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348 DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

formar o governo inglez, informações seguras só o podiam ser as dos nossos agentes e agentes secundarios.

O resultado de tantos erros foi o apresentarmo-nos perante a Europa na situação a mais falsa, na situação de que em tudo e por tudo nos sujeitavamos ás imposições da Inglaterra, e éramos mesquinhos instrumentos das suas ambições, meio de afastar a concorrencia de nações mais poderosas e triste elemento de um obstruccionismo esteril!

Ora, por minha parte, repillo com indignação asserções desta ordem. O meu paiz é um paiz livre; pequeno e enfraquecido, se quizerem; mas tem nobres tradições e não póde ser equiparado ao Egypto, por exemplo; somos uma nação que em tempo realisou algumas das mais altas conquistas que honram a humanidade (Apoiados.)

Mas ainda assim, não tivemos só a Inglaterra a avisar-nos caridosamente do falso caminho que nos obstinavamos em seguir, o governo possuia, entre os proprios documentos de alguns dos seus agentes meio de conhecer qual era a situação. A desgraça quiz, porém, que a esses nunca ligasse a menor importancia, dando-a toda por outro lado áquelles que tinham de soffrer depois o desmentido mais formal.

E no que vou dizer, tenho que me referir a um cavalheiro que figura n'esta negociação de um modo para elle honroso, verdade e que não foi agora agraciado, pelo actual governo, com um titulo de visconde.

Essa distincção foi reservada para o nosso encarregado de negocios em Paris. Mal conheço esse cavalheiro, não estou habilitado a apreciar as suas qualidades e a sua intelligencia; posso unicamente apreciar o documento a que me estou referindo, e que me parece importante, alem do mais, pela responsabilidade que d'elle se deriva para o governo.

É esse documento urinado polo sr. Augusto de Andrade, nosso encarregado de negócios em Bruxellas, e note-se que estas negociações são sempre tratadas por encarregados de negocios, porque os ministros, esses estão na camara dos pares ou no uso de licença. (Apoiados.)

Direi mais, completando o meu pensamento, creio que o maior ou menor zêlo que alguns membros d'aquella casa têem mostrado em favor do sr. presidente do conselho, a assiduidade com que a frequentam para sustentar a s. exa. ou votar contra as situações que o sr. Fontes combate, constituem para o ministerio regenerador o melhor fundamento das nomeações de tão altos funccionarios, a quem cabe de fender e zelar em paizes estrangeiros a honra e os interesses nacionaes, não admirando por isso que essa defeza seja realisada como o temos visto e vamos ver ainda.

Referia-me, pois, e referia-me com louvor ao sr. Augusto de Andrade, que no dia 4 de dezembro de 1882, note a camara esta data, em 1882, relatando uma conversa havida com o sr. Frère Orban, então presidente do conselho de ministros da Belgica, dizia.

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«No seguimento da conversa s. exa. chamou a minha attenção para as explorações dos viajantes allemães na África central, acrescentando que eram ellas mais importantes do que geralmente se pensava, sendo provavel que no futuro se suscitasse a idéa da reunião de uma conferencia internacional para determinar os limites dos territorios a que quaesquer potencias pretendessem invocar direitos. Notando eu quanto seria difficil á Allemanha penetrar no interior do continente africano, não possuindo aquella nação nenhum ponto da costa, observou s. exa. que esta era uma questão que mais tarde aquella potencia obteria.»

Referindo-se depois ao movimento colonial em Allemanha, á reunião proxima da associação colonial sob a presidencia do principe de Hohenlohe, e a outros factos igualmente interessantes, e ácerca dos quaes terei mais tarde de fazer algumas considerações, se poder concluir hoje o meu discurso, como muito desejo, acrescentava:

«Como esta questão é das attribuições do meu collega de Berlim, não me compete por conseguinte entrar em maiores detalhes, dos quaes v. exa. estará sufficientemente informado.»

Deviam, pois, na opinião do sr. Andrade, em 1882, ser importantes as informações pedidas pelo governo para Berlim, e recebidas por elle do nosso ministro em Allemanha.

Vejamos, pois, quaes foram essas informações.

Percorrendo esta longa serie de despachos que constituem o nosso livro branco, encontro apenas, a pag. 137, um officio datado de Berlim em 30 de outubro de 1883.

Note a camara que a informação do sr. Augusto de Andrade tem a data de 4 de dezembro de 1882; a do sr. marquez de Penafiel, é muito posterior, é de 30 de outubro de 1883.

Referindo-me ao sr. marquez de Penafiel, devo dizer que tenho pelas qualidades particulares de s. exa., como cavalheiro, a maior consideração.

São antigas as minhas relações com s. exa. e a sua illustre familia, de quem só tenho recebido attenções. Mas n'este logar não olho nem posso olhar a relações pessoaes; zelo o que entendo ser o interesse do meu paiz. (Apoiados.)

Posto isto, posso e devo affirmar que o sr. marquez de Penafiel de nada informou o governo portuguez, e o governo portuguez por seu lado parece, a julgar pelo livro branco, ter-se esquecido que tinha um ministro em Berlim. (Apoiados.)

O unico documento que veiu de Berlim, repito, é o seguinte:

«Illmo. e exmo. sr.- Hoje mesmo, assim que recebi o despacho assignado pelo predecessor de v. exa. em data do 20 do corrente e sob o n.° 13, d'esta direcção, fui ao ministerio dos negocios estrangeiros ler ao sub-secretario d'estado o seu contexto e deixar-lhe copia do mesmo, como me era ordenado.

«Limitou-se o sub-secretario d'estado a dizer-me que o governo portuguez fazia demasiada honra ao instituto de direito internacional, preoccupando-se com as opiniões que emittia. Que não lhe parece que governo algum pretenda apoiar-se nos pareceres da douta assembléa para reforçar argumentos em qualquer discussão que possa surgir sobre o assumpto.

«Aproveitando o ensejo fui discorrendo sobre colonias e tive occasião de ratificar a opinião já por mim manifestada e que talvez breve possa largamente expor a v. exa., de que a Allemanha, pelo menos por ora, se desinteressa completamente da questão colonial.»

Todos sabem que as relações directas com o principe de Bismarck são difficeis, porque vive retirado na sua casa de Varzim, e só vem á capital tratar de negocios de alta importancia politica, não podendo admirar por isso que a nota do sr. Bocage fosse entregue a um sub-secretario d'estado.

Aproveitando pois o sr. marquez de Penafiel o ensejo que se lhe offerecia, foi discorrendo largamente sobre colonias.

Estavamos em 30 de outubro de 1883, note bem a camara, e o sr. marquez de Penafiel inferia após a sua dissertação colonial que o governo allemão se desinteressava absoluta e completamente sobre tal assumpto.

Veja v. exa., veja a camara porque fórma estavam sendo zelados os nossos interesses n'esta questão para nós tão momentosa!

Sei e vejo que estou incommodando o sr. ministro dos estrangeiros; não posso, porém, deixar de proceder como procedo, embora isso me penalise.

Ora eu vou mostrar á camara como realmente se pensava em Allemanha a este respeito, e como esta informa-