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SESSÃO DE 31 DE JANEIRO DE 1885 349

ção official, revela, forçoso é dizel-o, desconhecimento completo e absoluto de factos, alguns d'elles inteiram ente do dominio publico. (Apoiados.)

Com similhante informação parece, comtudo, ter-se contentado o governo portuguez, não pensando mais na situação da Allemanha com respeito á questão colonial.

Vamos pois ver em primeiro logar, qual era n'esse paiz a situação official, e para isso valer-nos-hemos da primeira serie de documentos apresentados ha pouco tempo ao parlamento allemão, e concernentes aos interesses commerciaes da Allemanha na costa occidental de Africa.

Esses documentos abrangem um periodo que vae do 14 do abril de 1883 até 13 de outubro de 1884. Ora o officio do sr. marquez de Penafiel, em que se declara que o governo alem ao está completamente desinteressado da questão colonial, tem, como vimos, a data de 30 do outubro de 1883.

O primeiro d'estes documentos é o despacho de 14 de abril de 1883, do principe de Bismarck ao ministro da Prussia em Hamburgo, para que este interviesse junto aos senados das cidades hansiaticas, no sentido de fazer proceder por meio d'essas corporações, a um inquerito ácerca da importancia e natureza dos interesses do commercio allemão na costa Occidental de Africa, fixando quantas e quaes eram as firmas ali estabelecidas, e que providencias devia tomar o governo imperial para salvaguardar os interesses allemães n'aquella região.

Procedeu-se effectivamente a este inquerito, sendo ouvidas as camaras de commercio, varias auctoridades, firmas commerciaes interessadas, etc., e de tudo resultou a redacção das instrucções muito minuciosas, dadas em 19 de maio de 1884 ao consul geral dr. Nachtigal, para ir á costa occidental de Africa tomar posse, como tomou, dos territorios onde mais tarde foi arvorada a bandeira allemã.

Mas o dr. Nachtigal não foi directamente do Hamburgo para Africa. Embora nas instrucções que se acham publicadas, não venha mencionada essa circumstancia, é certo que Nachtigal veiu a Lisboa primeiramente, e só depois da demora de algumas semanas entre nós, é que embarcou na Moeve, a qual devia conduzil-o para Africa.

Chamo para este facto toda a attenção da camara, reputando-o, no capitulo das responsabilidades do governo n'esta malfadada questão, da mais alta importância.

Convem recordar e pôr em parallelo com elle, que por esse tempo, em 23 de junho, se verificava aquella memoravel sessão da commissão do orçamento do parlamento allemão em que compareceu o chanceller.

Era a terceira vez, que Bismarck ía ao seio d'aquella commissão. Fura a primeira para fixar a lista civil do imperador, quando se constituirá o imperio; a segunda para determinar a organisação politica a dar á Alsacia e Lorena; e a terceira, como disse, para tratar da politica colonial da Allemanha, e da posição d'esta potencia em face d'esse grande problema dos nossos tempos.

Por essa occasião, pois, sendo discutido o tratado do Zaire, affirmou o principe de Bismark que a unica cousa que a tal respeito importava á Allemanha era garantir a liberdade do commercio n'aquella região, e que para conseguir esse resultado estavam pendentes n'aquelle momento negociações com o governo de Portugal. Passava-se isto, repito, em 23 de junho do anno passado.

Tratando d'este assumpto, dizia por seu lado a Gazeia de Colonia, em epocha posterior, o seguinte:

«Confirma-se que Portugal quer desistir do tratado com a Inglaterra, e ligar-se ao modo de ver allemão. Considera-se isto aqui como o resultado do facto de explicações trocadas entre a Allemanha e Portugal, e mesmo, como ha pouco tivemos occasião de indicar, a uma correspondencia directa trocada entre os dois soberanos, devendo-se-lhe attribuir a rasão principal da actual situação das cousas».

E cito a Gazeta de Colonia, porque é um jornal de tal importancia, que Bismark sendo interrogado na commissão de fazenda ácerca da rasão porque as folhas officiosas travavam tão dura lucta contra a Inglaterra, disse que lhe citassem o nome de uma d'essas folhas. Respondeu-lhe um dos membros da commissão o deputado Richter, chefe de uma fracção importante do Reichstag, que se referia á Gazeta de Colonia, retorquiu o principe que tal asserção sómente provava quanto Richter estava mal informado ácerca, da situação da imprensa. Que por si não tinha relações officiosas, nem officiaes com aquella folha, podia com tudo assegurar que reputava o mesmo jornal de tal importancia, que bem lhe podia chamar a primeira folha politica da Allemanha, e uma das primeiras do mundo, e que se daria por feliz se ella quizesse dar apoio á sua politica.

«Ainda poderia então, «acrescentou o chanceller na sua linguagem vigorosa, e pouco dada a contemplações», ter em menos conta do que já as tenho, grande numero de outras folhas inspiradas pelos meus adversarios politicos.»

Pois aquelle jornal assim apreciado, confirmava mais tarde a existencia das negociações com Portugal, a que se havia feito referencia no seio da commissão do orçamento, me epocha próxima da vinda a Lisboa do dr. Nachtigal, e ia mais longe, fazia por esta forma menção da correspondencia trocada entre os dois soberanos.

Estes factos são muito graves, se significam, como creio, que houve qualquer tentativa por parte da Allemanha, a que pelo nosso lado se não deu a devida, a indispensavel importancia, suggerindo-se mais tarde e inopportunamente a idéa de uma conferencia internacional, onde deviamos então apresentar-nos, desajudados do toda e qualquer alliança porque todas pareciamos apostados a perder.

Não sei se existiu essa proposta alterna, nem tenho outros elementos para, o inferir, alem dos que mencionei, e bom será para o governo que as minhas apprehensões não sejam exactas.

Pesará a menos sobre os seus hombros uma responsabilidade, e das mais graves.

Mas deixando por um momento as estações officiaes, attentemos agora na obra da grandiosa propaganda colonial que desde muito se manifestára em Allemanha.

Tinha-se ali constituido a associação colonial allemã, que rapidamente crescera em recursos e numero de associados, comprehendendo entre estos camaras de commercio, corporações administrativas, etc.

Era a esta associação que se referia em 1882, no officio por mim lido á camara, o sr. Augusto de Andrade.

Existia desde muito a associação da Allemanha occidental para colonização e exportação.

Reunia-se repetidas vezes a sociedade central de geographia commercial em Berlim, a sociedade de geographia de Lelpzig, e tantas outras, debatendo-se n'ellas, com frequencia, questões coloniaes, e proferindo-se discursos como o de Carlos Peters, por exemplo, em que se demonstrava a necessidade da Allemanha tomar a resolução de não protrahir por mais tempo uma energica politica colonial. Mostrava o orador, como argumento supremo em favor da sua these, que subiam a 200:000 os emigrantes allemães, que annualmente se dispersavam por todas as regiões do globo, podendo avaliar-se que só a perda material das sommas gastas com esses individuos até aos quatorze annos, calculadas na importancia de 100 marcos por individuo e por anno ascendia para a Allemanha a 280.000:000 de marcos. E era necessario pôr termo a este estado, tanto mais que nas condições da sua emigração, os allemães acabavam por esquecer, patria, familia e até a propria lingua, fundindo-se na população predominante das regiões para onde se destinavam.

Reunindo-se em julho do 1884 a associação colonial, a que já me referi, sob a presidencia do principe de Hohenhohe Langenburg, fez este um discurso em que declarava que a importancia da associação era tal, que bem podia, sem hyperbole, comparar-se a um germen identico ao de