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DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

retear a accusação, esses homens ainda estão de pé. (Apoiados. — Vozes: — Muito bem.)

Arredemos portanto com todo o cuidado tudo o que sejam questões pessoaes, não vejamos os nomes proprios, vejamos as questões.

E não quero repetir aqui o que se dia na praça publica; na praça publica dizem-se muitas vezes cousas que a dignidade parlamentar me permitte que se repitam aqui. E irregular e muito para notar o modo porque os illustres deputados se desempenham do papel de defensores parlamentares.

Parece que já não se lembram ou então que querem esquecer os muitos e valiosos favores que devem ao sr. marquez d'Avila, que injuriam Agora e folgam até de alija-lo da nave governamental.

Oh senhores deputados! Sede mais modestos na vossa furia ministerial, e não trateis com tanto desplante o estadista com cujo apoio, se não de cujo apoio, tem vivido largos annos o governo, (Apoiados.) Nem tanta ingratidão. A historia ahi está patente; na memoria de todos estão os factos, e as votações exaradas nas actas mostram que se não fosse o concurso do sr. marquez d'Avila, ha muito que o governo houvera baqueado. (Apoiados.)

E pessimo serviço (posto que applaudido e festejado pelo proprio sr. presidente do conselho, segundo acabamos de ver); e pessimo serviço, repito, prestam ao governo os srs. deputados que doestam e aggravam o sr. marquez d'Avila. Parece que s. ex.ªs de tal maneira se deixam inebriar pelos fumos do triumpho, parece que contam com uma Victoria tão esplendida e frisante, que até sentem dentro em si o desejo de aggredir o governo! Pois o que é isto senão uma aggressão? (Apoiados.)

Singular feição de caracter dos illustres deputados da maioria, e em especial da geração nova, tão brilhantemente representada pelo sr. Manuel de Assumpção e pelo sr. Marçal Pacheco, que já nem acceitam o contacto do sr. marquez d'Avila e recebem por isso os applausos do ministerio. (Muitos apoiados.)

(Interrupção do sr. Manuel de Assumpção, que se não ouviu.)

O sr. Marçal Pacheco: — Eu referi-me ao que se diz lá fóra, auctorisado pelo exemplo de um velho parlamentar, o sr. José Luciano.

O Orador: — Oh sr. presidente! V. ex.ª não permitte as interrupções, e eu desejo-as. (Apoiados.) Acho muito natural vir cada qual em defeza das suas palavras e tambem das suas idéas, que me parece que todos as devemos ter sobre este assumpto. Eu não ouvi essa parte do discurso do sr. José Luciano a que se refere o illustre deputado; podia ser muito bem que o sr. José Luciano trouxesse para o parlamento o que ouvira lá fóra. Mas eu não estou convertido agora em censor do sr. Luciano de Castro, e alem d'isso se este velho parlamentar o fez, havia de faze-lo em phrase melhor e mais levantada. (Apoiados.)

Mas o que é certo é que o sr. Luciano de Castro querendo aggredir o governo, como era natural} e como era seu dever, não podia nunca vir ao parlamento levantar accusações taes que fossem compromettimento para si e para a sua causa, que foi o que fizeram o sr. Manuel de Assumpção e o sr. Marçal Pacheco, porque um e outro foram censores cruéis do governo. (Apoiados.)

Foi sem querer, dir-se-ha. Muito bem. Mas o que d'ahi se conclue, é que os illustres deputados fazem muitas vezes o que não querem. (Riso. — Apoiados.) Pois se elles são tão jovens! (Hilaridade.)

Dada esta singela explicação da tendencia fatal que ha por parte de alguns deputados da maioria de transformar n'uma questão pessoal uma questão que deve ser simplesmente dos interesses da civilisação, dos interesses geraes do estado, terreno em que eu protesto não os acompanhar, vou substanciar em brevissimas phrases o que se me offerece dizer.

Sr. presidente, não fallo da legalidade com que o governo fez esta concessão. Sou muito generoso, o acceito que o governo fazendo esta concessão estava nos limites estrictos da legalidade.

Repito, faço todas as concessões possiveis ao governo; mas pergunto, ainda mesmo que a concessão fosse legal, o governo devia fazel-a?

Não, mil vezes não, porque importa grave prejuizo para o estado e offensa não menos grave ao pudor publico, altamente indignado. (Apoiados.)

O governo ainda mesmo que respeitasse a lei não devia fazer a concessão.

Esta é a verdade, que ficou bem provada e contra a qual nada se disse, a começar pelo sr. ministro das obras publicas.

Sr. presidente, a materia está perfeitamente elucidada e debatida. A argumentação em favor do meu asserto foi feita pelos srs. deputados da opposição que já me precederam e principalmente pelo sr. Mariano de Carvalho.

Architectem quantos sophismas quizerem, e n'este ponto devo dizer que será difficil achar quem melhor o saiba fazer do que o Sr. ministro da justiça. S. ex.ª com aquella lhaneza de phrase e argúcia de argumentação que o caracterisa, s. ex.ª teve artes de provar manuseando e cotejando as diversas leis, que a concessão foi feita legalmente. Eu tenho uma grande tendencia para admirar e respeitar o illustre ministro, mas não é em virtude dos seus argumentos sophisticos que eu não protesto contra a legalidade. Os motivos para mim são que a legalidade, apesar de muito importante, perdese no immenso prejuizo que adversa ao thesouro. (Apoiados.)

O governo foi portanto muito legal e respeitou a lei. Seja. Concedo. Ainda assim, não devia fazer a concessão, porque, diga-se o que se disser, o que é certo é que o ramal do Pinhal Novo é a testa futura do caminho de ferro de sueste, quaesquer que sejam os sophismas com que os illustres deputados pretendam desvirtuar a questão. (Apoiados.)

Vou apresentar uma imagem, que representa perfeitamente, creio, o que é esta concessão monstruosa. O caminho de ferro é uma arteria por onde se engolfa uma poderosa corrente de sangue.

Imaginemos agora que no extremo d'esta arteria se colloca uma sanguesuga sempre sedenta. Imaginemos que foi o governo quem lhe applicou os labios dizendo á sanguesuga — farta-te.

Pois é isto a concessão.

A arteria é o caminho de ferro do sul e a sanguesuga é o ramal do Pinhal Novo. Esta arteria custou muitos annos de trabalhos, muito suor do povo, muito sacrificio e muitos capitães. E quando acreditávamos que por ella o sangue corria a flux, para enriquecer e regenerar o organismo do paiz, eis que o governo lhe applica a sanguesuga na extremidade, a sanguesuga que nunca se farta, a sanguesuga que já agora não larga o repasto saboroso! O paiz todo trabalha e trata de alimentar aquella arteria com o transporte dos productos que são o fructo do commercio, da agricultura e de todas as forças fecundadas pelo trabalho e a sanguesuga vae vivendo a vida mais commoda possivel, vae engordando, e, parasita insaciável, aproveita o que é de todos. (Muitos apoiados. — Vozes: — Muito bem.)

Unia voz: — -É isto mesmo.

O Orador: — Tem rasão o illustre deputado.

E exactamente o que é o caminho de ferro do sul e o ramal do Pinhal Novo.

Eu já disse a V. ex.ª que não quero cansar a attenção da assembléa e nada tenho a dizer de novo alem do que ha sido dito muito melhor do que eu poderia faze-lo. Mas eu sou tambem engenheiro, posto que sem auctoridade alguma. Em todo o caso é possivel que as minhas palavras não sejam inteiramente inuteis n'esta questão, apesar do debate ir já em grande altura.

Sessão de 12 de fevereiro