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SESSÃO DE 31 DE JANEIRO DE 1885 351

1882 na entrevista de Copenhague, que não tinha podido ser presenceada com bons olhos pela Allemanha.

Poderia mostrar á camara com que termos violentos este artigo foi discutido na propria Inglaterra, referindo-lho a traducção que tenho presente de um trecho da Pall-Mall-Gazette.

Não o farei, porém; respeito para isso demasiado os homens que estão n'este momento á frente do governo da Inglaterra.

Se cito estes factos, é unicamente para demonstrar a imprevidencia que houve firmando um tratado, que deveria apresentar-nos perante a Europa como pupillo humilde e sujeito da Gran-Bretanha.

A corrente da opinião, que nem sempre nos fôra desfavoravel, virára-se de repente o com toda a sua força contra Portugal. Esse reviramento foi completo, e no desprezo a que se votava o tratado do Zaire via-se, mais que tudo, o meio de desfeitear a Inglaterra, que recentemente revelára do modo claro a intenção de absorver o Egypto fóra de todo o concerto europeu, na maneira brusca, desattenciosa, insolita por que inesperadamente encerrára a conferencia de Londres.

Todos se recordam como, desattendendo a proposta franco-allemã do abrasamento para epocha certa da conferencia, desattendendo a do representante da Russia para chegar a um accordo ácerca das indemnisações resultantes do bombardeamento do Alexandria, lord Granville só levantou de repente, dizendo que sobre um ponto unico se estabelecêra harmonia entre todas e era na impossibilidade de com respeito a alcançar ao fim primordial da conferencia. N'estes termos havia a adiar esta para epocha indeterminada.

Embora a presidencia de um congresso ou conferencia caiba naturalmente á potencia, que o convoca e reune na sua capital os diversos plenipotenciarios, não póde ser, como era natural, visto sem aggravo o levar essas attribuições até ao ponto do retirar a palavra aos representantes de grandes nações, que haviam tido a deferencia de annuir ao convite recebido, para entre si concertarem a solução de um difficil problema do politica internacional.

Estes e outros factos que deram em resultado a approximação da França, e de Allemanha, augmentando a irritação da primeira, contra a Inglaterra, explicam bem, a meu ver, como o tratado do Zaire mal visto na Europa desde que fôra conhecido, nos deu cada vez mais a apparencia infeliz de um elemento obstruccionista, de que a nossa antiga alliada lançára mão para mais seguramente afastar a concorrencia commercial e politica das outras nações.

E tenho para mim, que nem sempre fôra esta a disposição a nosso respeito, e vou citar um dos muitos factos que para isso me fundo. O grande interesse pelas cousas de Africa tem feito com que até simples jornaes, como a Gazeta de Colonia, a que ha pouco alludi, enviassem ás duas costas, pagos á sua custa, alguns dos seus mais notaveis correspondentes.

Foi um d'esses correspondentes que percorreu successivamente, e descreveu com fidelidade e minucia o que viu nos nossos estabelecimentos da costa oriental começando em Lourenço Marques, e proseguindo em Inhambane, Quilimane, Moçambique, Ibo e Cabo Delgado.

O seu trabalho mereceria por todos os titulos ser traduzido e conhecido em Portugal.

Tenho presente o primeiro artigo da serie a que mo refiro, e elle não póde ser-nos a todos os respeitos mais favoravel.

Depois de se referir ao contrasto que offerecem em geral as viagens, e que constituem o seu melhor attractivo, allude o articulista ao que em especial lhe era dado gosar n'esta viagem, contraposição dos dominios coloniaes inglez e portuguez, e acrescentava logo:

«Tornou-se hoie moda, por virtude das suspeitas o accusações contra Portugal, a proposito do tratado do Congo, ou ainda por virtude de um echo pouco espirituoso das objurgatorias de Stanley, ilhas do desgosto d'este ao prever a infallivel aniquilação da especulação denominada Associação africana, representar Portugal como absolutamente incapaz de administrar as suas colonias. Embora os inglezes só fallem, encolhendo os hombros e com desprezo, das colonias portuguezas, comparadas com as suas e ainda com as de outras potencias europêas, pediria eu, comtudo, ao leitor imparcial que considere em que diversidade de condições a Inglaterra e Portugal têem de administrar as suas colonias.

«Que ao lado de Bombaim Goa pareça um cemiterio é facto do si bem comprehensivel, tal é tambem o contraste entre Pondichery e Madrasta. Que Macau não possa concorrer com Hongo-Kong, mais bem situado, é tambem isso resultado das condições geograohicas o não culpa de Portugal.

«Compare-se, porém, na mesma ilha de Timor a colonia portugueza de Dilly, com a colonia hollandeza de Koepang.

«Onde está ahi essa differença tão fallada entre os fructos da colonisação chamada germanica e da latina?»
Mais adiante, referindo-se á accusação do que Portugal enche as suas colonias de criminosos e auctoridades com maus procedentes, escreve o articulista:

«Do encontro a isso posso affirmar que uma grande parte das auctoridades portuguezas são chamadas para as colonias pelo attractivo de elevados ordenados e da promoção. Trata-se n'este caso de pessoas absolutamente irreprehensiveis.»
Continuando affirmava que a segurança publica nas colonias africanas portuguezas é completa, nem mesmo se torna necessario tomar ali as usuaes precauções indispensaveis em todas as cidades da Europa para defeza da propriedade. Queixas analogas ás que na Australia se formulam contra os excessos praticados pelos degredados francezes na Nova Caledonia, são ali absolutamente desconhecidas.

«Escravatura e trafico» dizia, em seguida «eis outro e forte capitulo do accusação. É certo que uma e outro deram origem aos maiores horrores, e foram a base de fortunas colossaes em outros tempos, mas quem comprava então os escravos, quem empregava essa materia prima humana? Nem só os hespanhoes em Cuba e os portuguezes no Brazil, mas a par d'elles os inglezes nas suas possessões das Indias occidentaes e mais que todos os americanos. E não tomavam os inglezes tambem parte no negocio? Bastará para o reconhecer a leitura dos relatorios dos consules inglezes, e commandantes das esquadras na Africa, dos annos de 1850 e 1860, e ver-se-ha então quantas firmas inglezas carregavam os seus navios com carvão, com o destino apparente de os mandar pelo Cabo da Boa Especarança para a India. Chegados, porém, á costa oriental ou occidcntal de Africa, atiravam singelamente com o carvão por cima de bordo e recebiam carga de escravos para as Filippinas ou Indias occidentaes.

«O trafico, ou para melhor dizer a exportação de escravos, está hoje, no essencial, terminada. O pouco que existo concentra-se exclusivamente em mãos de regulos negros, ou dos arabes. Ninguem do boa fé poderá agora sustentar que os portuguezes tenham n'esse commercio qualquer parte. Os consumidores d'esta, mercadoria são novamente, se abstrahirmos dos musulmanos de Africa, de Madagascar e dos Comores, os proprietarios inglezes nas Mauricias e os francezes na Réunion.

«Em verdade já hoje se não compram negros, contratam-se como trabalhadores livres; de facto, porém, as duas cousas são equivalentes. E se hoje ha dois paizes, que sob a capa de importação do trabalhadores de côr, por vezes exercem na Micronesia o trafico, com todas as suas excrecencias e horrores, esses paizes são a França e a Inglaterra, graças ás suas colonias.

«A caça systematica de homens pelos inglezes para for-