por 72 votos contra 36.
O sr. Rodrigues de Freitas: — Peço a v. ex.ª, sr. presidente, que, se não me chegar a palavra na ordem da inscripção para antes da ordem do dia, m'a conceda para um negocio urgente, e se for preciso declararei immediatamente qual é.
O sr. Francisco de Albuquerque: — Peço a palavra para um requerimento antes de se passar á ordem do dia.
O sr. J. J. Alves: — Mando para a mesa um requerimento do sr. Joaquim Antonio da Encarnação, capitão reformado, o qual, julgando-se prejudicado na sua reforma, pede a sua promoção a major.
Confio em que a commissão a que tem de ser submettido este requerimento, attendendo ás rasões allegadas, fará a justiça que o supplicante diz assistir-lhe.
O sr. J. M. dos Santos: — Mando para a mesa o diploma do sr. deputado eleito pelo circulo de Mapuçá.
O sr. Francisco de Albuquerque: — Pedi a palavra para um requerimento antes da ordem do dia.
O sr. Presidente: — Não prefere na inscripção.
O sr. Francisco de Albuquerque: — Mas sobre a ordem prefere!
O sr. Presidente: — Tem a palavra o sr. Rodrigues de Freitas, na ordem da inscripção.
O sr. Rodrigues de Freitas: — O negocio urgente para que pedi a palavra é a solicitação que se diz feita pelo governo inglez ao governo portuguez para que por Lourenço Marques entrem tropas que vão fazer guerra aos zulus: pelo menos um jornal publicado hoje falla d'este pedido.
Como hontem, não está hoje presente o sr. ministro da marinha, mas, como hontem, está presente o sr. ministro das obras publicas, e hoje tambem o sr. ministro da justiça.
A s. ex.ªs peço explicações. O jornal a que me refiro, certamente melhor informado sobre negocios tão graves do que o parlamento portuguez, no qual ainda hontem o sr. ministro da marinha dizia que nas regiões diplomaticas se estava tratando este assumpto.
Sendo assim, qualquer que seja a resolução que o governo houver de tomar, quer para negar o que se lhe pede, quer para o conceder, tem de recorrer aos representantes da nação.
Desejo saber o que ha a este respeito. Se de o contar não resulta inconveniente para as negociações diplomaticas, seja o negocio desde já patente ao parlamento em sessão publica; se ha inconveniente que de tal modo se trate, desejava que a camara se constituisse em sessão secreta.
Sou deputado republicano, sou deputado pertencente á opposição, mas não julgue a maioria que eu desejo que as instituições se estraguem, e que o parlamento se desacredite. Sou simplesmente evolucionista, e esta phrase muito usada hoje, resumo bem a minha opinião. As palavras que acabo de proferir, querem dizer que nas preguntas que faço aos srs. ministros não ha a intenção a que em Portugal e lá fóra tantas vezes se chama politica.
Eu faço politica de certo; mas considero-a missão nobre; não voto nem suscito questões, por confiança ou desconfiança politica, tomadas estas palavras no sentido em que tantas vezes são empregadas no parlamento e fóra d'elle.
A questão de que se trata é muito grave; é uma questão de que o parlamento portuguez se deve occupar quanto antes, e ácerca da qual o governo deve dar n'esta casa todas as explicações. (Apoiados.)
Eu vejo que na camara alta, o sr. ministro dos negocios estrangeiros, cuja elevada intelligencia muito respeito e cujos serviços a este paiz, sem duvida, tem sido grandes (Apoiados.), vejo, repito, que o sr. Andrade Corvo tem a maior predilecção pela alliança com a Inglaterra, e vejo que a respeito da questão da Zambezia disse que deviamos cooperar com a Inglaterra para civilisar a Africa.
Uma voz: — Apoiado.
O Orador: — Apoiado... Mas lembrae-vos da nossa pequenez, do papel, certamente muito infeliz, que temos desempenhado modernamente na Africa, e das pretensões da Inglaterra n'esse continente.
Lembremo-nos de que a nossa missão, como companheiros de uma nação tão grande, é certamente uma missão muito difficil, e que se póde tornar um grave perigo para esta terra; é por isso que eu desejo que o parlamento trate quanto antes d'este assumpto, e que saibamos bem o que é a cooperação da Inglaterra.
A Inglaterra trata de estender o seu commercio na Africa; procede como lhe cumpre; mas não nos illudamos com o que póde ser a sua collaboração.
A Gran-Bretanha deseja que as tropas inglezas, segundo diz um jornal, que passa por bem informado, entrem em Lourenço Marques, para irem fazer guerra a um dos povos mais importantes de uma parte da Africa.
Creio que o governo portuguez deu ordens terminantes e muito acertadas para que por aquelle ponto da Africa não entrassem munições de guerra, que fossem armar tal povo contra o inglez; cumpriu muito bem o nosso governo o seu dever; mas antes de tomar qualquer deliberação que permitta a entrada das tropas inglezas, parece-me que deve pensar muito maduramente, a fim de que depois esse povo, ácerca de cuja força o sr. ministro dos negocios estrangeiros recentemente fez observações muito sensatas, não se torne nosso irreconciliavel inimigo.
Desejo portanto que qualquer dos tres ministros dêem a este respeito, as explicações que julgar mais acertadas e prudentes.
Os outros assumptos a que tinha de me referir, embora menos graves do que aquelle de que acabo de fallar, são tambem importantes.
Está presente o sr. ministro das obras publicas. Passo a tratar de questões puramente economicas, não levanto umas phrases hontem proferidas por s. ex.ª ácerca dos meus deveres para com o governo.
Acredito que s. ex.ª as proferiu julgando que eu tinha offendido o governo em logar de ver que tinha unicamente exercido o meu direito de deputado (Apoiados), exclusivamente esse direito.
A amisade com que s. ex.ª me tem honrado, faz-me crer que não teve pensamento ofensivo.
Julgo que o sr. ministro das obras publicas tem o maior desejo de que o caminho de ferro da Regua seja prolongado até á fronteira de Hespanha.
Não sei, porém, se s. ex.ª apresentará á camara alguma proposta para que um melhoramento tão importante se realise.
Não sei mesmo se o governo portuguez tem já partici-