APPENDICE Á SESSÃO N.º 23 DE 28 DE FEVEREIRO DE 1898 384-K
n´esta camara e na imprensa do seu partido ? Querem lançar o paiz na revolução, incitando o povo a que se insubordine e lucte e guerreie este projecto até correr sangue? Querem tumultos, desordens, coleras e vinganças, que mal se póde calcular até aonde nos levariam? (Apoiados.)
Não querem? Não é isso?! Mas então o que pretendem? É o poder? Querem o poder? Querem ser governo? Mas se o deixaram vergonhosamente abandonado haverá apenas um anno, e como ? (Apoiados.)
Deixaram-no n´uma situação extraordinaria excepcional, como outra nunca existiu desde que entre nós ha systema constitucional! Abandonaram-no, deitaram-se abaixo sem opposição parlamentar, que não tinham, sem guerra violenta que os empurrasse como mereciam, sem lucta a vencer porque ninguem lhe disputava, governando como queriam, sós, com os seus processos, com a sua vontade, com as suas arbitrariedades, a que ninguem queria associar-se, pelo caminho errado que tinham seguido! (Apoiados) Caíram, porque não poderam sustentar-se mais, tendo recorrido a toda a casta de expedientes para não deixar o governo, no fim de quatro annos de pessima administração, de repetidos erros, de completa inconsciencia da situação, legando a pesada herança que se tem visto! (Apoiados.) Deitaram-se abaixo quando quizeram, cairam porque a força das circumstancias os esmagava, porque já não podiam nem sabiam como viver, como aguentar-se! (Apoiados.) Caíram corridos abandonados, da opinião publica, convencidos da sua incompetencia, da nullidade dos seus esforços para se sustentar !
Porque é que o governo regenerador não continuou no poder? Porque não poude? Porque não quiz? Porque não soube?
Uma voz: - Não soube.
O Orador: - Não soube, não; não poude! Querer, queria elle ainda e tentou resistir até á ultima! Mas não os desgostemos mais, que bem lhes basta a triste mágoa que tiveram os ministros e os seus acolytos em deixar aquellas cadeiras, por que tão sentidamente já choram, coitados,.. (Riso.)
Sem opposição na camara, nem lá fóra, usando e abusando da indifferença, se não do desprezo publico, tinham os regeneradores governado á vontade e á larga como queriam e entendiam durante um longo periodo.
O tantas vezes recomposto e já gasto ministerio, que não tinha opposição violenta lá fóra nem aqui dentro, tinha de andar, no parlamento a mendigar, a pedir com empenho aos seus proprios correligionarios, que fingissem de opposição, que o atacassem, que assim o auxiliavam e ajudavam a viver! Lá fóra era o que se via, aqui dentro era peior, uma triste comedia mal representada que em vez de indignar enojava! (Apoiados.)
Pois bem; foi a colera popular, a indignação publica, a voz da justiça, a violencia de uma opposição apaixonada, quem expulsou d´aquellas cadeiras o governo e o partido regenerador? Foi a opposição progressista que conquistou á força de rasão e como de direito aquelles logares que hoje occupa?... Não foi! Nenhum d´esses dois factos se deu! Caíram condemnados pelo desprezo da opinião! Caíram obrigados pela sua fraqueza, sem já poderem offerecer a minima resistencia! Caíram... como os cogumellos no outono, apodrecidos, já sem força para poderem sustentar-se! ... (Riso.) Mas já lhes parece que é tempo de voltarem ao poder! Um anno afigura-se-lhes um seculo!.
Mina-os cruelmente a nostalgia do mando, dos conselhos da corôa. É a saudade que os flagella-o delicioso pungir de acerbo espinho - de que fallou o grande Garrett, aguilhoa-os em manifestações turbulentas de irritação, de desejos insoffridos do poder, de despeites e ambições mal reprimidas, apesar de declararem muito solemnemente que não o querem! Mas se assim é, como se desculpa a guerra acintosa, violenta, inexplicavel, que fazem ao governo? Como se justifica o que estão fazendo n´esta casa e n´esta discussão ?! Os seus actos, as suas acções, a sua attitude incorrecta e faccioso, não estão em harmonia com as suas palavras, com as suas declarações, que, pelo que se vê, não parecem ser sinceras, servindo apenas para occultar as suas intenções reservadas, que a final são bem, transparentes e conhecidas!...
Sejam coherentes, e vejam bem a figura que estão fazendo com tão manifestas contradicções! (Apoiados.)
Mas, vamos a diante. Fallou-se, na ultima sessão na agitação popular que já começa a sentir-se, que o paiz se convulsionará de norte a sul, que vae protestar energicamente e enviar representações fulminantes contra o projecto, contra a camara, e contra o governo; e o meu amigo o sr. Luciano Monteiro, com o brilhante colorido da sua palavra fluente e inflammada, clamou e que o paiz prefere morrer eapingardeado n´essas ruas às balas do exercito, a entregar-se manietado ao estrangeiro!" (Apoiados da qpposição.) Mas quem é que quer entregar o paiz ao estrangeiro ou espingardear o povo?! A quanto leva o exagero da paixão, a intemperança da palavra em orador tão notavel!
As comparações com a Grecia, são disparatadas e mal cabidas! Às circumstancias são muito differentes, felizmente para nós. E é exactamente para não podermos vir a chegar á triste situação da Grecia, que precisâmos de tratar a serio com os nossos credores externos e de cumprir honradamente o que com elles tratarmos, não hesitando em lhes dar garantia das nossas boas intenções e honestidade! (Apoiados.) É por isso, e é para isso que eu estudei e defendo com convicção este projecto da conversão, que estou certo que é um remedio, mau como já disse e como são todos os remedios em casos extremos, mas o unico talvez, que se póde e deve acceitar n´este instante! (Apoiados.) E ainda não vi apresentar ou offerecer outro melhor que o substitua! (Apoiados.)
Se s. exa. é portuguez e quer continuar a sel-o, como diz, tambem eu e todos d´esta camara, sem distincções politicas, creio eu, e somos e queremos ser, amando com nobre orgulho e dedicado afecto a nossa querida patria, por quem faremos os maiores sacrificios! (Apoiados.) Se um partido, um governo, ou um ministro qualquer, ousasse apresentar ao parlamento uma medida, ainda mesmo de salvação publica, em que houvesse alguma cousa de condemnavel, criminoso ou offensivo, para o brio e decoro nacional, que podesse proxima ou remotamente abrir as portas do paiz ao dominio estrangeiro, não haveria absolutamente nada n´este mundo, juro-o, partidarismo ou consideração alguma disciplinar, politica ou pessoal, que me obrigasse a acceital-a, que fizesse com que eu deixasse de a combater energica e violentamente até ao ultimo esforço 1 (Apoiados.) E creio bem que todos nós fariamos o mesmo! Era o nosso dever! (Apoiados.)
Defendo esta que se discute, porque, repito, estou sinceramente convencido que é a unica e a melhor, nem outra ainda apareceu, que se póde apresentar n´este aflictivo e perigoso momento da nossa grave situação! E se não é assim, se estou em erro, convençam-me do contrario, com boas rasões, com argumentos attendiveis e não com heresias juridicas e com declamações inflammadas, que irritam o debate e nada provam! (Apoiados.)
S. exa. diz "que tem familia e haveres que perder, e que nenhuns interesses politicos o movem". Tambem eu! E naturalmente todos os mais que aqui estão! (Apoiados.)
E de interesses politicos, posso dizer bem alto, aqui como em toda a parte: não devo nada ao partido progressista, em que milito desinteressadamente; nunca recebi nem quiz, alguma graça, emprego, ou posição, por amor das quaes o deva defender injustamente! Nem lhe peço nada, nem nada quero, nem espero, para que pretenda merecer a sua gratidão ou remuneração! Estou n´elle e sirvo-o dedicadamente, de graça, e com independencia, porque elle tem idéas que perfilho, no interesse do paiz, um chefe