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4 DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

frequentam aquella costa, acha-se hoje transformado num porto de primeira ordem.

Venhamos, agora, Sr. Presidente, á nossa colonia de Moçambique.

O porto de Lourenço Marques, que é, por suas condições naturaes, por sua posição geographica, em relação ao Transvaal, e pela suave orographia, que lhe permitte grande facilidade de communicações com a região do ouro, o melhor de todos os mencionados, não deixa, comtudo, de ter alguns defeitos, que uma administração de larga envergadura de ha muito teria efficazmente removido.

A bacia do porto de Lourenço Marques é excellente, na verdade, pela sua amplidão, mas não assim o canal que lhe dá accesso, pela sua profundidade. Não entram no porto, por motivo deste inconveniente, em qualquer maré, navios de 12:000 toneladas, se bem que se espere que a difficuldade desappareça, logo que esteja concluida a dragagem do canal da Polana, a que ao presente se está procedendo.

Bem verdade é que o Sr. general Gorjão, quando governador geral da provincia, querendo acompanhar os tempos e o desenvolvimento do commercio, procurou muito louvavel e inteligentemente remediar a falta dos aperfeiçoamentos artificiaes deste excellente porto, mandando iniciar a construcção de um cães acostavel, com guindastes, armazens, e outros accessorios, facilitando assim a atracação dos paquetes, chegando até á borda destes os comboios que levam passageiros do Transvaal, e de igual modo recebem os que os mesmos paquetes transportam para aquelle país.

Grande melhoramento foi este, por certo; mas como a principal das suas condições era a rapidez na execução, foi este caes acostavel construido de madeira, que o governador importou da Australia. Ora, esta madeira está hoje minada por vermes que compromettem a estabilidade da construcção, e hão de acabar por dar cabo d'ella. Precisa pois o provisorio caes acostavel ser substituido por uma forte muralha de alvenaria do cimento, que permitta tornar a obra duradoura e aproveitavel por muitos annos.

Durante o tempo em que fui Ministro, a minha preoccupacão constante era dar ao porto de Lourenço Marques os meios de lutar com vantagem e proficuidade com os portos das colonias vizinhas. Todo o meu empenho estava em que não fosse facil allegar-se que, não podendo nos receber a qualquer hora, se ia em busca de outros portos. Por isso, não me limitando a autorizar os trabalhos de consolidação do cães acostavel e aperfeiçoamento do porto, autorizei igualmente a acquisição das machinas necessarias áquelles dois fins, sendo uma d'ellas uma poderosa draga, que custou cem contos de réis.

Installada que foi, mandei que se pusesse imediatamente a funccionar, e esse trabalho tem continuado de modo tão satisfatorio, que se extrahem diariamente do fundo do canal cerca de mil toneladas de lodo.

Se as cousas continuarem como vão actualmente, e não sobrevindo qualquer inesperado contratempo, a dragagem do canal da Polana não será, decerto, um dos menos consideraveis melhoramentos do amplo porto de Lourenço Marques.

Tudo isto, entretanto, faz com que as colonias rivaes, animadas de uma bem coraprehensivel emulação,- procurem disputar o commercio de Lourenço Marques, não sendo menor o empenho dos estadistas d'aquelles países em diligenciar concluir convenções que assegurem a seus respectivos portos a prosperidade que o nosso os vae ameaçando de vir a arrebatar-lhes.

E o Transvaal, como se sabe, Sr. Presidente, país riquissimo por suas minas de ouro, pois que a região do Rand, que produz uma incalculavel quantidade d'esse metal, mostra quê, se não são inexgotaveis aquellas minas, são, ao menos, de longa e dilatada duração.

Por isso, este facto despertou a attenção dos estadistas ingleses do Cabo e do Natal, que procuraram derivar para os seus portos aquella especie de commercio, combatendo, pelos beneficios que offereciam os seus caminhos de ferro, as facilidades naturaes que o nosso porto possue e, sobretudo, a sua muito menor distancia dos explorados jazigos aureos.

Quando o Sr. general Gorjão foi governador da provincia de Moçambique, teve a fortuna de celebrar com o Governo do Transvaal um modus vivendi, muito bem recebido por ingleses e portugueses.

A Lord Milner se deve certo numero de condições muito favoraveis para a boa execução d'este convenio, e assim foi que elle satisfez a todos, permanecendo excellentemente em vigor, durante oito annos.

No entanto, as cousas vão-se aperfeiçoando gradualmente; tal tratado que hoje é bom, daqui a alguns annos pode precisar de muito profundas alterações. Ora, foi isso o que succedeu ao modus vivendi de 1901, como vou explicar.

Antes de mais nada, porem, Sr. Presidente, preciso af-firmar a V. Exa. e á Camara que não sou politico, nem o fui, e cada vez menos o quero ser.
Não sou Deputado governamental, assim como não sou tambem Deputado, systematicamente opposicionista. Tenho o meu discernimento pessoal, que me faz estudar os assuntos tão bem quanto a minha apoucada intelligencia o permitte, e, por conseguinte, voto como entendo e como creio conveniente aos interesses do país. São estes, com effeito, os que aqui me trazem, e me guiam em todos os pontos.

Não sou politico, repito, mas já sou Deputado antigo. Desde 1882, Sr. Presidente, que me sento nestas cadeiras, não consecutivamente, porque seria isso incompativel com as muitas commissões que tenho desempenhado no ultramar, mas durante varias vezes, e, em algumas d'ellas, vencendo, como Deputado independente, os candidatos recommendados pelo Governo, em lutas bastante renhidas. Duas vezes fui eleito pela provincia de Moçambique, vencendo, de cada uma d'ellas, o candidato governamental, fortemente patrocinado por governadores geraes novos, cheios de força e de prestigio.

Isto quer dizer, Sr. Presidente, que tenho tido, e tenho ainda agora, amigos naquella provincia.

Digo - tenho tido, e tenho ainda agora -, porque nas regiões inhospitas a que me estou referindo, a vida não é extensa, e os homens são a miude substituidos por outros homens. só a tradição resiste, felizmente, á morte, e a tradição pá provincia de Moçambique, Sr. Presidente, representa-me, a respeito d'ella, como me orgulho e orgulharei sempre de ser: - amigo dedicado e saudoso; amigo agradecido, em cujo peito não pode caber a mais leve intenção de prejudicar a terra que ha já quarenta e oito annos conheci; aquella terra que governei, nas circunstancias delicadas que de todos são conhecidas!

Ninguem, Sr. Presidente, tem o direito de suppor que eu fosse, sem mais reflexão, nem exame, autorizar ou mandar fazer uma convenção, interessando qualquer ponto da provincia de Moçambique, para ella desvantajosa. Parece-me que todos fazem justiça ao meu caracter, e que, portanto, me terão por incapaz de patrocinar, favorecer, ou inspirar uma convenção desfavoravel aos interesses de Portugal, e á provincia ultramarina que é objecto destas explicações.

E aqui está, Sr. Presidente, porque eu affirmei não ser politico. Um dos principaes motivos por que o não sou, com effeito, está na minha pouca ou nenhuma conformidade com certas praxes de que a politica exige a mantença; está no pouco respeito que mo inspiram certas formulas politicas, talvez porque as não comprehendo. Entretanto, estou aqui no cumprimento de um dever, e obedecer-lhe-hei até o fim; podem os meus eleitores ter d'isso a certeza.