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DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

já menor depois que o projecto definitivo do caminho de ferro da Beira Alta diminuiu n'elle 44 kilometros.

Estas cifras que apresentei com as quaes tenho estado a cansar a attenção da camara, parece-me que são exactas porque são copiadas de documentos inespeitos e que tenho aqui para comprovar, sendo necessario, tudo quanto tenho avançado.

Estudando agora os dois caminhos de ferro debaixo do ponto de vista da sua construcção, o que temos nós? Fizeram-se tres ante-projectos e um projecto deffinitivo para o caminho de ferro da Beira Alta; estudou-se quanto se podia estudar esse caminho de ferro. Qual foi o resultado? Dos tres engenheiros que fizeram os ante-projectos o sr. Sousa Brandão descreveu os declives e raios de curvas seguintes.

(Leu.)

O sr. Combelles fez as seguintes indicações de traçado.

(Leu.)

O sr. Boaventura obteve os resultados seguintes.

(Leu.)

O proprio sr. Lourenço de Carvalho, tratando d'este assumpto e defendendo brilhantemente o caminho de ferro da Beira Baixa contra o da Beira Alta, declarou que se fosse convidado, como engenheiro, pelo governo, a fazer esta ultima com rampas de 10 millimetros e curva de 500 metros, isto é, isto nas condições legaes em que elle deve ser construido, se recusaria.

E notavel! Sr. presidente, o sr. Lourenço de Carvalho, esclarecidissimo engenheiro, não queria fazer a obra pelas difficuldades insuperaveis que se lhe antolhavam. O sr. Lourenço de Carvalho, ministro, acha a obra facil e corrente, e manda-a fazer... pelos outros! (Riso.)

Finalmente o traçado do sr. Almeida de Eça, que é um projecto muito bem feito, um trabalho importantissimo que se auxiliou dos tres anteprojectos referidos, chega apenas aos seguintes resultados.

(Leu.)

Já vê v. ex.ª, sr. presidente, que no projecto definitivo approvado pelo governo ha rampas e declives frequentissimos, não raro enormes traineis, entre 10 e 16 millimetros; e não menos de cento e duas curvas com menos de 500 metros de raio e descendo até 360 metros das quaes 56; condições estas muito inferiores ás das linhas de norte e leste, e incompativeis com a velocidade que exigem os expressos que percorrem os grandes caminhos de ferro.

Ao passo que isto acontece com a linha ferroa da Beira Alta, os estudos feitos para a linha ferrea da Beira Baixa dão rampas e declives nunca superiores a 10 millimetros, e que poucas vezes excedem 7 millimetros; e raios de curvas não inferiores a 500 metros, isto é, as condições que a legislação patria e as leis estrangeiras estabelecem e exigem para as vias de primeira ordem.

Sr. presidente, considerando, quer debaixo do ponto de vista das distancias, quer debaixo do ponto de vista dos traçados, as linhas ferreas da Beira Baixa e da Beira Alta, parece que é evidente, para quem não está obsecado por considerações muito respeitaveis, mas alheias á verdade, que é impossivel sustentar que a segunda é mais importante que a primeira, e negar que pelo menos são iguaes.

Acabei com a parte mais arida da minha demonstração, que é a parte technica.

Este assumpto é sempre mais ou menos ingrato, mesmo tratado pelas pessoas competentes, e muito mais o é de certo sendo tratado pelos profanos como eu.

Portanto peço á camara que me desculpe, pedindo a v. ex.ª que me reserve a palavra para a sessão seguinte; e então tratarei a questão sob aspectos mais gratos, e que me parece estarem mais ao alcance de todos nós.

O sr. Sousa Lobo: — Na sessão passada procurei tratar a questão dos caminhos de ferro debaixo do ponto de vista technico, e apresentei sob esse aspecto o que me pareceu conveniente para mostrar a superioridade do caminho de ferro da Beira Baixa sobre o da Beira Alta. O caminho de ferro da Beira Baixa tem grande superioridade sobre o da Beira Alta, indo pela transversal de Merida a Samora, de que fallei na sessão passada, pois encurta 30 kilometros no percurso até París.

E n'esta occasião permitta-me v. ex.ª que eu resumidamente exponha o que disse em tempo, para provar a necessidade que o governo hespanhol tem de construir a transversal já por elle estudada e decretada.

A linha de Merida a Samora não é uma d'estas linhas eventuaes que se podem fazer, ou deixar de fazer, e uma linha essencialissima; porque faz parte da grande linha que tem de atravessar a Hespanha de norte a sul, e, portanto ligar todas as suas linhas que se dirigem para o occidente. Esta linha concebida pelo governo hespanhol, para realisar um pensamento economico, como é o de ligar as grandes vias indicadas, junta a esta vantagem o ser de um alcance estrategico de primeira ordem, porque um dos fins d'ella é a facilitação de grandes movimentos de tropas em todo o percurso da fronteira portugueza.

Já vê, portanto, a camara, que este caminho de ferro que já está decretado e completamente estudado, não póde deixar de ser construido.

Ha uma outra linha para construir em Hespanha, a que tambem me referi na passada sessão, e que, construida, estabelece a favor do caminho de ferro da Beira Baixa e contra o da Beira Alta um encurtamento, entre Lisboa e París, de 13 kilometros.

A Hespanha está rectificando todos os dias as suas vias ferreas, está procurando, á custa de grandes sacrificios pecuniarios, reduzir as distancias entre os pontos que por ellas se communicam.

A linha de Malpartida, destinada a, ligando-se com a do Valle do Tejo, pôr em communicação rapida as capitães dos dois povos da peninsula, que já se acham ligadas por uma via ferrea mais extensa; essa linha, que está quasi construida até á fronteira de Portugal, e que, para se concluir, apenas aguarda que o governo portuguez cumpra o seu dever, é, alem de outras, um exemplo dos grandes e dispendiosos esforços empregados pela Hespanha para o encurtamento dos seus caminhos de ferro.

Ora, quando a Hespanha procede d'este modo, só para estabelecer maior approximaçâo entre Madrid e Lisboa, o que não fará para estabelecer a distancia mais curta entre Madrid e París, que é das cidades estrangeiras a com que precisa estar em mais frequentes e faceis relações?

Para chegar a obter um encurtamento consideravel na linha de Madrid a París, mandou o governo hespanhol estudar uma transversal entre Baides e Castejon por Soria; mas como este traçado não lhe desse, apesar de encurtar muito, todo o resultado que se desejava, mandou proceder a novos estudos. Estes produziram o pretendido fim, e a final assentou-se n'um traçado ainda mais curto, que vae do mesmo modo de Baides a Castejon, mas por Almanza.

É esta transversal, de cuja construcção não é licito duvidar, pois a ella estão ligados os mais caros interesses de Hespanha, que assegurará ao caminho de ferro da Beira Baixa, mesmo seguindo por Madrid para París, uma diminuição de percurso sobre o da Beira Alta, de 13 kilometros.

Já se vê, pois, que, quer por esta directriz, quer pela transversal de Merida a Samora, a linha ferrea da Beira Baixa é mais curta como linha internacional do que a da Beira Alta, no primeiro caso 13 e no segundo 30 kilometros.

Mas se ha receio de que as transversaes indicadas, apesar das muitas e ponderosissimas rasões que ordenam e impõem a sua construcção, não sejam construidas; o que não diremos da linha tambem a construir em Hespanha de Salamanca á nossa fronteira na Beira Alta, e, sem a qual, a