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8 DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

não quer deixar sem reparo e que talvez seja ignorada do Sr. Vargas.

Refere-se ao exame fora do prazo legal que, segundo a reforma, só pode ser auctorizado pelo Sr. Director Geral de instrucção publica, segundo o § unico do artigo 32.° Éxtraordinario!

Evidentemente ha ali uma errata, mas o que isto prova é que o Sr. Director Geral está tanto no pensamento do Governo, que, mesmo sem querer, lhe escreveu o nome.

O orador, depois de occupar-se da parte doutrinaria da reforma, expondo as razões por que, no seu entender, ella não tem valor algum, entra na parte financeira, e diz que se quisesse collocar o Sr. Ministro das Obras Publicas em dificuldades, perguntar-lhe-hia apenas se sim ou não fôra angmentada a despesa com esta reforma.

O Sr. Ministro das Obras Publicas (Manuel Francisco de Vargas): - Adverte que todos os augmentos de despesa ficaram dependentes de auctorização parlamentar.

O Orador: - Agradece a resposta do Sr. Ministro, mas deve dizer que alem das verbas que ficam dependentes da sancção parlamentar, ha outras que se pagam já e que não constam das anteriores organizações.

Nestas condições estão o augmento do numero de empregados, a criação de oito disciplinas no quadro 3.° do ensino, a faculdade de nomear professores definitivos os professores auxiliares e os decuriões que tenham oito annos de serviço e ainda outros.

Mas ainda que a resposta do S. Exa. abrangesse tudo, de duas uma: ou a verba é approvada no orçamento ou não é: se é, resulta despesa das reformas decretadas; se não é, escreveu-se uma inutilidade.

Mas ha mais e melhor.

No § 2.° do artigo 3.° fala-se em continuar o ensino de noções de hygiene industrial nas escolas onde haja professores idoneos, de modo que a conclusão a tirar é que se escolhem cadeiras para os idoneos e não idoneos para a regencia das cadeiras.

Já o anno passado teve occasião de mostrar que os idoneos pertencem á familia dos roedores e o que estes hão de roer e roem já consta do artigo 22.°

Condemna tambem o orador o artigo 19.° que trata da perda de meia gratificação de exercicio, quando os professores das escolas industriaes e profissionaes tenham impedimento legal, e depois de algumas considerações sobre este ponto diz que, sem ter ido mais longe do que devia, crê ter conseguido demonstrar, e de modo que ninguem pode contestar, que as despesas foram augmentadas, e que, portanto, foram excedidas as auctorizações parlamentares.

Era seu intento apreciar agora, num rapido esboço, o desenvolvimento que tem tido em outros países o ensino profissional; mas está cansado e não quer cansar a Camara; vae, portanto, reduzir o que tem a dizer.

O Sr. João Arroyo, não podendo defender o Governo do abuso das autorizações e dos esbanjamentos por elle commettidos, recorreu á sua imaginação de meridional, e em palavras vivas e brilhantes descreveu um quadro phantastico, em que as cousas e pessoas se moviam, repetindo sempre o refrain ironico: como for conveniente.

Quis S. Exa. desfazer assim no espirito dos seus amigos, sob uma impressão alegre do seu espirito finamente facetado, a impressão cansada pela nobre declaração do Sr. Beirão, illustre leader da minoria progressista.

A elle, orador, falta-lhe a imaginação artistica do Sr. Arroyo; vae todavia esboçar um quadro, cujos delineamentos foram sonhados sob a impressão da primeira tela de S. Exa., e que, se é menos phantasiosa e tem menos colorido, é todavia mais suggestiva e mais verdadeira.

O Sr. Presidente: - Adverte o orador de que decorreu a hora regimental, restando-lhe apenas um quarto de hora para concluir o seu discurso.

O Orador: - Agradece a advertencia e esboça em seguida um quadro, figurando um lauto banquete a que concorrem os animaes de todas as especies.

O Sr. Presidente do Conselho, o amphitryão, compenetrado de que o orgão indispensavel á vida é o estomago, apenas nota os primeiros symptomas de rebellião contra a sua chefia, apressa-se a estender a comprida toalha das auctorizações, e tão habilmente anda, que os dissidentes foram os primeiros a ajudá-lo e só depois d'isso os excluiu do festim.

Começa depois a exhibição dos succulentos manjares e dos vinhos preciosos e estonteantes, e a cada conviva é repetido constantemente o refrain - comei.

Mas a meio do banquete e quando os convivas mais despreoccupadamente regalavam o estomago, apparece a declaração do Sr. Beirão como o Mané, Thésel, Pharés, do festim de Balthazar, e o amphitryão, horrorizado, recorre a um dos seus mágicos, que lhe repete tambem - comei.

Comei, diz tambem elle, orador, comei, até que o povo acorde num esforço de insoffrida justiça e traduza na pratica a legenda fatal.

(O discurso será publicado na integra quando S. Exa. restituir as notas tachygraphicas).

O Sr. Eduardo Villaça: - Peço a palavra para um negocio urgente antes de se encerrar a sessão.

O Sr. Rodrigues Monteiro: - Começa notando que sendo constante, através dos tempos, a orientação do progresso e transformação, como realização de um ideal supremo, das sciencias e artes, ha todavia, uma sciencia, ou antes uma arte, rebelde a todos os progressos, e a todas as transformações: é a arte de fazer opposição.

Quem consulta os annaes parlamentares, para confrontar os acontecimentos passados com os da actualidade, pasma da extraordinaria semelhança, da rigorosa identidade dos phenomenos que caracterizam a psychologia dos agrupamentos parlamentares: modifica-se a forma, altera-se a linguagem, mas as accusações giram e movem-se em roda do mesmo eixo.

Não pôde o Sr. Rodrigues Nogueira, apesar do seu espirito profundamente illustrado, fugir a esta regra, subtrahir-se á lei geral.

Com um punhado de argumentos verdadeiramente anemicos e enfesados, S. Exa. vestiu-os de tão formosas galas, que ao espirito d'elle, orador, se figurou ver um exercito numeroso e tão forte e aguerrido, que chegou a temer pela obra do Governo.

Felizmente, porem, a oração de S. Exa. passou pela Camara, deixando apenas um rasto de luz brilhante e intensa, mas que se desfez por completo, como um aerolitho ao percorrer no espaço a sua trajectoria.

Entra o orador no exame dos pontos a discutir relativamente ao assumpto que se debate, e diz que se é certo que o Sr. Alpoim quis mostrar que as alineas da lei das auctorizações tinham sido absolutamente excedidas pelo Governo, chegando até ao ponto de propor a nomeação de uma commissão que apreciasse as reformas resultantes d'essas auctorizações, é tambem evidente que depois do discurso do Sr. Presidente do Conselho e da sua formal declaração de que o Governo se tinha mantido sempre dentro dos termos da lei, a batalha estava ganha, o affirmava-se mais ainda, se é possivel, a absoluta confiança que ao país merecem as qualidades dirigentes do illustre chefe do partido regenerador.

Como, porem, nas pugnas parlamentares se dá o inverso do que succede nas batalhas campaes, elle, orador, vê-se na necessidade de vir á estacada, onde foi chamado por um novo ataque da opposição, para defender a reforma feita pelo Sr. Ministro das Obras Publicas.

Sente não poder, por insufficiencia sua, produzir uma defesa brilhante, mas como soldado simples o convicto cumpre o seu dever, erguendo a sua voz, embora debil, em